Comprometido com uma posição pró-impeachment de Dilma Rousseff, um
dia após a Câmara autorizar a abertura do processo de impeachment da
presidente o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil (CNA), João Martins, disse ao Valor Econômico que vários
presidentes de entidades patronais de setores como a indústria, o
comércio e os transportes devem manifestar apoio ao vice-presidente
Michel Temer na semana que vem, em encontro em São Paulo.
Na ocasião que ainda está sendo acertada pelo empresariado, as
confederações, aí incluída a própria CNA, vão “provocar” Temer para que
faça um pacto com o setor empresarial para recuperação da economia
brasileira no caso de o pemedebista assumir a Presidência da República. A
ideia também é apresentar seus pedidos para um eventual novo governo do
pemedebista.
O maior envolvimento da CNA no xadrez de Brasília acontece num
momento em que a crise política mexe diretamente com a estrutura de
poder interna da rede de federações e sindicatos da entidade, que já vem
declarando guerra aberta contra a ministra da Agricultura, Kátia Abreu,
amiga e defensora ferrenha de Dilma.
Segundo Martins, a palavra de ordem entre diretores da instituição é
impedi-la de retomar a presidência da entidade – a ministra é presidente
licenciada da CNA desde o início de 2015. Várias federações devem
sugerir a Kátia que renuncie ao comando da Confederação e se “for
necessário vamos convocar novas eleições”.
Em fala dura, Martins avalia que a posição de Kátia Abreu como
liderança política máxima do setor do agronegócio “chegou ao fim” e que
ela cometeu um “suicídio político” no momento em que escolheu defender o
atual governo e “cortou o cordão umbilical” que tinha com os produtores
rurais e com a própria CNA.
“A diretoria (da CNA) já se posicionou que não aceita mais o retorno
dela à presidência e as federações estão com esse mesmo propósito”,
destacou ele, lembrando que 26 das 27 federações de agricultura e
pecuária vinculadas à entidade não apoiam a volta da ministra. “A casa
está consciente de que vamos aos extremos para evitar o retorno dela, e
essa não é uma palavra do presidente, e sim de todos os diretores”,
frisou.
Martins sempre foi um dos principais aliados de Kátia nos oito anos
em que ela presidiu a entidade de classe e, ao longo do ano passado – o
primeiro da gestão da senadora à frente do ministério -, esteve leal à
ministra e totalmente alinhado com as bandeiras políticas dela. Diz,
contudo, que sua relação como atual presidente da CNA com Kátia Abreu,
enquanto permanecer ministra da Agricultura, “vai parar”. O
aprofundamento da crise política e o fato de Kátia não ficar do lado do
segmento rural em relação ao governo levou a essa situação, explica.
Em reunião na semana passada com a CNA, 14 entidades representativas
do setor, a maioria delas presididas por empresários aliados ou amigos
de Kátia Abreu manifestaram apoio à estratégia da CNA a favor do
impeachment de Dilma. Entre elas estavam a Aprosoja (produtores de
soja), a Abiec (indústria do setor de carne bovina), a Abramilho
(produtores de milho) e a Abrafrutas (produtores e exportadores de
frutas).
Quando questionado, porém, se tinha pretensões de se candidatar a
presidente da CNA, Martins, que é vice-presidente da entidade eleito na
chapa de Kátia, diz que não está em campanha pelo cargo e que apenas
será candidato caso a diretoria colegiada apoiá-lo. “Hoje é um consenso
da casa blindar a CNA de qualquer interferência político-partidária,
isso não podemos permitir”.
Em sua conta no Twitter, a ministra disse na madrugada de ontem que
continua ao lado de Dilma “acreditando’ em sua honestidade” e que ela
“não roubou e não cometeu crime de responsabilidade”. Procurada, Kátia
não quis comentar as declarações de Martins (Assessoria de Comunicação,
19/10/16)
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