sexta-feira, 21 de julho de 2017

A cada três chefes, um tem desvio de caráter


Número de líderes que podem apresentar problemas de personalidade aumentou nos últimos três anos, diz pesquisa

 





São Paulo – A cada três executivos brasileiros, um terá desvio de caráter e pode apresentar a disposição para omitir informações, desviar valores ou manipular pessoas e dados.

Um dado ainda pior: esse número aumentou, segundo a pesquisa Perfil Comportamental dos Executivos, realizada a cada três anos pela HSD Consultoria em RH e pela Orchestra Soluções Empresariais.

Enquanto há três anos o número de pesquisados com esse perfil era de 20%, agora cerca de 27% dos líderes podem apresentar algum problema.

Entre os desvios verificados na pesquisa, estão a maquiagem de resultados, desvios de valores financeiros, manipulação de dados e pessoas para atender ao próprio interesse. Quando a consultoria percebe algum sinal desses comportamentos, ela sugere que a empresa realize uma investigação interna.

Segundo a presidente da HSD, Susana Falchi, “quanto mais poder uma pessoa tem em uma empresa, maiores os riscos que um desvio de caráter pode causar”. Além disso, a pessoa pode influenciar toda sua equipe e criar um clima propenso para desvios em benefício próprio, afetando toda a companhia. Por isso, a pesquisa se concentra nos líderes e executivos das empresas. Veja também: O que House of Cards ensina sobre o poder nas empresas
 
Veja na tabela abaixo os principais desvios encontrados pela pesquisa e, em seguida, as principais explicações para esses comportamentos.


Estrutural Porcentagem em 2013 Porcentagem em 2017 Comportamento /Impacto
*Omite/esconde erros 100 100 Relatórios gerenciais alterados ou maquiados; Falta de transparência nos processos; Falta de clareza na condução da área.
Desvio de caráter devido à autoimagem inflada 28 30 “Não respeita limites; Passa por cima de regras e das pessoas; Manutenção da própria imagem.
Desvio de caráter com tendência a desvio de valores financeiros. 20 27 “Cobrança de comissões de fornecedores; Desvio de mercadorias; Apropriação indevida de valores.
Dissimulação/mentira/intriga 22 25 Apresenta situações diferentes da realidade; Enfeita as situações para ficar melhorar imagem própria; Esconde as reais intenções; Finge emoções que não sente.
Desvio de caráter devido à baixa autoconfiança 13 17 Manipulador para seus próprios interesses; Volátil, muda de posicionamento de acordo com as situações, somente para não se comprometer; Não interage com seus pares e equipe; Desconfiado e centralizador, não delega.
Desvio de caráter devido à estrutura emocional fragilizada 8 12 Cria-se uma dependência patológica da equipe; Não traz assertividade em suas colocações; Fica em cima do muro em todas as situações.
Desvio do comportamento sexual 4 7 Assedio sexual e moral.
O comportamento esconder/omitir erros está associado aos demais comportamentos e, por isso, aparece em 100% dos casos avaliados.

 

Corrupção e crise

 

Ainda que a Operação Lava Jato, que apura desvios ligados à Petrobras, e outras investigações da Polícia Federal ocupem as manchetes há alguns anos, elas não tiveram impacto para inibir comportamentos corruptos.

A crise teve uma influência muito maior para aumentar essa incidência, diz Falchi. Na crise, cresce o desespero para não ser demitido. As pessoas passam a pensar mais em si mesmas.

Além disso, quando uma empresa passa por dificuldades, aumenta a pressão por bons resultados, e se destacam aqueles funcionários com perfil mais agressivo. A tensão pode levar algumas pessoas a buscarem esses resultados a todo custo, mesmo que por meios ilícitos, manipulação de dados ou de fornecedores.

Inteligência racional e emocional

 

A consultora diz que a inteligência também tem relação com esses atos ilícitos. Segundo ela, pessoas mais espertas conseguem achar soluções melhores para os problemas, o que pode significar também maior facilidade em criar mecanismos para obter proveito próprio.

No entanto, embora um funcionário tenha um bom conhecimento técnico, falta inteligência emocional. Segundo Falchi, as empresas não incentivam o amadurecimento emocional de seus líderes e estão mais preocupadas com cursos e especializações. “As pessoas avançam muito no conhecimento técnico, mas são frágeis emocionalmente”, diz.

Conivência

 

Quanto maior a companhia, maior sua dificuldade de acompanhar tudo o que acontece dentro dela. Assim, é difícil detectar os desvios. “Muitos se valem dessa falta de controle para obter vantagens, como fraudar reembolsos em viagens, por exemplo”, afirma a especialista.

Mesmo quando o erro é descoberto, há certa dificuldade em lidar com o assunto. Muitos chefes ficam receosos ao denunciar um funcionário desonesto, já que isso pode implicar exposição própria e da companhia. Além disso, como muitos líderes corruptos trazem bons resultados para a empresa, demitir esses funcionários poderia comprometer o resultado imediato.

Assim, a falta de consequência para atos ilícitos pode levar a outros desvios, o que compromete toda a operação. “As companhias precisam ter em mente sua sustentabilidade a longo prazo e impedir esses desvios. Não adianta trazer resultados imediatos, mas sim criar um ambiente para que a empresa prospere a longo prazo”, afirmou.

Metodologia

 

A HSD Consultoria em RH está há 20 anos no mercado, analisando perfis de funcionários em nível de liderança para avaliar os melhores candidatos para processos seletivos ou promoções. Também presta consultoria para recolocação profissional.

Por meio de entrevistas e outras ferramentas, a consultoria avalia estilo de liderança, orientação para resultados, relacionamento pessoal e integridade de conduta

Para avaliar o caráter das pessoas, a consultoria usa diversas ferramentas, de entrevistas a grafologia – análise da escrita. No entanto, para eliminar qualquer vício de percepção ou manipulação dos resultados, a análise é feita por uma equipe técnica que não interagiu com o candidato.

A cada três anos, a consultoria compila todas as entrevistas feitas e lança a pesquisa Perfil Comportamental dos Executivos. A edição de 2017 contou com 3.500 entrevistas, contra 5.000 entrevistas na edição anterior.

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