Ex-deputado federal Eduardo Cunha foi preso pela Polícia Federal perto da casa onde morava em Brasília
Lava Jato: Eduardo Cunha é preso em Brasília pela Polícia Federal nesta quarta-feira (Adriano Machado/Reuters)
São Paulo — O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB) foi preso em Brasília pela Polícia Federal na tarde desta quarta-feira (19) no âmbito da operação Lava Jato. Segundo a PF, o peemedebista foi detido próximo ao prédio onde mora na capital federal.
O ex-deputado foi preso preventivamente por ordem expedida pelo juiz federal Sergio Moro, que trata
do caso do ex-parlamentar na Lava Jato desde que ele foi cassado e perdeu o foro privilegiado. Cunha é réu na operação sob acusação de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
O pedido de prisão foi feito pelo Ministério Público Federal (MPF) à Justiça Federal em Curitiba. Os procuradores sustentam que a “liberdade do ex-parlamentar representava risco à instrução do processo, à ordem pública” e que havia a possibilidade de Cunha fugir do país por possuir “recursos ocultos” no exterior e por ter dupla nacionalidade (ele é italiano e brasileiro).
O ex-deputado federal foi levado para o hangar da PF no Aeroporto de Brasília para embarcar para Curitiba, onde estão sendo conduzidas as investigações. A previsão é de que Cunha chegue por volta das 17h à capital do Paraná.
Procurada por EXAME.com, a assessoria de imprensa de Eduardo Cunha ainda não se pronunciou. O ex-deputado se manifestou em sua página oficial do Facebook nesta quarta-feira e afirmou que a prisão preventiva foi “uma decisão absurda, sem nenhuma motivação e utilizando-se dos argumentos de uma ação cautelar extinta pelo Supremo Tribunal Federal”.
Cunha afirmou ainda que seus advogados vão recorrer da decisão.
Motivo da prisão
Em nota, a Polícia Federal afirma que “diversos fatos evidenciaram a disposição de Eduardo Cunha de atrapalhar as investigações”. São citadas dez ocasiões com diferentes atitudes do ex-parlamentar com o objetivo de tumultuar as investigações.
Ainda de acordo com a nota da PF, o pedido de prisão emitido por Moro salienta que os crimes têm um “caráter serial” e afirma que isso caracteriza “risco à ordem pública”. “O ex-parlamentar federal figura em diversas outras
investigações relacionadas a crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, o que indica que a sua liberdade constitui risco à ordem pública”, escreve a PF.
A Polícia Federal informa também que a 6ª Vara Federal de Curitiba decidiu bloquear bens de Eduardo Cunha no valor de 220 milhões de reais.
A prisão de Cunha foi decretada na ação que investiga “corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas em fatos relacionados à aquisição de um campo exploratório de petróleo em Benin, na África”.
Medo de delação
A reportagem de Exame.com apurou que a preocupação entre os aliado
s mais próximos de Cunha é de uma eventual delação premiada. Há ainda rumores de que possa haver uma prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também na Lava Jato.
Os aliados de Cunha evitaram falar com jornalistas após a prisão do ex-parlamentar. O presidente do Senado, Renan Calheiros, que é do mesmo partido do ex-deputado, o PMDB, afirmou a Exame.com que “não estava sabendo de nada”. Na sequência, disse que não faria comentários sobre o assunto.
Um dos poucos deputados próximos de Cunha a falar foi Paulinho da Fo
rça, do solidariedade. Ele afirmou que o ex-deputado já esperava a prisão e que ação da PF não o pegou de surpresa. “Tenho certeza que Cunha não faria delação premiada enquanto solto. Agora, preso, que é uma nova condição, não posso garantir que ele não faça”, afirmou.
Para os deputados da oposição, uma eventual delação do ex-deputado pode atingir o governo. “Todos que deram proteção a ele e o mantiveram no comando da Casa devem estar preocupados. Muitos
parlamentares devem estar tremendo”, afirmou o deputado federal Ivan Valente (PSOL).
Vale lembrar que o ex-presidente da Câmara chegou a indicar membros do alto escalão do governo Michel Temer, que é do mesmo partido de Cunha, o PMDB. Na terça-feira (18), Temer decidiu adiantar a volta ao Brasil. Ele estava em uma viagem diplomática ao Japão.
Interlocutores do presidente disseram que a mudança seria para “economizar com hotel”. Assessores do presidente afirmaram que Temer está dormindo e que ainda não foi informado sobre a prisão do deputado cassado Eduardo Cunha.
Veja a íntegra da decisão de Moro:
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