Evandro Bertol
São muitas as obrigações fiscais brasileiras. IR, ICMS, PIS, Cofins e
ISS são parte de uma lista de mais de 90 impostos em vigor atualmente.
Por conta da quantidade e da dificuldade de interpretação, o sistema
tributário brasileiro ganhou fama de um dos mais complexos do mundo. Há
tantos detalhes envolvidos que é praticamente impossível para as
empresas atender à legislação sem a ajuda de profissionais e de
tecnologias específicas para organizar todas as informações. Neste ano, o
uso de softwares se tornou ainda mais necessário, com a implementação
de mais uma mudança no fisco: a chamada ECF, Escrituração Contábil
Fiscal, uma nova declaração que precisa ser entregue durante o mês de
setembro.
Na prática, trata-se de uma espécie de substituição da declaração de
imposto de renda das empresas (conhecida como Declaração de Informações
Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica – DIPJ), porém muito mais
detalhada. Na ECF, devem estar listadas todas as operações que fizeram
parte do cálculo da própria DIPJ e de outra taxa, a Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido (CSLL). “São informados na ECF transações
praticadas com empresas relacionadas no exterior, pagamentos e
recebimentos de serviços, remuneração paga a sócios, acionistas e
dirigentes, entre outras”, diz Marcus Vinicius Gonçalves, sócio da
auditoria KPMG no Brasil e especialista em impostos. “Apenas como
referência, a ECF é para as empresas o equivalente à declaração de
imposto de renda de pessoa física, que entregamos em abril de cada ano”,
afirma.
A intenção da Receita Federal é conseguir cruzar dados mais facilmente
para aumentar a precisão da fiscalização. No entanto, alcançar esse
nível de detalhamento exige uma boa dose de adaptação por parte das
empresas. Agora, a ECF é obrigatória para todas as pessoas jurídicas. Os
únicos isentos são as optantes pelo Simples, os órgãos públicos, as
autarquias, as empresas inativas e as imunes ou isentas do imposto de
renda.
O primeiro desafio das empresas é revisar seus processos para saber se,
da forma como atuam hoje, conseguem gerar e captar as informações que
passaram a ser exigidas. Depois, precisam encontrar uma forma eficiente
de organizar e transmitir esses dados.
“O sistema fiscal brasileiro tem uma complexidade sem igual no mundo”,
diz Marta Cristina Pelucio Grecco, pesquisadora do programa de
pós-graduação em ciências contábeis da Universidade Presbiteriana
Mackenzie. “O principal impacto dessa nova obrigação é que as empresas
não estavam preparadas para o nível de detalhamento exigido pelo fisco.”
Segundo Marta, tentar realizar esses levantamentos de forma manual é
muito trabalhoso, além de arriscado, uma vez que informações incompletas
ou incorretas podem gerar altas multas. “Para mitigar os riscos, é
necessário automatizar as operações”, afirma a pesquisadora.
Empresas e escritórios de contabilidade de qualquer porte contam com
algum tipo de software contábil para registrar suas operações. Mas o
nível de detalhamento que passou a ser exigido agora aumenta a
necessidade de usar os ERPs, ou sistemas integrados de gestão, softwares
mais robustos que cuidam de todas as áreas da empresa e reúnem dados em
uma única plataforma.
“Com o volume de informações existente atualmente e a complexidade do
sistema tributário, somente um sistema integrado, online e com regras de
escrituração muito bem planejadas pode dar conta dessa apuração”, diz
Flávio Morgado, coordenador do curso de sistemas de informação da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O especialista
também aconselha a escolha de produtos nacionais ou desenvolvidos
especificamente para o mercado brasileiro. “Deve-se tomar cuidado ao
comprar um software estrangeiro, pois é possível que a empresa de fora
não tenha ideia da complexidade do nosso sistema tributário, e o
processo de ‘tropicalização’ não é rápido nem barato”, afirma Morgado.
A pesquisadora Marta Cristina Grecco concorda. “Sistemas de gestão
integrados têm condições de resolver a questão, se forem brasileiros. No
ERP importado, muitas customizações serão necessárias. Um software
brasileiro, já desenvolvido para a nossa realidade, permite a
identificação de transações e contas que devem ter controles específicos
para o atendimento à legislação fiscal”, afirma. Outra vantagem de
escolher um produto nacional é contar com suporte para adaptações e
upgrades se (e quando) uma nova regra for implementada na legislação
fiscal, como foi a ECF.
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