terça-feira, 4 de março de 2014

QUARTA IDADE, A NOVA IDADE




Quanto mais avançamos, mais retornamos ao princípio

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senior professional

Por Miguel Lisboa Cohen


Estamos vivendo num mundo diferente dos anteriores, e a cada momento descobrimos que o que passou é apenas lembrança.

Nesse contexto, infelizmente, há certos e poucos elementos que preocupam, pela pequena velocidade com que essas mudanças chegam e neles se enraízam.

Um desses está relacionado à idade, em especial à ainda chamada Terceira Idade.

Pessoas que passaram dos seus 60 anos, ao chegar aos 65, 70, são aposentadas e passam a viver uma realidade muito desigual e, porque não dizer, triste.

As “cabeças pensantes”, sobretudo nas áreas negociais, acham que o tempo útil dessas pessoas passou e, agora, elas devem ir para casa e descansar.
Sinceramente, isso não bate com a realidade.

Vou lhes contar algumas histórias que, tenho certeza, interessarão àqueles que possuem mente aberta.
Participei de um encontro com pessoas de nível intelectual muito alto e a discussão era sobre a existência da 4ª. Idade.

Eles falaram e mostraram haver diferenças muito fortes, entre o passado e o hoje. Demonstraram como pessoas antes consideradas velhas, hoje poderiam ser muito úteis e produtivas.
A coisa começou por uma análise das expectativas de vida.

Deram uma olhada no Tutancâmon, o Faraó do Egito. Analisaram como nasceu, viveu e morreu.
Tutancâmon tinha 19 anos quando se foi, já era casado e tinha filhos. A expectativa de vida, naquela época, era de 29 anos…

Pulou-se em determinado momento para o Brasil e o que se viu, foi que a expectativa de vida média, na virada do século XIX para o século XX, era de 43 anos. Nos anos 50, quando perdemos a Copa do Mundo de Futebol para o Uruguai, a expectativa de vida era de 50 anos.

Hoje estamos chegando aos 75 anos, com as mulheres quase nos 80 e os homens nos 72.

Nos Estados Unidos, a expectativa média chega aos 80. No Japão, já passou dos 80 há algum tempo.
Mantidos assim os atuais conceitos negociais – com um sessentão já considerado “acabado”, daqui 30 anos o mundo irá quebrar financeiramente.

Com efeito, a população mundial tende a envelhecer e a predominância de aposentados será insuportável.
A economia os demais setores de gestão da sociedade, além da perda da competência, experiência, conhecimento, capacidade gerencial, liderança e tudo mais que os mais velhos, possuem, perderá também em produtividade, agravando a contrapartida do enorme custo com aposentadorias.

Nada de com isso sugerir que os jovens sejam menos capazes ou intelectualmente inferiores. Não é isso. O que é preciso ficar assentado é a necessidade de se combinar o enorme efeito da combinação de dois fatores e perfis: menos jovens e mais jovens.

Na conversa a que me referia e estou relatando, em determinado momento olhou-se para o “como era antes”. A pessoa começava a trabalhar muito cedo. Namorava muito cedo e saia da casa dos pais ainda jovem.

Hoje, um rapaz (ou uma moça), se forma mais ou menos com 22/24 anos, namora ou vive uma relação importante, mas não sai da casa dos pais. Entra na empresa como estagiário ou trainee e, de repente, é visto como um grande potencial, e, por isso seria muito interessante fazer um Mestrado (2 ou 3 anos adicionais, dependendo da área).

A análise demonstrou que o jovem de hoje, entra no seu período de maturação aos 28/29 anos, e segue nesse amadurecimento até por volta dos 50 anos, quando então terá passado por vários tipos de funções e será considerado um sênior. Então, já na liderança de uma empresa ou de parte dela, conviverá com tudo o que for o mundo daquele momento – mudanças, oportunidades e problemas, até chegar aos seus 70/72 anos, quando entra na quarta idade.

Um certo número de pessoas ali presente, opinou então aos condutores da conversa, entendendo que o momento da quarta idade seria o momento de “ir pra casa”.
A conclusão do grupo, no entanto, não foi essa.

Na quarta idade, teremos que reconhecer muito em breve, o momento é de mudança.

As pessoas sentem que são e continuam sendo úteis para a coletividade. A diferença é que olham o que está ao redor e decidem que o caminho será diferente do trilhado até aquele ponto.

Eu tenho um amigo que era VP de uma grande instituição. Se aposentou e decidiu que 30% do seu tempo seria usado para fazer Consultorias; 30 % cento seria dedicado à direção de instituições sociais e os 40 por cento restantes, liberados para viajar ou ajudar empresas de pessoas de seu conhecimento e amizade, num regime quase de executivo.

Tenho outro amigo que passou dos 80 anos e foi chamado pela companhia onde trabalhou muitos anos (líder em sua área), e convidado a ser Consultor “ Ad Hoc “ – porque era talvez o único que trabalhara em projetos pioneiros, mais antigos e, hoje, considerados críticos para a empresa.

Nos Estados Unidos, muitas empresas têm chamado aposentados de volta para seus lugares – revertendo-os ao serviço ativo.

Numa grande multinacional, tive uma funcionária, a qual, depois de passarmos a trabalhar em diferentes setores, assumiu a Gerência de uma Private Bank área. Quando completou 70 anos, ela foi convidada a se aposentar, o que fez.

Passados três meses, ela foi chamada de volta e lhe pediram que retornasse, porque os clientes estavam deixando a instituição. Trabalhou ali até os 78 anos, quando infelizmente sofreu uma enfermidade por fatores exógenos e teve mesmo que ir para casa.

O fato é que a conformação do que seja vida útil, adaptabilidade, vigor, capacidade gerencial, interesse e carreira, está mudando na mesma razão em que mudada já está o perfil etário da população do planeta.

Minha ideia, portanto, ao fazer esses comentários, não é lutar pelo reconhecimento do que foi dito, mas, sim, convidar e desafiar os formadores de opinião e tomadores de decisão, a repensar sua forma de ver o que acontece e o que vai acontecer.

Talvez, assim, saibamos efetivamente o que precisa ser mudado.


Miguel Lisboa Cohen  é advogado formado pela Universidade Federal do Pará. Pós-graduado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas – FGV e pela Harvard Business School – EUA.  Foi CEO do Citibank em Honduras e El Salvador e Presidente do Banco de Honduras, Digibanco, Credicard e da American Express Brasil. Atualmente é CEO da Consultoria Moderna. Miguel, neste espaço, expõe seus dotes de cronista. 

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