sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Só os diamantes são eternos


Com a saída de grandes estilistas, como Marc Jacobs, da Louis Vuitton, grifes de luxo apostam na tradição de suas marcas para sobreviver no mercado

Por Bruna BORELLI

"Luto". Essa palavra, tão utilizada em coberturas policiais e catastróficas, foi empregada à exaustão nas notícias que anunciavam a saída de Marc Jacobs da Louis Vuitton. De fãs da grife francesa a jornalistas de moda, o pesar dava o tom aos comentários sobre o fim da parceria entre a maison e o estilista americano, que agora passa a cuidar exclusivamente de sua marca homônima. Apesar do tom exagerado à primeira vista, a preocupação com o futuro faz sentido. 

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Para a grande maioria dos especialistas, deve-se atribuir a Marc Jacobs – mais do que a Yves Carcelle, CEO da empresa por mais de duas décadas, ou ao bilionário Bernard Arnault, presidente da holding LVMH, que controla a marca – o crédito pela transformação da Louis Vuitton na marca mais valiosa do mundo do luxo por oito anos consecutivos, com US$ 22,7 bilhões de valor de mercado. Lamentações à parte, o desembarque do homem que transformou uma empresa conservadora, especializada em bolsas e malas para viagem, numa das estrelas da moda de alto padrão traz uma indagação para os chefões das companhias do setor: o que será dos negócios da grife quando um profissional icônico como ele deixa o posto?
 
 
 
Ao que tudo indica, a Louis Vuitton já achou um substituto para o estilista americano. Segundo especulações do mercado, trata-se do francês Nicolas Ghesquière, ex-Balenciaga. Até o fechamento desta edição, a marca ainda não havia confirmado a informação oficialmente. Apesar das reticências de alguns fãs, os negócios não devem correr perigo com Ghesquière no comando da criação. “A Louis Vuitton atingiu uma consolidação tamanha no mercado de luxo que a saída de Marc Jacobs, embora possa provocar um soluço, não será nada grave”, afirma Silvio Passarelli, diretor da faculdade de artes plásticas da Faap. 
 
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Estratégia de sucesso: Desde a entrada do estilista americano na empresa, a marca não parou de crescer.
Hoje ela é a mais valiosa do mundo do luxo, com US$ 22,7 bilhões de valor de mercado
 
Segundo ele, é normal que um estilista de renome queira se dedicar a um projeto pessoal, por isso a marca deve estar preparada para o que der e vier. “No mesmo dia da festa de apresentação de um diretor-criativo, o CEO da empresa, como um bom empreendedor, também está olhando para possíveis substitutos”, diz o especialista. Casos como o de Marc Jacobs – e a rapidez com que agiu a Louis Vuitton para encontrar alguém para o seu lugar – indicam uma tendência do mercado de luxo: as marcas devem cada vez mais depender de sua tradição e do savoir-faire do que de ancorar-se em grandes nomes do mercado. 
 
 
 
“Ter alguém brilhando no time de uma marca com uma imagem tão forte que seja capaz de ir além do DNA da empresa é sempre um risco”, afirma Passarelli. Marc Jacobs, por exemplo, chegou a ser tão badalado que, em um perfil dele, a revista New Yorker cita uma pesquisa feita no interior dos Estados Unidos, na qual os americanos reconheciam o nome do estilista, mas achavam que ele deveria ser um ator ou astro de rock, provavelmente por seu visual de estrela de Hollywood e suas amizades célebres. Poucos o ligavam à bilionária Louis Vuitton.
 
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Aposta na tradição: Bernard Arnault, presidente da LVMH (à dir.), se viu em maus lençóis quando precisou
demitir John Galliano da Dior após comentários antissemitas. A maison deu a volta por cima
e faturou US$ 1,6 bilhão em 2012, um aumento de 24% em relação ao ano anterior
 
Consumado em aparente harmonia, o divórcio entre Marc Jacobs e a Louis Vuitton nem sempre é regra. Dois anos depois, a conturbada ruptura entre a Dior e o britânico John Galliano, no cargo de diretor-criativo, ainda ecoa nas passarelas luxuosas. Em 2011, Galliano foi ruidosamente demitido, depois do escândalo que provocou ao proferir comentários antissemitas. Mesmo com a demissão de Galliano, a grife foi inundada por críticas e até a embaixadora da maison na época, a atriz hollywoodiana Natalie Portman, de origem judaica, optou por se desligar da empresa, também controlada pelo grupo LVMH. 
 
 
 
Diante da repercussão do episódio, o próprio Bernard Arnault tentou minimizá-lo, insistindo em garantir que não havia preocupação quanto ao futuro da marca. “A Dior é como a Orquestra Filarmônica de Viena”, afirmou o presidente da LVMH na época da confusão. “De tempos em tempos, a orquestra pode até tocar sem maestro, de tão boa que é, mas desde que seja por apenas um período.” A chegada do belga Raf Simons, ex-Jil Sander, três meses depois, contribuiu para amenizar toda a confusão em torno da grife, reduzindo os danos. 
 
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Estilista e CEO: Christopher Bailey, da Burberry, se prepara para acumular as duas funções na empresa.
Assim como Marc Jacobs na Louis Vuitton, o estilista inglês é quem recebe os créditos pela revitalização da marca
 
Na verdade, passado o impacto inicial, as vendas continuaram a crescer a passos largos, chegando a US$ 1,6 bilhão em 2012, um aumento de 24% sobre o ano anterior, dando razão a Arnault. O que aconteceu entre Galliano e Dior serviu de alerta para as grifes quanto aos riscos da dependência de seus criativos, por mais geniais e brilhantes que sejam. Afinal, ninguém, rigorosamente, é insubstituível, como já haviam constatado casas como a Saint Laurent, com a aposentadoria do celebrado Yves Saint Laurent, em 2002, e a Alexander McQueen, com a morte de seu fundador homônimo, em 2010. Só os diamantes são eternos.
 
 
 
Uma saída alternativa para evitar a perda dos supertalentos foi encontrada pela inglesa Burberry, famosa pela estampa xadrez. A empresa acaba de anunciar a promoção de Christopher Bailey. O estilista, que há 12 anos comanda a área de criação e foi o responsável pela modernização da grife, agora também acumula o cargo de CEO. “Mas o mais comum é que um gênio de criação passe a se dedicar a um projeto pessoal”, diz Passarelli. Se Marc Jacobs é a regra e Bailey é a exceção ainda é cedo para saber. “De qualquer maneira, uma grife de alto padrão precisa estar preparada para nunca ser pega de surpresa”, afirma.

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