Visões negativas
sobre a influência do Brasil no mundo só não pioraram mais que a dos
Estados Unidos, de acordo com uma pesquisa encomendada pelo Serviço
Mundial da BBC ao instituto americano GlobeScan.
Cerca de 18 mil
pessoas em 19 países foram entrevistadas para expressar sua opinião
sobre 16 países e a União Europeia como um todo - as perguntas pediam
para classificar os países como influências negativas ou positivas no
mundo.
As entrevistas ocorreram entre dezembro de 2016 e abril
deste ano - justamente o período de recrudescimento da crise política
brasileira e os escândalos de corrupção.
"A metodologia de
pesquisa não pediu o detalhamento nas respostas, mas acreditamos que os
problemas enfrentados pelo Brasil se refletem nessa mudança de
percepção. No panorama geral, ainda há mais gente vendo o Brasil de
forma positiva do que negativa, só que o quadro está se deteriorando",
explica à BBC Brasil Lionel Bellier, diretor-associado do GlobeScan.
Os
americanos apresentaram a maior queda de percepção em relação a 2014, o
ano mais recente em que a pesquisa foi realizada, com apenas 34% dos
entrevistados considerando a influência do país no mundo positiva, cinco
pontos percentuais a menos que há três anos. O Brasil registrou 38%,
seis pontos a menos do que na pesquisa anterior.
E
o percentual geral de entrevistados considerando a influência do Brasil
negativa aumentou de 28% para 30%. Dos 16 países postos à prova, o
Canadá foi considerado o mais positivo, algo declarado por 61% dos
entrevistados. O pior foi o Irã, com 15%, que ficou atrás até da Coreia
do Norte (17%).
No geral, o Brasil ficou em oitavo lugar em termos de percepções positivas, perdendo uma posição em relação a 2014.
"Chamou nossa atenção também que o Brasil, apesar de
ter sediado os dois maiores eventos esportivos do planeta (a Copa do
Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016), registrou diminuição de
percepção positiva. Isso não aconteceu com a África do Sul (sede da Copa
de 2010) ou o Reino Unido (Londres foi a cidade olímpica de 2012). Os
eventos negativos dos últimos três anos no Brasil conseguiram anular
esses efeitos", completa Bellier.
Entre os 18 países que tiveram
pessoas entrevistadas, oito mostraram uma opinião mais positiva do que
negativa do Brasil, enquanto cinco mostraram indecisão e outros cinco
apresentaram tendências negativas. França e Reino Unido apresentaram
maior rejeição internacional (43%), enquanto os próprios entrevistados
brasileiros registraram a maior percepção negativa da influência do país
no mundo (64%).
Trata-se da estatística mais pessimista desde que
a medição começou a ser feita, em 2008. Em 2012, por exemplo, o
percentual de percepção positiva dos brasileiros chegou a 88%.
"Mais
do que qualquer outro resultado, essa queda dentro de casa é que
deveria deixar o governo brasileiro mais apreensivo. Ela reflete falta
de confiança no país. Mesmo nações que apresentaram queda neste ano na
percepção internacional, como os EUA, tiveram um nível doméstico de
positividade grande, um senso de orgulho. A pesquisa mostra que os
brasileiros não estão orgulhosos de seu país", diz Bellier.
Em 2014, 66% dos brasileiros consideravam positiva a influência do Brasil no mundo.
O país mais "simpático" ao Brasil foi a China, que apresentou 57% de percepção positiva.
Apenas
um outro país latino-americano participou da pesquisa. E o Peru
registrou também uma queda acentuada de percepção sobre o Brasil. Em
2014, 61% dos entrevistados do país consideravam positiva a influência
do Brasil no mundo. O percentual agora é de apenas 48%, o que pode ser
reflexo das denúncias de corrupção envolvendo empreiteiras brasileiras
no país - em fevereiro, o ex-presidente peruano Alejandro Toledo teve
prisão preventiva decretada, acusado de receber US$ 20 milhões em
propina da Odebrecht.
Nos Estados Unidos e no Canadá, o Brasil
pela primeira vez teve a percepção geral tendendo para negativa: nos
dois países, houve queda acentuada entre os que consideram positiva a
influência do país no mundo. Nos EUA, o percentual de entrevistados que
consideram a influência brasileira negativa saltou de 23 para 39.
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