Lupa: há interessados mas poucos têm o perfil procurado
São Paulo – Embora as previsões para 2016 sejam de crescimento bem mais
tímido, é inegável que, até agora, o tombo do PIB nacional só não foi
maior porque os resultados do agronegócio conseguiram segurar o país.
Único setor a registrar alta em 2015, o agronegócio responde por quase um terço (23%) do PIB do Brasil
e é um oásis de criação de novos postos de trabalho, em meio a um
cenário quase exclusivo de vagas de substituição. “O agronegócio é onde
está a vantagem competitiva do Brasil, carregou o PIB do país no ano
passado”, diz Jeffrey Abrahams, sócio-gerente do Fesap Group.
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Profissionalização de empresas nacionais e investimentos de
multinacionais são a boa nova para executivos e profissionais mais
técnicos quem buscam emprego
no setor. Profissionais de finanças têm sido, historicamente, os
executivos mais buscados, pelo Fesap Group na área de agronegócio: 35%
das posições trabalhadas no ano passado, e 29% nos últimos 9 anos.
Mas, fechar as contratações
não tem sido tarefa simples, segundo Muna Hammad, diretora de RH e
Comunicação para a América do Sul da Kemin, empresa global de
biotecnologia é especializada na fabricação de microingredientes para
uso na nutrição e saúde animal. A empresa cresceu 40% em 2015 e, neste
ano, criou 18 novos postos de trabalho nas áreas de vendas, produtos,
finanças e marketing.
“A gente não consegue encontrar profissionais com perfil que buscamos.
Em duas semanas, recebi 659 currículos para a posição de diretor de
financeiro. Destes, só 18 foram selecionados para a entrevista e apenas
cinco foram chamados para entrevistas”, diz Muna.
Currículo e realidade não batem
Conhecimento do mercado no Brasil, visão global, inglês fluente para se
reportar ao vice-presidente financeiro da sede da Kemin, nos Estados
Unidos, são alguns dos requisitos do cargo. A seleção iniciada em
fevereiro seguia sem definição até a semana passada. Tempo maior dos os
45 dias que duram em média uma seleção de executivo. “ É um processo um
pouco mais longo porque a validação da contratação passa por entrevista
nos Estados Unidos também”, diz.
O problema principal para a demora no processo, segundo ela, é que
muitas vezes o que está no currículo não corresponde à realidade. “O
profissional deixa de colocar a informação como deve só tudo será
checado”, diz a diretora de RH. Valores profissionais ligados a ética e a
exemplos de vida também são uma questão crítica do processo seletivo.
“Em muitos casos verificamos que os valores do profissional não condizem
com o que nós acreditamos na Kemin”, diz Muna.
Na opinião de Jeffrey Abrahams, do Fesap Group, recrutar executivos para
o agronegócio, de forma geral, é desafiador por natureza já que grande
parte das posições são para trabalhar fora do eixo Rio São Paulo.
“A questão geográfica é um limitador, acaba afastando profissionais com
filhos em idade escolar que tenham preocupação em relação a educação de
primeira linha, acesso a serviços médicos, entre outras questões”, diz
ele. No caso específico da Kemin, no entanto, a localização não é um
grande limitador.
No Brasil, suas fábricas estão em Indaiatuba (SP) e
Chapecó (SC).
E a dificuldade no recrutamento, segundo a diretora de RH da empresa se
estende também às vagas técnicas. “Nesses casos exigimos formações
técnicas nas áreas de zootecnia, agronomia, veterinária, engenharia de
alimentos, entre outras e anos experiência no segmento”, diz Muna.
Para estes profissionais, não há exigência de domínio de inglês e a
seleção conta com análise e filtragem de currículos, entrevistas técnica
e comportamental e a elaboração de uma apresentação de 20 minutos sobre
um tema ligado à sua área de atuação para um grupo de profissionais da
empresa.
“Neste momento é que ele é questionado no detalhe para sabermos
o quanto ele conhece do
mercado”, diz.
Segundo Muna, 70% dos técnicos que são selecionados para fazer a
apresentação não conseguem mostrar que seu conhecimento de mercado está
de acordo com o que escreveram no currículo. “A vivência de mercado é
menor do que o que eles dizem”, diz Muna.
Nervosismo em alta
E o nervosismo é um ingrediente cruel neste cenário. De acordo com Muna,
os candidatos, técnicos e executivos, estão, sim, mais ansiosos. Fusões
e aquisições que movimentaram o agronegócio no ano passado contribuíram
para isso, afirma o sócio-gerente do Fesap Group. “Há bons
profissionais disponíveis no mercado”, diz Abrahams.
Muitos dos currículos que chegam à Kemin, diz Muna, vêm de profissionais
já há um bom tempo procurando emprego. “Grande parte saiu do último
emprego em abril, maio do ano passado.”
E as consequências de tanta ansiedade vão do exagero na hora de falar
sobre realizações na carreira a erros simples, mas, totalmente
prejudiciais ao candidato. “ Vi um candidato que errou o próprio e-mail
de contato. Sua sorte foi que conseguimos localizá-lo pelo LinkedIn”,
disse.
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