Maior licitação de petróleo do país divide opiniões – se manifestantes gritam contra “privatização”, há quem diga que o “interesse nacional” nunca foi tão resguardado
São Paulo – O dia da partilha se aproxima. Na próxima segunda-feira (21), o país coloca a leilão a sua maior descoberta do Pré-sal até agora, o Campo de Libra, na Bacia de Santos (veja os números do gigante). O certame marca o início do que os especialistas chamam de terceira fase da história da indústria nacional do petróleo,
marcada pela convivência entre o regime jurídico de concessão e o
recém-chegado modelo de partilha, com maior intervenção do Estado, que
vai ditar a exploração de Libra. Uma transformação que acontece em clima
de guerra.
Para garantir a segurança e a realização do leilão no Rio de Janeiro, o
governo enviou tropas do Exército ao local. A preocupação é justificada
pela crescente mobilização de trabalhadores e partidos políticos que
pedem o cancelamento do leilão. Desde ontem, operários da indústria
cruzaram os braços em protesto, sob o argumento de que o país está
entregando a “joia da coroa” a “preço de banana” para empresas
estrangeiras.
Mas se os manifestantes gritam contra “privatização”, há quem diga que o
interesse nacional nunca foi tão resguardado em uma licitação de blocos
de petróleo, como agora. Para o ex-diretor da Agência Nacional de
Petróleo Haroldo Lima, o modelo de partilha resguarda muito bem os
louros da área do pré-sal para o país. Ele lembra que foi pensando em
aumentar a participação do Estado na exploração que, em 2010, foi
aprovado o novo marco regulatório.
Pela partilha, a Petrobras tem participação de 30% no consórcio
vencedor e, de todo o petróleo extraído, pelo menos 41,65% deverá ser
ofertado à União, sendo que quem oferecer maior quantidade de barris ao
governo sairá vencedor. “Somando a participação especial, impostos,
roaylties, tudo isso, teremos 70% da produção de petróleo do Campo de
Libra para o governo federal brasileiro”, calcula Haroldo. “Essa
história de que o Brasil tá doando Libra não se sustenta”, pondera.
Pagando a língua?
Segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura
(CBIE), toda essa comoção dos petroleiros contra o leilão é prova de que
o governo brasileiro está “pagando a língua”.
“Durante seis anos, o Brasil não fez nenhuma licitação de bloco porque
estava revendo o marco regulatório do setor, atraindo apoio generalizado
com a ideia do 'petróleo é nosso'. Agora, vem a cobrança”, diz o
especialista, que enxerga com reservas o modelo de partilha, apesar da
arrecadação recorde (o bônus de assinatura de Libra, custará R$ 15
bilhões, quase o dobro dos R$ 8,9 bilhões arrecadados até hoje nos leilões da ANP)
“Além de afugentar capital estrangeiro, por conta da ingerência
excessiva do Estado, ele sobrecarrega a Petrobras, o que pode
comprometer o desenvolvimento sustentável do setor no país, no longo
prazo”, avalia.
Foi durante o período de concessão, sublinha Pires, que o capital
estrangeiro entrou violentamente, com a atração de grandes empresas do
setor, o que elevou o tamanho das reservas nacionais e das taxas de
produção, alçando o Brasil a um lugar de destaque no mercado
internacional.
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