Número de líderes que podem apresentar problemas de personalidade aumentou nos últimos três anos, diz pesquisa
São Paulo – A cada três executivos brasileiros,
um terá desvio de caráter e pode apresentar a disposição para omitir
informações, desviar valores ou manipular pessoas e dados.
Um dado ainda pior: esse número aumentou, segundo a pesquisa Perfil Comportamental dos Executivos, realizada a cada três anos pela HSD Consultoria em RH e pela Orchestra Soluções Empresariais.
Enquanto há três anos o número de pesquisados com esse
perfil era de 20%, agora cerca de 27% dos líderes podem apresentar algum
problema.
Entre os desvios verificados na pesquisa,
estão a maquiagem de resultados, desvios de valores financeiros,
manipulação de dados e pessoas para atender ao próprio interesse. Quando
a consultoria percebe algum sinal desses comportamentos, ela sugere que
a empresa realize uma investigação interna.
Segundo a presidente da HSD, Susana Falchi, “quanto mais poder
uma pessoa tem em uma empresa, maiores os riscos que um desvio de
caráter pode causar”. Além disso, a pessoa pode influenciar toda sua
equipe e criar um clima propenso para desvios em benefício próprio,
afetando toda a companhia. Por isso, a pesquisa se concentra nos líderes
e executivos das empresas. Veja também:
O que House of Cards ensina sobre o poder nas empresas
Veja na tabela abaixo os principais desvios encontrados pela
pesquisa e, em seguida, as principais explicações para esses
comportamentos.
Estrutural | Porcentagem em 2013 | Porcentagem em 2017 | Comportamento /Impacto |
---|---|---|---|
*Omite/esconde erros | 100 | 100 | Relatórios gerenciais alterados ou maquiados; Falta de transparência nos processos; Falta de clareza na condução da área. |
Desvio de caráter devido à autoimagem inflada | 28 | 30 | “Não respeita limites; Passa por cima de regras e das pessoas; Manutenção da própria imagem. |
Desvio de caráter com tendência a desvio de valores financeiros. | 20 | 27 | “Cobrança de comissões de fornecedores; Desvio de mercadorias; Apropriação indevida de valores. |
Dissimulação/mentira/intriga | 22 | 25 | Apresenta situações diferentes da realidade; Enfeita as situações para ficar melhorar imagem própria; Esconde as reais intenções; Finge emoções que não sente. |
Desvio de caráter devido à baixa autoconfiança | 13 | 17 | Manipulador para seus próprios interesses; Volátil, muda de posicionamento de acordo com as situações, somente para não se comprometer; Não interage com seus pares e equipe; Desconfiado e centralizador, não delega. |
Desvio de caráter devido à estrutura emocional fragilizada | 8 | 12 | Cria-se uma dependência patológica da equipe; Não traz assertividade em suas colocações; Fica em cima do muro em todas as situações. |
Desvio do comportamento sexual | 4 | 7 | Assedio sexual e moral. |
O comportamento esconder/omitir erros está associado aos demais comportamentos e, por isso, aparece em 100% dos casos avaliados.
Corrupção e crise
Ainda que a Operação Lava Jato, que apura desvios ligados à
Petrobras, e outras investigações da Polícia Federal ocupem as manchetes
há alguns anos, elas não tiveram impacto para inibir comportamentos
corruptos.
A crise teve uma influência muito maior para aumentar essa
incidência, diz Falchi. Na crise, cresce o desespero para não ser
demitido. As pessoas passam a pensar mais em si mesmas.
Além disso, quando uma empresa passa por dificuldades,
aumenta a pressão por bons resultados, e se destacam aqueles
funcionários com perfil mais agressivo. A tensão pode levar algumas
pessoas a buscarem esses resultados a todo custo, mesmo que por meios
ilícitos, manipulação de dados ou de fornecedores.
Inteligência racional e emocional
A consultora diz que a inteligência também tem relação com
esses atos ilícitos. Segundo ela, pessoas mais espertas conseguem achar
soluções melhores para os problemas, o que pode significar também maior
facilidade em criar mecanismos para obter proveito próprio.
No entanto, embora um funcionário tenha um bom conhecimento
técnico, falta inteligência emocional. Segundo Falchi, as empresas não
incentivam o amadurecimento emocional de seus líderes e estão mais
preocupadas com cursos e especializações. “As pessoas avançam muito no
conhecimento técnico, mas são frágeis emocionalmente”, diz.
Conivência
Quanto maior a companhia, maior sua dificuldade de
acompanhar tudo o que acontece dentro dela. Assim, é difícil detectar os
desvios. “Muitos se valem dessa falta de controle para obter vantagens,
como fraudar reembolsos em viagens, por exemplo”, afirma a
especialista.
Mesmo quando o erro é descoberto, há certa dificuldade em
lidar com o assunto. Muitos chefes ficam receosos ao denunciar um
funcionário desonesto, já que isso pode implicar exposição própria e da
companhia. Além disso, como muitos líderes corruptos trazem bons
resultados para a empresa, demitir esses funcionários poderia
comprometer o resultado imediato.
Assim, a falta de consequência para atos ilícitos pode levar
a outros desvios, o que compromete toda a operação. “As companhias
precisam ter em mente sua sustentabilidade a longo prazo e impedir esses
desvios. Não adianta trazer resultados imediatos, mas sim criar um
ambiente para que a empresa prospere a longo prazo”, afirmou.
Metodologia
A HSD Consultoria em RH está há 20 anos no mercado,
analisando perfis de funcionários em nível de liderança para avaliar os
melhores candidatos para processos seletivos ou promoções. Também presta
consultoria para recolocação profissional.
Por meio de entrevistas e outras ferramentas, a consultoria
avalia estilo de liderança, orientação para resultados, relacionamento
pessoal e integridade de conduta
Para avaliar o caráter das pessoas, a consultoria usa
diversas ferramentas, de entrevistas a grafologia – análise da escrita.
No entanto, para eliminar qualquer vício de percepção ou manipulação dos
resultados, a análise é feita por uma equipe técnica que não interagiu
com o candidato.
A cada três anos, a consultoria compila todas as entrevistas
feitas e lança a pesquisa Perfil Comportamental dos Executivos. A
edição de 2017 contou com 3.500 entrevistas, contra 5.000 entrevistas na
edição anterior.
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