Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são responsáveis por 35,5% da colheita do grão no país
O Brasil deve ultrapassar os Estados Unidos como o maior
produtor de soja mundial em dez anos, de acordo com o novo relatório
Perspectivas Agrícolas 2017-2026, divulgado na semana passada pela
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Durante o período analisado, espera-se que a produção mundial de soja
continue expandindo-se, mas em um ritmo de 1,9% por ano, abaixo da taxa
de crescimento de 4,9% anual da última década.
De acordo com o
relatório, a produção de soja no Brasil deve crescer a 2,6% por ano, o
maior crescimento entre os principais produtores, já que dispõe de mais
terras, comparado com a Argentina, com crescimento projetado de 2,1% por
ano e os Estados Unidos, de 1% por ano. A expectativa é de que, com
isso, o Brasil ultrapasse os Estados Unidos como o maior produtor de
soja. As exportações do produto em 2026 serão dominadas pelo Brasil e
Estados Unidos que, juntos, respondem por quase 80% das exportações
mundiais.
As estimativas do último levantamento da safra 2016/2017
divulgadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) pareceram
confirmar as expectativas traçadas pela FAO e OCDE. A Conab projeta que a
safra no período seja de 237,2 milhões de toneladas de grãos. Uma
produção recorde, com crescimento de 27,1% em relação ao período
anterior. De acordo com a pesquisa, a produção de soja deve crescer
19,4% e chegar a 113,9 milhões de toneladas colhidas, mantendo assim a
expectativa dos números divulgados em maio. Atualmente, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul são responsáveis por 35,5% da colheita do
grão no país.
Para o presidente da Associação dos Produtores de
Soja do Brasil, Marcos da Rosa, todas essas estimativas podem ter
impacto nos preços, que já vêm caindo. “Fazer um anúncio de safra grande
pode fazer com que o mercado precifique para baixo, o que é ruim para
todo mundo. Quando olhamos o preço das commodities soja e milho,
observamos que houve queda e isso é um desestímulo. Como as duas últimas
safras de soja, no norte e no sul, foram boas, a gente sentiu uma
oferta maior que a demanda. Sentimos no bolso que a oferta foi muito
grande e os valores pagos caíram bastante em relação à safra passada”,
destaca.
Na avaliação do chefe-adjunto de Transferência de
Tecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
Soja, Alexandre Cattelan, o Brasil tem um potencial de crescimento para
os próximos anos inclusive superior ao projetado pelas organizações
internacionais. No entanto, os preços do mercado externo e questões
logísticas podem desestimular os produtores. “O Brasil praticamente já
atingiu o limite da logística, aliás, está acima do limite da logística.
Estamos observando que esse ano a safra ainda não foi totalmente
comercializada principalmente em termos de exportação. Tem muita soja
estocada e o milho da segunda safra praticamente não tem onde ser
armazenado. Vemos milho a céu aberto. Em parte, a soja não foi
totalmente escoada por conta dos baixos preços”, aleta Cattelan. O
pesquisador defende que, para que o Brasil siga lucrando com a soja, o
ideal é agregar valor. “Temos de agregar valor, transformar a soja em
carne, seja frango, porco, boi, usando-a como ração. Outra opção é o
biodiesel, que tem tido um aumento paulatino e é um mercado interessante
porque 90% é produzido com óleo de soja”, sugere.
Outras projeções
O
relatório da OCDE e da FAO traz projeções até 2026 para os principais
produtos agrícolas. No período analisado, a produção mundial de grãos
crescerá cerca de 1% por ano, o que levará a um aumento total em 2026 de
11% para o trigo, 14% para o milho, 10% para os grãos secundários e 13%
para o arroz. Em relação à pecuária, é previsto que a participação dos
dois maiores países exportadores de carne, que são Brasil e Estados
Unidos, aumente até aproximadamente 44%, contribuindo com quase 70% no
aumento previsto das exportações mundiais de carne durante o período
analisado. Em relação a biocombustíveis, a expectativa é de que a
demanda brasileira de etanol expanda-se em 6 bilhões de litros no
período analisado, o que resultaria em um aumento na produção de mais de
40% nos próximos dez anos.
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