O leilão da maior reserva do país, que ocorre nesta segunda, promete elevar o papel do Brasil entre os produtores mundiais, mas está também cercado de perigos
Campo de Libra: a maior descoberta já feita no Brasil promete a produção de 1,4 milhão de barris de petróleo por dia
São Paulo - Na próxima segunda-feira, dia 21, vai à leilão a "menina dos olhos" do governo brasileiro, o Campo de Libra. Localizada na Bacia de Santos, a região é a maior descoberta do pré-sal até agora e promete a produção de 1,4 milhão de barris de petróleo por dia, mais da metade do que o país produz atualmente..
Ao mesmo tempo em que as estimativas e promessas atingem números impressionantes, os perigos envolvidos em leiloar a maior descoberta de petróleo já realizada no Brasil através de um modelo inédito no setor preocupam.
Veja a seguir quais são os principais perigos envolvidos do leilão do Campo de Libra:
1 Sobrecarregar a Petrobras
A participação obrigatória da Petrobras
na operação de todos os poços do Campo de Libra pode fazer com que a
empresa deixe de lado outros campos – mesmo aqueles mais vantajosos do
ponto de vista comercial e de produção – por falta recursos para
investimento.
Como a petroleira já está bastante endividada - foi essa a razão para que ela tivesse, no começo do mês, a nota de crédito rebaixada pela Moody's -
e com dificuldades para levantar recursos no mercado internacional, os
investimentos necessários para a exploração do pré-sal podem
sobrecarregar as contas da empresa, cujas dívidas aumentam a cada minuto
com a política do governo de segurar o preço da gasolina.
Alguns especialistas apontam que a gigante Petrobras - e seu
plano mastodôntico de investiomentos de 236 bilhões até 2017 - pode ter
dificuldade para cumprir tudo que é esperado dela, agora com o peso do
pré-sal.
2 Modelo de partilha não dar certo
O Campo de Libra é a maior reserva de petróleo
já encontrada no Brasil e representa uma grande oportunidade não só do
ponto de vista energético, mas também social. Nenhum barril foi
produzido ainda, mas o dinheiro dos royalties já foi prometido para
áreas prioritárias como saúde e educação. Por isso, parece delicado que se tenha escolhido um novo marco regulatório para fazer a licitação desta área.
Ao contrário dos leilões anteriores, o modelo em Libra é o de
partilha de produção, e não concessão. O vencedor será o grupo que
oferecer ao governo a maior fatia de "óleo lucro" – petróleo produzido
depois de pagos os investimentos iniciais feitos pelas empresas - para
vender por conta própria.
O lance mínimo é de 41,65% de participação, mas o governo espera que as ofertas cheguem a 75% ou mais.
O novo modelo é mais atrativo financeiramente para o governo, mas não
para as empresas. O problema é que a alta taxa de participação do Estado
nos lucros, somada a operação obrigatória e exclusiva da Petrobras,
deixou as grandes petrolíferas internacionais receosas com o pré-sal.
3 Baixar o preço do petróleo nacional
O gigantismo de Libra, sem uma estratégia correta, poderia derrubar o preço do petróleo brasileiro no mercado.
“O modelo impõe metas muito altas de extração, o que é ruim não só para
a Petrobras, que pode não ter a capacidade de investimento necessária,
como também para o preço do petróleo brasileiro no mercado
internacional”, afirma a professora Maria Beatriz de Albuquerque David,
da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (UERJ).
Para ela, que considera o modelo predatório do ponto de
vista financeiro, uma exploração do tamanho de Libra demanda uma
estratégia de extração que leve em conta que o petróleo é um recurso não
renovável e que o país precisa regular a sua exploração de acordo com a
demanda e com os preços no mercado.
4 Produção incerta
O setor de petróleo e gás é particularmente sensível quando se
fala em estimativas. O próprio governo adicionou ontem um elemento de
surpresa na equação de Libra ao aumentar sua previsão de produção diária
a apenas quatro dias do leilão.
Originalmente, a ANP afirmava que a previsão de produção era de 1
milhão de barris por dia. Nesta semana, no entanto, a diretora-geral da
ANP, Magda Chambriard, elevou a expectativa para 1,4 milhão de barris por dia em seu pico de produção - o que deve acontecer entre 10 a 15 anos.
De qualquer maneira, Libra é a maior descoberta de petróleo já
realizada no Brasil. Segundo estimativas da ANP, a região possui de 8 a
12 bilhões de barris de petróleo recuperável, dois terços de todas as
reservas brasileiras.
5 Perda de espaço no mercado internacional
O modelo brasileiro de concessão é reconhecido como um dos mais eficientes do mundo. Como mostrado pela revista EXAME, o modelo inspirou outros países da América Latina, como México e Colômbia.
No caso colombiano, o país vizinho passou a fazer leilões regulares em
um modelo parecido com o brasileiro em 2004. Como resultado, em janeiro
deste ano, a estatal colombiana (a Ecopetrol, que também vai disputar
Libra) superou o valor de mercado da Petrobras, que produz três vezes
mais.
Já o México, que está em processo de reforma do setor, mandou
executivos da estatal Pemex ao Brasil para conhecer a regulação, pois
cogitam trocar seu modelo de partilha pela concessão.
“A possibilidade de um modelo mais favorável no México e o risco
político no Brasil pesaram na decisão das operadoras que desistiram de
Libra”, diz o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de
Infraestrutura, à EXAME. “Isso pode tirar investimentos do Brasil e até
fazer o pré-sal valer menos.”
6 Confusão no lelião
O leilão desta segunda-feira deve ser cercado por protestos.
Nesta quinta-feira, funcionários da Petrobras entraram em greve para
protestar contra a realização do leilão. Eles argumentam que o governo
está entregando a "joia da coroa" a "´preço de banana" para as empresas
estrangeiras. Para garantir que o leilão ocorra em segurança, o governo
já enviou tropas do Exército ao Rio de Janeiro.
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