Sergio Moraes/Reuters
Presidente do Banco Central: Alexandre Tombini disse que todos os
instrumentos estão à disposição e que reservas “podem e devem” ser
utilizadas
Josué Leonel, da Bloomberg
Com o dólar superando R$ 4,20 na máxima e os juros futuros apontando
taxas de até 17,50% nesta quinta-feira, aumentou no mercado a
especulação sobre o que o Banco Central pode fazer para evitar uma deterioração ainda mais profunda dos ativos brasileiros.
Alguns analistas defendem alta de juros e uso das reservas caso a
pressão se acentue, embora ninguém acredite que, sem um desfecho da
crise política, haverá solução consistente.
Perguntado nesta quinta-feira em entrevista coletiva sobre se considera
vender dólares das reservas, o presidente do BC, Alexandre Tombini,
disse que todos os instrumentos estão à disposição e que reservas “podem
e devem” ser utilizadas. Também afirmou que não há limitação de uso da
política monetária.
Após os comentários de Tombini, o dólar esboçou um recuo, mas logo
voltou a subir, sugerindo que o mercado vê o BC com força limitada para
administrar a crise. O problema, na voz quase unânime dos analistas, é
de confiança.
Segundo o estrategista do Goldman Sachs Alberto Ramos, o BC poderá
continuar com os leilões de swap ou até mesmo vender dólares das
reservas se entender que a disparada da moeda traz riscos para o sistema
financeiro. A alta de juros também poderia ser considerada.
A queda do dólar e a pressão dos juros, porém, deve-se à deterioração
macroeconômica e às incerteza políticas, diz Ramos. O Citigroup, em
relatório, acrescenta que a volatilidade do mercado deverá persistir até
que ocorra definição sobre impeachment.
Para Ramos, é indispensável uma estabilização do quadro político e um
forte compromisso do governo com reformas. “O mercado entende as
dificuldades fiscais de curto prazo. Mas é inexplicável o fato de não
termos nenhuma agenda de médio e longo prazo de reformas que interrompam
a alta inercial dos gastos públicos. E a reforma da Previdência é a
principal”.
O estrategista James Gulbrandsen, diretor de investimentos para América
Latina na NCH Capital, defende que BC eleve os juros em 3 pontos
percentuais, de 14,25% para 17,25%, para conter as pressões
inflacionárias e evitar que a dispara do dólar evolua para uma crise
cambial.
O estrategista da NCH é cético quanto a intervenções cambiais. “Vender
dólar não vai funcionar. Swaps não vão funcionar. Isso não funcionou por
3 anos. Por que funcionaria agora? Eles precisam ser corajosos”.
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