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Quanto mais avançamos, mais retornamos ao princípio
Por Miguel Lisboa Cohen
Estamos vivendo num mundo diferente dos anteriores, e a cada momento
descobrimos que o que passou é apenas lembrança.
Nesse contexto, infelizmente, há certos e poucos elementos que preocupam,
pela pequena velocidade com que essas mudanças chegam e neles se enraízam.
Um desses está relacionado à idade, em especial à ainda chamada Terceira
Idade.
Pessoas que passaram dos seus 60 anos, ao chegar aos 65, 70, são aposentadas
e passam a viver uma realidade muito desigual e, porque não dizer, triste.
As “cabeças pensantes”, sobretudo nas áreas negociais, acham que o tempo
útil dessas pessoas passou e, agora, elas devem ir para casa e descansar.
Sinceramente, isso não bate com a realidade.
Vou lhes contar algumas histórias que, tenho certeza, interessarão àqueles
que possuem mente aberta.
Participei de um encontro com pessoas de nível intelectual muito alto e a
discussão era sobre a existência da 4ª. Idade.
Eles falaram e mostraram haver diferenças muito fortes, entre o passado e o
hoje. Demonstraram como pessoas antes consideradas velhas, hoje poderiam ser
muito úteis e produtivas.
A coisa começou por uma análise das expectativas de vida.
Deram uma olhada no Tutancâmon, o Faraó do Egito. Analisaram como nasceu,
viveu e morreu.
Tutancâmon tinha 19 anos quando se foi, já era casado e tinha filhos. A
expectativa de vida, naquela época, era de 29 anos…
Pulou-se em determinado momento para o Brasil e o que se viu, foi que a
expectativa de vida média, na virada do século XIX para o século XX, era de 43
anos. Nos anos 50, quando perdemos a Copa do Mundo de Futebol para o Uruguai, a
expectativa de vida era de 50 anos.
Hoje estamos chegando aos 75 anos, com as mulheres quase nos 80 e os homens
nos 72.
Nos Estados Unidos, a expectativa média chega aos 80. No Japão, já passou
dos 80 há algum tempo.
Mantidos assim os atuais conceitos negociais – com um sessentão já
considerado “acabado”, daqui 30 anos o mundo irá quebrar financeiramente.
Com efeito, a população mundial tende a envelhecer e a predominância de
aposentados será insuportável.
A economia os demais setores de gestão da sociedade, além da perda da
competência, experiência, conhecimento, capacidade gerencial, liderança e tudo
mais que os mais velhos, possuem, perderá também em produtividade, agravando a
contrapartida do enorme custo com aposentadorias.
Nada de com isso sugerir que os jovens sejam menos capazes ou
intelectualmente inferiores. Não é isso. O que é preciso ficar assentado é a
necessidade de se combinar o enorme efeito da combinação de dois fatores e
perfis: menos jovens e mais jovens.
Na conversa a que me referia e estou relatando, em determinado momento
olhou-se para o “como era antes”. A pessoa começava a trabalhar muito cedo.
Namorava muito cedo e saia da casa dos pais ainda jovem.
Hoje, um rapaz (ou uma moça), se forma mais ou menos com 22/24 anos, namora
ou vive uma relação importante, mas não sai da casa dos pais. Entra na empresa
como estagiário ou trainee e, de repente, é visto como um grande potencial, e,
por isso seria muito interessante fazer um Mestrado (2 ou 3 anos adicionais,
dependendo da área).
A análise demonstrou que o jovem de hoje, entra no seu período de maturação
aos 28/29 anos, e segue nesse amadurecimento até por volta dos 50 anos, quando
então terá passado por vários tipos de funções e será considerado um sênior.
Então, já na liderança de uma empresa ou de parte dela, conviverá com tudo o
que for o mundo daquele momento – mudanças, oportunidades e problemas, até
chegar aos seus 70/72 anos, quando entra na quarta idade.
Um certo número de pessoas ali presente, opinou então aos condutores da
conversa, entendendo que o momento da quarta idade seria o momento de “ir pra
casa”.
A conclusão do grupo, no entanto, não foi essa.
Na quarta idade, teremos que reconhecer muito em breve, o momento é de
mudança.
As pessoas sentem que são e continuam sendo úteis para a coletividade. A
diferença é que olham o que está ao redor e decidem que o caminho será
diferente do trilhado até aquele ponto.
Eu tenho um amigo que era VP de uma grande instituição. Se aposentou e
decidiu que 30% do seu tempo seria usado para fazer Consultorias; 30 % cento
seria dedicado à direção de instituições sociais e os 40 por cento restantes,
liberados para viajar ou ajudar empresas de pessoas de seu conhecimento e
amizade, num regime quase de executivo.
Tenho outro amigo que passou dos 80 anos e foi chamado pela companhia onde
trabalhou muitos anos (líder em sua área), e convidado a ser Consultor “ Ad Hoc
“ – porque era talvez o único que trabalhara em projetos pioneiros, mais
antigos e, hoje, considerados críticos para a empresa.
Nos Estados Unidos, muitas empresas têm chamado aposentados de volta para
seus lugares – revertendo-os ao serviço ativo.
Numa grande multinacional, tive uma funcionária, a qual, depois de passarmos
a trabalhar em diferentes setores, assumiu a Gerência de uma Private Bank área.
Quando completou 70 anos, ela foi convidada a se aposentar, o que fez.
Passados três meses, ela foi chamada de volta e lhe pediram que retornasse,
porque os clientes estavam deixando a instituição. Trabalhou ali até os 78
anos, quando infelizmente sofreu uma enfermidade por fatores exógenos e teve
mesmo que ir para casa.
O fato é que a conformação do que seja vida útil, adaptabilidade, vigor,
capacidade gerencial, interesse e carreira, está mudando na mesma razão em que
mudada já está o perfil etário da população do planeta.
Minha ideia, portanto, ao fazer esses comentários, não é lutar pelo
reconhecimento do que foi dito, mas, sim, convidar e desafiar os formadores de
opinião e tomadores de decisão, a repensar sua forma de ver o que acontece e o
que vai acontecer.
Talvez, assim, saibamos efetivamente o que precisa ser mudado.
Miguel Lisboa Cohen é advogado formado pela Universidade Federal do Pará. Pós-graduado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas – FGV e pela Harvard Business School – EUA. Foi CEO do Citibank em Honduras e El Salvador e Presidente do Banco de Honduras, Digibanco, Credicard e da American Express Brasil. Atualmente é CEO da Consultoria Moderna. Miguel, neste espaço, expõe seus dotes de cronista.
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