A Confederação Nacional da Indústria (CNI) quer reabrir as negociações
de um acordo de livre-comércio com os Estados Unidos, informou esta Folha.
Uma das mais relevantes associações do setor da economia mais afeito ao
protecionismo volta a sugerir que o Brasil descongele as tratativas com
os EUA, em hibernação há quase dez anos, desde o colapso da negociação
da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Volta a defender, ressalte-se, pois em 2007 a CNI procurava relançar o
debate da abertura comercial. A crise de 2008, a decorrente baixa do
comércio mundial, as irrupções de protecionismo e a grande valorização
do real tornaram inviável a rediscussão de acordos.
A ojeriza dos governos petistas ao livre-comércio, sua preferência por
acordos politizados pela noção "Sul-Sul" e a paralisia das negociações
multilaterais, na Organização Mundial do Comércio (OMC), acabaram por
praticamente suprimir do debate público brasileiro a questão comercial.
No entanto, mesmo nesses anos hostis à abertura de mercados, progrediram as negociações bilaterais.
Grandes empresas transnacionais continuaram a distribuir suas unidades
produtivas baseadas em ponderações de custos, garantias legais e fluxo
de capitais. Tais condições, porém, tornam-se mais ou menos favoráveis a
depender das adesões a acordos bilaterais.
EUA, Europa e países do Sudeste Asiático relegaram a um plano inferior
as discussões da Rodada Doha, as negociações iniciadas em 2001 no âmbito
da OMC.
Não foi apenas reação à paralisia nas conversações. As economias mais
produtivas pretendem desviar o comércio do restante do mundo para seus
blocos. Mais que ampliar o volume de trocas, trata-se de barrar o acesso
de terceiros países, em geral menos eficientes, que vão perdendo lugar
nas cadeias multinacionais de produção.
Até a indústria brasileira percebe a gravidade da situação. A única
iniciativa comercial relevante em que está engajado o Brasil é a
negociação com a União Europeia, por meio do Mercosul. Mas o acordo é
emperrado pelo governo argentino, ainda mais obtuso que o do Brasil em
matéria de promoção de eficiência e de realismo na política econômica
internacional.
Em resposta às movimentações da CNI, o governo brasileiro diz que "o
assunto não está em discussão". Seria mais cabível dizer que não dispõe
de política comercial digna de nome, assim como não tem planos razoáveis
de médio e longo prazo nas áreas fiscal, monetária e de
desenvolvimento.
Os industriais perceberam que é de seu interesse tentar influenciar a
integração econômica, sem o que o Brasil terminará escanteado dos
setores mais avançados da economia mundial.
Talvez seja demais esperar que o governo brasileiro também leve um choque de realidade.
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