Já consolidada para os usuários de smartphone, o mobile first segue um grande campo a ser explorado pelo marketing
        
            
            
Por Antenor Savoldi Jr
antenor@amanha.com.br
        
 
Há mais de duas décadas, marcas e consumidores abriram uma 
nova fronteira de relacionamento: conversam, convencem, reclamam, 
indicam e sugerem, tudo por interfaces digitais. O que, nos primórdios, 
limitava-se a uma simples página de web com informações sobre produtos, 
números de telefone e e-mail para atendimento, evoluiu para diferentes 
opções de formulários, campanhas e e-commerces que, inicialmente, 
enfrentaram a resistência dos compradores receosos em dividir suas 
informações sigilosas em um ambiente totalmente novo.
Mas a 
tecnologia da informação avançou em um ritmo frenético e, entre 
encontros e desencontros, muitos setores e modelos de negócio ainda 
buscam o melhor caminho nessa “fase de transição” para o digital, que, 
na prática, já se estende por muitos anos. As certezas que as áreas de 
marketing tinham no começo desse período mudaram muito, e seguem em 
transformação. O passo seguinte veio com força total: a universalização 
do uso dos smartphones fez com que a relação entre marcas e consumidores
 crescesse em frequência e importância, obrigando as áreas de marketing 
a, novamente, repensar suas estratégias. Afinal, os limites, agora são 
outros.
“Celular é uma forma evoluída, e não equivalente, de estar
 conectado. Pensar mobile first é pensar nessa forma evoluída, usando 
todas as novas possibilidades” explica Fabiano Goldoni, sócio da Alright
 Media, especializada em tecnologias de mídia digital. Ele se apóia na 
estatística de que, hoje, 35% dos usuários acessam a internet somente 
pelo mobile. “Um celular com acesso à internet custa R$ 400, o que já é 
muito mais acessível que um desktop. E também traz muito mais funções, 
como GPS, acelerômetro e bússola”, lembra Goldoni. Apesar desse cenário,
 as áreas de marketing das empresas ainda não parecem convencidas a 
direcionar seus esforços para o setor móvel. Nos Estados Unidos, um 
mercado de referência pela maturidade da tecnologia, apenas 12% das 
verbas de marketing têm as campanhas em mobile como destino. 
A 
questão foi abordada durante o Alright Summit 2017, evento em Porto 
Alegre que debateu o futuro das relações entre consumidores, marcas e 
veículos. Roger Armellini, diretor de marketing da Toyota Brasil, 
apontou o aumento e a discrepância dos números de consumo digital, que 
já são a soma de todos os outros meios off-line. “Se o processo de 
decisão agora é feito no meio digital, aumenta a importância de se 
pensar a experiência on-line/off-line do consumidor. Assim como a mídia 
migrou off para o on, migrar a verba para ações de experiência é uma 
tendência”, explica o gestor. “A experiência não pode ser considerada 
somente o momento que o consumidor está fisicamente interagindo com o 
produto. O grande desafio é como integrar a mídia e o conteúdo neste 
contato”, destaca Armelini. 
Segundo dados divulgados pela 
montadora, 95% das pessoas que compraram um automóvel utilizaram o meio 
digital no processo de compra. Desse total, 40% declararam que o 
dispositivo móvel foi o principal meio de utilização. Apesar do bom 
desempenho da Toyota, o posicionamento das marcas no mobile parece um 
caminho ainda a ser descoberto por agências e anunciantes. 
Confirmando
 a impressão, Armellini ainda não vê os estrategistas pensando a 
utilização do dispositivo móvel como principal ferramenta a ser 
avaliada. Segundo ele, o smartphone raramente aparece como prioridade 
nos planos de marketing. No setor automotivo, cada vez mais o on-line 
tem sido relevante na compra de veículos, embora a indústria ainda não 
consiga integrar a experiência on-line do cliente com a off-line. “Há 
menos de dez anos, a média de visitas de um cliente era de quatro a 
cinco vezes em concessionárias. Hoje, essa média diminuiu para menos de 
duas vezes. O cliente só vai para a concessionária fechar o negócio e 
assinar o contrato. Isso significa que todo o processo de decisão da 
compra é feita no ambiente digital. É lá que temos de convencê-lo”, 
argumenta. 
André Ferraz, CEO da InLoco Media, também alerta para a
 nova complexidade do comportamento do consumidor. “Agora temos acesso a
 um equipamento que está conosco quase o tempo todo. E como no 
smartphone a integração do on-line com o off-line é muito maior, o 
digital acaba tornando-se quase o mesmo processo”, destaca Ferraz. 
A
 maneira como os novos dados podem ser utilizados em busca de resultados
 também é um processo em evolução. Na visão de Paulo Planet, 
sócio-fundador da Tail no Brasil, a tecnologia tem de ser um meio para 
ligar a experiência e possibilitar à marca entender o comportamento do 
seu consumidor, atingindo resultados mais assertivos. “A tecnologia 
precisa conectar todas essas informações on-line e off-line, fazendo com
 que a empresa atinja seu plano estratégico. Afinal, o que importa é o 
número de veículos vendidos no final do mês”, considerou Planet, usando o
 exemplo da Toyota.
Diferentes caminhos
 
