Denis Balibouse/Reuters
Corrupção: o esquema de propina afetou mais de US$ 80 bilhões dos
contratos entre a Petrobras e a Fundação Bill Gates, cerca de um terço
dos ativos totais
Nova York - A Fundação Bill & Melinda Gates,
a maior instituição filantrópica do mundo, entrou com processo contra a
Petrobras em Nova York para recuperar perdas com investimentos feitos
desde 2009 em papéis da empresa brasileira.
"A profundidade e a amplitude da fraude na Petrobras é espantosa", afirma a ação entregue na Corte de Manhattan.
O texto do processo afirma que, como admitiu a própria Petrobras, "o
esquema de propina afetou mais de US$ 80 bilhões de seus contratos,
cerca de um terço de seus ativos totais".
A Fundação Bill & Melinda Gates foi criada pelo fundador e
ex-presidente da Microsoft, Bill Gates, e sua esposa, Melinda Gates, em
2000 e não tem fins lucrativos. Com sede na cidade de Seattle, nos
Estados Unidos, tem US$ 44 bilhões em ativos. O fundo WGI Emerging
Markets Fund, com sede em Boston, também entrou na mesma ação.
Como réus no processo, além da Petrobras, é citada a PricewaterhouseCoopers, empresa que auditou os balanços da petroleira.
"Este caso surge de um esquema de suborno e lavagem de dinheiro
realizado pela Petrobras e deliberadamente ignorado pela PwC", afirma o
processo, de 103 páginas.
"Este é um caso de corrupção institucional, formação de quadrilha e uma
fraude maciça aos investidores", destaca a ação, aberta nesta
quinta-feira, 24, mas divulgada pela Corte nesta sexta-feira.
"A Petrobras não apenas escondeu a fraude do público investidor, a
empresa repetidamente burlou seus controles internos, suas informações
financeiras e a governança corporativa em suas declarações públicas",
ressalta o texto, mencionando que a verdade sobre a companhia "começou a
vir a tona" em setembro do ano passado, quando ex-executivos da
empresa, como Paulo Roberto Costa, começaram a delatar o esquema de
corrupção.
Por meio de divulgação de informações "falsas e enganosas" e "omissões",
a Petrobras conseguiu captar quantidade expressiva de recursos nos
últimos anos, incluindo US$ 70 bilhões em uma oferta de ações em 2010,
de acordo com o processo.
O documento afirma ainda que, nos últimos anos, os gestores de recursos
da Fundação Bill e Melinda Gates e do WGI Emerging Markets participaram
de diversas reuniões com executivos da Petrobras, foram a apresentações
para investidores no Brasil e nos EUA e acompanharam a empresa "de
perto".
Os gestores fizeram "repetidos questionamentos" sobre o ambicioso
projeto de investimento da Petrobras, mas sempre foram convencidos pelo
argumento de que a infraestrutura deficiente do Brasil demandava
investimentos do tipo.
O processo da Fundação de Bill Gates é a 16ª ação individual aberta
contra a Petrobras nos EUA este ano, com investidores reclamando
prejuízos por conta das investigações da Operação Lava Jato.
Além dessas, foram abertas mais cinco ações coletivas, que foram
unificadas em um único processo pelo juiz federal da Corte de Nova York,
Jed Rakoff. Fundos dos Estados Unidos, Irlanda, França, Holanda, Hong
Kong, Reino Unido, entre outros países, fazem parte das diversas ações.
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