Perdas econômicas globais causadas por situações extremas no clima
aumentaram para quase US$ 200 bilhões (R$ 453,6 bilhões) por ano na
última década, e parece certo que vão subir ainda mais, já que as
mudanças climáticas estão piorando, segundo um relatório do Banco
Mundial divulgado nesta segunda-feira (18).
Em setembro, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC), feito por cientistas da ONU, alertou que inundações, secas e
tempestades provavelmente vão se tornar mais severas no próximo século, à
medida que as emissões de gases causadores do efeito estufa aquecem as
temperaturas na Terra.
“As perdas econômicas estão aumentando, de US$ 50 bilhões (R$ 113,4
bilhões) por ano na década de 1980 para quase US$ 200 bilhões (R$ 453,6
bilhões) na década passada. E cerca de três quartos dessas perdas são
resultado de condições meteorológicas extremas”, disse a vice-presidente
do Banco Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, Rachel Kyte.
“Embora não se possa relacionar uma só condição meteorológica com as
mudanças climáticas, os cientistas vêm alertando que situações extremas
no clima vão aumentar de intensidade se o problema não for controlado”,
acrescentou Rachel.
A companhia de resseguros Munich Re estimou que as perdas totais de
desastres foram de US$ 3,8 trilhões (R$ 8,2 bilhões) entre 1980 e 2012, e
atribuiu 74% delas a condições meteorológicas extremas.
Este mês, quase 4 mil pessoas morreram nas Filipinas com a passagem
do tufão Haiyan, uma das tempestades mais poderosas registradas até
hoje.
O tufão atraiu a atenção para o impacto das mudanças climáticas e
coincidiu com o início das conversações sobre o clima promovidas pela
19ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 19),
entre os dias 11 e 22 de novembro, em Varsóvia, na Polônia, onde mais de
9 mil delegados de quase 200 países estão tentando traçar planos para
minimizar esses efeitos em todo o mundo.
A diplomata Christiana Figueres, que chefia a 19ª Convenção do Clima,
pediu nesta segunda que a indústria de carvão diversifique suas fontes
de energia, por opções mais limpas, e deixe o restante das reservas no
solo. Dezenas de CEOs de companhias de carvão devem se reunir com o
Ministério da Economia da Polônia para discutir uma eventual mudança
radical, na tentativa de reduzir as emissões de gases-estufa.
Risco para emergentes
Representantes de vários
países disseram que o tufão Haiyan se encaixa nas tendências de
condições meteorológicas extremas e é um exemplo para motivar a adoção
de medidas nessa reunião de Varsóvia. O objetivo da ONU é traçar o
esboço de um acordo mundial em 2015, em Paris, para entrar em vigor a
partir de 2020.
Mas o painel de cientistas afirmou haver apenas “baixa convicção” de
que as emissões humanas contribuíram para a intensidade dos ciclones
(termo que abrange tufões e furacões) desde 1950.
Como parte das conversações, os governos estão discutindo mecanismos
para ajudar os países mais pobres a lidar com os danos e as perdas
causados pelas mudanças climáticas.
Embora desastres ligados ao clima possam afetar todos os países, as
mais graves perdas humanas e econômicas devem ocorrer em nações em
rápido crescimento, como as da Ásia, que erguem suas economias em áreas
vulneráveis a inundações, secas e temperaturas extremas, destacou o
Banco Mundial.
Segundo a entidade, a média do impacto de desastres nesses países foi
equivalente a 1% do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2001 e 2006 – dez
vezes maior que a média nas nações ricas.
Para ajudar a evitar custos futuros inimagináveis, os governos
deveriam se concentrar em tornar seus países mais prevenidos contra
desastres, mesmo que isso requeira investimentos de início, acrescentou o
Banco Mundial.
Sem negociação sobre mercado de carbono
As
negociações internacionais sobre a criação de um novo mercado de
créditos de carbono foram interrompidas no fim de semana em Varsóvia,
segundo fontes, porque os países em desenvolvimento se recusaram a
permitir avanços se as nações ricas não ampliarem os esforços para
reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
Fontes informaram que os negociadores técnicos foram incapazes de
chegar a um acordo antes do início das conversas de alto escalão,
previstas para esta segunda-feira, sobre propostas para desenvolver
novos mercados de créditos de carbono e vinculá-los por meio de uma
contabilidade conjunta e de regras de transparência.
As discussões sobre essa questão foram arquivadas até junho de 2014, embora muitos esperassem um acordo já em Varsóvia.
Um porta-voz da Comissão Europeia disse que as negociações se
revelaram muito difíceis, e que o bloco lamenta a ausência de
progressos.
“Continuamos interessados em uma discussão política aqui em Varsóvia
sobre o papel dos mercados no acordo de 2015″, acrescentou o porta-voz.
A reação ao colapso das negociações foi ambígua.
“A profunda falta de progresso é obviamente frustrante. Esperamos que
as partes se reagrupem e encontrem uma forma de progredir assim que
possível”, disse Miles Austin, do grupo setorial Associação de Mercados e
Investimentos Climáticos.
Já Meena Raman, da aliança ambiental Rede do Terceiro Mundo,
comemorou a notícia, “dada a grave falta de ambição dos países
desenvolvidos em reduzir as emissões”.
Os países mais pobres – que são também os mais atingidos pelas
mudanças climáticas – querem que os governos ricos adotem metas mais
ambiciosas e obrigatórias para a redução das emissões de dióxido de
carbono (CO2) e outros gases responsáveis pelo efeito estufa.
Já os países ricos, como EUA, Japão e os membros da União Europeia,
defendem a criação de novos mecanismos de mercado para reduzir as
emissões da forma mais barata possível.
Mas os países em desenvolvimento relutam em criar novos mercados
enquanto os atuais não estiverem funcionando. Eles dizem que os países
ricos apoiam os mercados como forma de terceirizar os esforços de
redução das emissões no exterior, de modo a garantir que eles não
precisem fazer reduções internamente.
Pelo mecanismo dos créditos comercializáveis, cada país ou empresa
tem um limite de emissões permitido, mas pode comprar créditos de
terceiros para exceder esse teto, ou então vender sua capacidade ociosa.
“Precisamos rever os fracassos dos mercados de carbono existentes
para avaliar se eles têm algum papel a desempenhar numa mitigação
equitativa e ambiciosa”, disse Meena.
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, um mercado nascido do Protocolo
de Kyoto, acordo climático criado em 1997 no Japão, já canalizou mais
de US$ 315 bilhões (R$ 714,4 bilhões) para nações em desenvolvimento,
mas enfrenta uma crise em decorrência da escassez de demanda por
créditos por parte de países que estão relutantes em elevar suas metas
de redução de emissões.
Ministros do Meio Ambiente de todo o mundo irão discutir nesta
terça-feira (19) a questão dos créditos, mas observadores afirmam que
dificilmente haverá negociações sobre novos mercados.
“Não é um enorme prejuízo”, disse um negociador de um país em
desenvolvimento que pediu anonimato. “Queremos ver um novo mecanismo de
mercado, mas um que seja concebido para gerar reduções líquidas
substanciais, que a atmosfera realmente veja, em vez de uma ferramenta
que realoque o esforço em um jogo de soma zero. Desse ponto de vista, o
resultado é frustrante.”
(Fonte: G1)
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