Luciana Prezia
No Shopping Iguatemi, em São Paulo: roupas e acessórios corresponde a 70% do faturamento da rede no país
São Paulo - Kelly Slater, o maior surfista profissional do mundo, rompeu
com o patrocínio de 23 anos com a Quiksilver no ano passado.
A decisão de apostar em uma marca própria foi comparada a de outros
mitos como Michael Jordan, com a Nike, e David Beckham, com a Adidas. E
nada tem a ver com o recente pedido de recuperação judicial da matriz da companhia, na Califórnia.
Da mesma forma, a subsidiária brasileira cresceu o suficiente para “andar com as próprias pernas”, sem depender da matriz.
Nos últimos cinco anos, a filial dobrou de tamanho no país em
faturamento, um feito e tanto quando levado em conta que 70% das vendas
são de roupas para um público específico: amantes do surfe.
“Na prática, o pedido de concordata nos Estados Unidos não interfere em
nada nos nossos negócios”, garante Gustavo Belloc, diretor geral da rede
no Brasil.
Em entrevista a EXAME.com, Belloc contou sobre os planos da marca para o país. Veja a seguir:
EXAME.com – Qual a estrutura da Quiksilver no Brasil hoje?
Gustavo Belloc- Somos líderes no segmento de vestuário
para surfe e skate, com três marcas no portfólio, 1.800 pontos de vendas
em lojas multimarcas e 4 lojas próprias.
Neste ano, também vamos iniciar nosso processo de expansão por meio de
franquias. Esperamos ter quatro delas abertas até o final do ano e já
temos até contratos pré-assinados para isso.
A fabricação é terceirizada, tanto a de roupas, que representa 70% do
nosso faturamento, quanto a de calçados, que lançamos em 2013.
EXAME.com – A empresa tem sofrido com a crise no país?
Belloc- Nossas vendas cresceram no ano passado e, neste
ano, elas também devem ser maiores, ainda que não tanto quanto no ritmo
de anos anteriores.
Nos últimos cinco anos, tivemos um aumento de 114% em faturamento.
EXAME.com - Como estão se adequando ao cenário atual?
Belloc - Estamos aproveitando para investir no que
acreditamos que nos fará crescer. Dos nossos 170 funcionários, 50 foram
contratados neste ano, principalmente em decorrência do aumento da parte
logística.
Hoje temos dois centros de distribuição, um em São Paulo, para roupas e
acessórios, e outro em Alphaville, para os calçados. Eles foram
ampliados por conta da estratégia que traçamos para vendas online.
EXAME.com – Quais são os planos de crescimento para este ano e próximo?
Belloc – Queremos expandir essa distribuição por meio
de novos canais, uma decisão que estamos tomando com cautela para não
entrar em conflito com os nossos parceiros.
Em novembro começamos com nossa loja virtual que funcionará a todo vapor
a partir do início do ano que vem, com a venda de todos os nossos
produtos.
Hoje, vendemos nossos 2.000 itens lançados por ano em 2.000 pontos de
vendas, a maioria lojas multimarcas. Também temos lojas próprias, com um
modelo já foi testado, maturado e que queremos replicar por meio de
franquias.
EXAME.com – Quantas franquias da marca devem ser abertas e em quanto tempo?
Belloc - Nosso intuito é ter uma loja da marca nas principias capitais do país, mas preferimos não divulgar metas.
Os pontos terão diversos formatos para atrair níveis diferentes de
franqueados. Os tamanhos de lojas devem variar de 40 a 120 metros
quadrados e os investimentos de abertura, sem luvas, de R$ 350.000 até
R$ 700.000.
EXAME.com – Como o pedido de recuperação judicial da matriz, na Califórnia, afeta os negócios no Brasil?
Belloc – Na prática, o pedido de concordata nos Estados
Unidos não interfere em nada nos nossos negócios. Temos uma operação
independente no Brasil, uma das subsidiárias mais rentáveis do mundo.
Andamos com as próprias pernas.
A marca está no país há mais de 30 anos, mas só há 10 assumiu a operação
por meio de um sócio local. No final de 2013, nos tornamos uma
subsidiária, com administração própria.
EXAME – Se a empresa foi fundada na Austrália, por que a sede fica nos Estados Unidos?
Belloc - A marca foi fundada na Austrália, mas como a
operação americana era a principal em vendas e a Califórnia a referência
de surfe mundial, logo a matriz se mudou para lá.
Em 2005, no auge da companhia, eles compraram uma marca de esqui, que
acabou não sendo muito rentável, até porque tinha pouco a ver com nosso
negócio principal, de surfe.
A dívida que assumiram com a aquisição cresceu, desde então, agravada
pela crise. Por isso eles fizeram esse acordo financeiro, que vale
apenas para a operação de lá.
Foi uma manobra para não comprometer a empresa como um todo. Foi
necessário passar por isso para operar de forma mais saudável daqui em
diante.
EXAME.com – O que exatamente significa ser independente da matriz?
Belloc - Seguimos o direcionamento global em relação a
produto, marketing, processos, mas temos independência na maneira de
lidar com o negócio.
Para se ter ideia, 70% da nossa coleção é feita no país para atender
necessidades de consumidores brasileiros, tanto na parte de moda quanto
na parte de modelagem – principalmente a destinada às brasileiras.
EXAME – Além do Brasil, todas as demais subsidiárias trabalham de forma independente?
Belloc – A Quiksilver está em 90 países, com vários
modelos de negócios: subsidiárias, licenças e até operações diretas,
como no Peru e Panamá.
EXAME.com - Como funciona a verba de marketing e investimentos de lá para cá? E daqui para lá?
Belloc- Não enviamos verba daqui para a matriz, com
exceção dos dividendos que pagamos para eles, conforme nossa
disponibilidade de caixa.
Também há no Brasil uma etapa do circuito mundial de surfe, cujo
patrocínio é subsidiado por uma meta global, assim como acontece com
outros 10 atletas.
A cada trimestre apresentamos para a matriz alguns planos de negócios,
que incluem ações de marketing locais. Porém, a maior parte do lucro
gerado acaba sendo reinvestido no próprio negócio brasileiro.
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