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Classe média: "A classe média é bastante vulnerável. Basta um
crescimento menor que 2% durante dois ou três anos para que a capacidade
de gerar emprego seja afetada"
Da EFE
Miami - O Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) alertou nesta quarta-feira que o arrefecimento do crescimento econômico na região "ameaça a estabilidade da nova classe média" latino-americana.
Em comunicado divulgado hoje em Miami, o presidente-executivo do CAF,
Enrique García, afirmou que "se não for alcançado um padrão de
crescimento de aproximadamente 5% anuais, muita gente que acredita ser
parte da classe média vai voltar a cair na pobreza".
"A classe média é bastante vulnerável. Basta um crescimento menor que 2%
durante dois ou três anos para que a capacidade de gerar emprego seja
afetada", explicou o representante da CAF, entidade com ativos que
superam US$ 30 bilhões e que conta com a participação de 17 países
latino-americanos, além de Espanha e Portugal.
Segundo números do Banco Mundial (BM), mais de 70 milhões de
latino-americanos saíram da pobreza e 50 milhões passaram a fazer parte
da classe média entre 2003 e 2011.
O Fundo Monetário Internacional (FMI)
prevê que a economia regional crescerá 0,5% neste ano e 1,7% em 2016,
impactada por um "esfriamento" da economia chinesa que "afetou o
contexto global".
Em meio a esse novo contexto, o presidente-executivo da CAF, Enrique
García, afirmou que para proteger as classes médias, além de "um
crescimento mais robusto", será preciso "iniciar uma transformação
produtiva".
"O tema é como compartilhar o crescimento estável, torná-lo mais
equitativo, porque a nossa ainda é uma das regiões com maior
desigualdade do mundo. Isto deve ser vinculado ao tema produtivo. Aí
entram temas centrais como um sistema educacional inclusivo, avanços em
infraestrutura e uma diversificação da economia que gere mais e melhores
empregos", concluiu García.
A conclusão do presidente-executivo da CAF coincide com a análise da
maioria dos especialistas da região, que consideram que a mudança
ocorrida nos "ventos globais" nas últimas semanas e o "consequente
arrefecimento da economia regional" ameaçam a estabilidade da classe
média na América Latina.
"E o menor crescimento econômico ameaça reverter os avanços da classe
média, fundamental por seu impacto sobre o consumo e também um pilar da
estabilidade política e social", diz o CAF no comunicado divulgado nesta
quarta-feira.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud), que considera como classe média as pessoas com renda entre US$
10 e US$ 50 ao dia, ao redor de 216 milhões de latino-americanos seguem
sendo vulneráveis apesar dos avanços econômicos dos últimos anos.
"O maior risco é que estas pessoas voltem à situação de pobreza. O
emprego que foi gerado nos anos de bonança foi precário. Cerca de metade
dessas pessoas não têm cobertura de seguridade social e estão na
informalidade", afirma Eduardo Ortiz, pesquisador do Pnud.
A mudança no contexto global e suas consequências para a região e sua
classe média será um dos temas abordados por especialistas de todo o
mundo durante a Conferência Anual do CAF, organizada junto à Organização
dos Estados Americanos (OEA) e ao Diálogo Interamericano em Washington
nos dias 9 e 10 de setembro.
Peter Hakim, presidente emérito do Diálogo Interamericano, alertou
especialmente sobre o impacto da "agudização da desaceleração econômica
na China", o principal comprador das matérias-primas consumidas pela
região.
"Brasil, Argentina e Venezuela estão crescendo menos que há dois ou três
anos. Se isso for somado com o México, que cresce lentamente, já tem
quase 70% da população latino-americana em apuros", afirma Hakim.
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