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Provisões: empresas estão tendo dificuldades para honrar dívidas devido a
rise econômica, juros elevados, queda dos preços das commodities e
moeda desvalorizada.
Cristiane Lucchesi e Francisco Marcelino, da Bloomberg
A piora na crise de crédito corporativo no Brasil está forçando os maiores bancos do País a registrar perdas que vinham sendo capazes de evitar até agora.
O Banco Bradesco,
o segundo maior do País em valor de mercado, fez uma provisão de R$ 836
milhões (US$ 240 milhões) no primeiro trimestre para cobrir empréstimos
para a operadora de plataformas de petróleo Sete Brasil Participações,
disse uma pessoa com conhecimento direto do assunto na quinta-feira,
pedindo anonimato porque a informação não é pública. O lucro caiu 3,7
por cento.
O Itaú Unibanco, maior banco brasileiro em valor de mercado, e o Banco do Brasil, o número um em ativos, podem ser os próximos.
O Itaú, que divulgará o balanço do primeiro trimestre na terça-feira,
tomou em fevereiro recursos do FGCN, o fundo naval, como garantia para
empréstimos que a Sete Brasil não conseguiu honrar junto ao banco.
O Banco do Brasil possui uma exposição de cerca de R$ 4 bilhões à Sete
Brasil e ainda não provisionou recursos para todo esse valor, segundo
pessoas familiarizadas com o assunto.
“Esse aumento nas provisões do Bradesco aumenta a expectativa em relação
ao balanço do Itaú na semana que vem”, disse Max Bohm, analista da
Empiricus Independent Research em São Paulo.
“O balanço do Bradesco acende o sinal de alerta do que pode vir nos
próximos trimestres, sobretudo quando você olha para a inadimplência de
60 dias”.
A inadimplência no Brasil vem aumentando com as empresas e famílias lutando contra a pior recessão do País em um século.
A taxa de empréstimos atrasados há mais de 90 dias se manteve em março
em 3,5 por cento, o nível mais elevado em três anos, segundo dados do
Banco Central.
O número do Bradesco subiu para 4,2 por cento no primeiro trimestre,
contra 3,6 por cento no mesmo período do ano anterior. A taxa de 60 dias
do banco subiu 0,8 ponto percentual, para 5,3 por cento.
As empresas brasileiras estão tendo dificuldades para honrar seus
pagamentos devido à crise econômica, que já dura dois anos, aos juros
elevados, à queda dos preços das commodities e à moeda desvalorizada,
fatores que, combinados, prejudicam os lucros e as receitas. A
presidente Dilma Rousseff enfrenta um processo de impeachment e a crise
política, cada vez pior, paralisou as reformas para reativar a economia.
A Sete Brasil possui R$ 18 bilhões em dívida total, principalmente com
bancos locais. Suas finanças foram destruídas quando a Petrobras reduziu
um contrato de leasing de plataformas de 28 para 10 depois da queda do
petróleo e da Lava Jato. Em 20 de abril, os acionistas da Sete Brasil
decidiram pedir recuperação judicial, disse um representante da empresa
na ocasião, sem dar detalhes sobre os credores e o cronograma estimado.
A Caixa Econômica Federal possui exposição de R$ 1,7 bilhão à Sete Brasil. A do Bradesco é de cerca de US$ 450 milhões.
Riscos ocultos
Em vez de constituírem provisões, muitos bancos brasileiros vêm
reestruturando empréstimos, o que poderia mascarar o crescente risco dos
ativos, disse a Moody’s Investors Service em um relatório de 11 de
abril. As reestruturações aumentaram 37 por cento no fim de 2015 em
relação ao ano anterior.
Isso pode estar subestimando a inadimplência e
superdimensionando a cobertura com provisões, disse a agência de
classificação.
Representantes do Bradesco, do Banco do Brasil, da Caixa e do Itaú preferiram não comentar a respeito da Sete Brasil.
Os fundos de pensão estatais dos trabalhadores da Petrobras, do Banco do
Brasil e da Caixa Econômica possuem cerca de 38 por cento da Sete
Brasil e seus prejuízos dependeriam das provisões anteriores, disse uma
das pessoas. O Banco Santander Brasil também é acionista da empresa.
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