O mundo, que já olhava com desconfiança para os EUA desde os episódios recentes de espionagem contra nações aliadas, passou a ter verdadeiro temor diante da possibilidade real de calote da dívida americana em escala global
por Carlos José Marques
O mundo, que já olhava com desconfiança para
os EUA desde os episódios recentes de espionagem contra nações
aliadas, passou a ter verdadeiro temor diante da possibilidade real de
calote da dívida americana em escala global. Foi somente no último
minuto, por um triz mesmo, que republicanos e democratas chegaram a um
acordo para pôr fim ao impasse. Ainda assim, temporariamente.
A
perplexidade internacional com o embate político que ameaça a incipiente
retomada da economia dos EUA – e, por tabela, do restante dos mercados –
cresce à medida que aumenta o poder de influência da ala conservadora e
radical dos republicanos, o “Tea Party”. Esses pregam o colapso da
administração pública federal enquanto suas reivindicações não forem
atendidas.
Na mesa de discussões, a maior bandeira social (e de
dividendos políticos) de Obama: seu generoso plano de assistência à
saúde. O presidente americano não vai recuar nesse sentido, sob pena de
afundar todo o seu capital eleitoral. O “Tea Party”, de seu lado, não
vai amargar a derrota indefinidamente.
Novo confronto está marcado para o início de 2014 e lá a disputa
pega fogo. Agências de rating já ameaçam rebaixar a nota da dívida
americana. Potências como a China pedem a “desamericanização do mundo”.
Em outras palavras, ganha força a campanha para retirar do dólar o papel
de moeda de referência das finanças internacionais.
Há outras
implicações no contexto dessa briga. E algumas delas afetam diretamente o
Brasil. Depois da própria China e do Japão, cada um com mais de US$ 1
trilhão ancorado em títulos dos EUA, o Brasil é, por assim dizer, o
terceiro maior país credor dos americanos, com mais de US$ 250 bilhões
em créditos investidos ali. Na prática, quase toda a reserva nacional
está depositada naquele pote e imaginar qualquer calote nessa área será
demasiadamente catastrófico.
A eventual irresponsabilidade parlamentar
no Capitólio, pode se prever, travaria a liquidez global de maneira
insuportável. Eis o que está em jogo: um planeta refém economicamente
diante da potência cuja liderança foi posta contra a parede. Talvez nem
nos tempos da Guerra Fria ou da crise dos mísseis de Cuba se imaginou
cenário tão tenebroso como esse. E o pesadelo ainda não acabou.
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