Se
 as verbas e os objetivos diferem, empresas de todos os portes e setores
 têm desafios em comum nesse terreno dos dispositivos móveis. “Não 
existe uma regra baseada em tamanho do investimento. O que interessa é o
 objetivo do negócio com aquele investimento. O mínimo que um pequeno 
negócio precisa é ter sua página adaptada ao mobile. Uma pizzaria, por 
exemplo, deve ter o contato, o menu, a localização”, explica Goldoni. 
Sabendo adaptar sua mensagem aos novos meios, não é imprescindível que 
cada empresa tenha seu próprio aplicativo. “Ter um aplicativo próprio dá
 a possibilidade de trabalhar de forma mais individualizada, com todos 
os dados, além da localização, mas não é fundamental. O marketing pode 
interagir com os outros aplicativos”, comenta. 
Mesmo uma 
ferramenta que poderia ser considerada ultrapassada ganhou novo fôlego: 
os “torpedos” em SMS, nas estratégias de inbound marketing, têm sido uma
 ferramenta importante.  Goldoni revela que a portabilidade dos números 
de telefone fez com que eles se tornassem uma forma fiel de comunicação 
com o consumidor – como um número de CPF.
Especialista vêem no 
mobile marketing um grande campo a ser explorado, tanto pelas áreas de 
marketing quanto pelo próprio consumidor. Uma tendência é o aumento 
significativo do uso do chat. As conversas e trocas de mensagens entre 
consumidores e marcas, através do chat de Instagram, Whatsapp ou 
Messenger do Facebook –, uma das principais formas de relacionamento com
 o cliente –, tendem a evoluir, deixando o uso de e-mails cada vez mais 
para questões formais do ambiente corporativo. Porém, quando quem 
responde a mensagem ao consumidor é um robô – os chatbots, um script 
automatizado – ainda estamos na idade da pedra, segundo o especialista. 
Chatbots
 são basicamente scripts de respostas para perguntas previstas, que 
podem se transformar em um loop ineficiente, caso uma das pontas da 
conversa não esteja preparada para lidar com a outra. “Isso precisa 
evoluir, e cada vez mais as pessoas vão entender que estão conversando 
com um robô. No caso de um relacionamento mais comercial, o robô vai 
entender se há interesse de compra, para passar o atendimento a um 
humano. Serve como um primeiro atendimento, antes do convencimento”, 
projeta Goldoni, que percebe um aumento significativo no investimento em
 programação de chatbots por empresas, sobretudo no setor de varejo e 
bancário.
O mercado da mídia digital focada em dispositivos móveis
 já possui uma articulação complexa, que vai além dos tradicionais 
anúncios de Google e Facebook. Redes de publicidade com mais de 500 
diferentes aplicativos, das mais variadas funções, que todo mundo possui
 –de previsão do tempo ao placar da rodada –, ocupam os espaços de 
publicidade de maneira cada vez mais inteligente e personalizada. Por 
isso é tão importante que o consumidor leia bem os termos que aceita 
quando instala um novo aplicativo em seu aparelho. Suas informações e, 
especialmente, sua localização serão utilizadas por essas redes de 
publicidade direcionada.
Cases de marketing baseados na 
geolocalização já mostram sua eficácia. No dia 19 de setembro de 2015, 
véspera do tradicional feriado Farroupilha, a Ambev queria informar ao 
público que sua marca local, a Polar, estaria subsidiando a carne para o
 churrasco do dia seguinte, em um determinado açougue de Porto Alegre. A
 campanha se valeu da geolocalização de consumidores que se encontravam 
dentro de supermercados escolhidos e que receberam a informação por meio
 da rede de aplicativos.
Nesse campo aberto de novidades, o uso 
das novas métricas, bem como a perspectiva de resultados, vai evoluir. 
“Um chatbot pode ter uma métrica de número de clientes que clicaram no 
produto, outra plataforma pode rastrear o deslocamento após a 
publicidade ter sido recebida”, esclarece Goldoni. 
Junto com essa
 transformação, a evolução também chegará às áreas de marketing e, 
especialmente, ao comportamento do consumidor – que precisará entender o
 novo terreno de consumo no qual transita.
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