O dia
de hoje rendeu uma excelente lição de Guerra Política em seu sentido
mais puro: aquele em que certos métodos são utilizados para obtenção de
um determinado resultado e, é claro, com êxito. A grande vantagem é que
tudo que Doria fez é amparado pela ética e o bom senso. Como este blog
sempre afirma, jogar a guerra política não significa jogar sujo, mas
sempre é preciso ser esperto e prestar atenção nos detalhes.
A essa altura quase todas as pessoas que
têm Internet já devem ter visto a bela jogada de mestre do prefeito
João Doria em reação ao vídeo da Amazon, no qual a empresa fez uma
provocação aos paulistanos em virtude dos muros cinzas pintados pela
prefeitura para remover as pichações. O ataque feito pela Amazon contra
o prefeito parecia ter até um ar de esperteza, mas certamente a equipe
de publicidade ficou de calças curtas com a postura adequadíssima de
Doria ao cobrar uma postura altruísta da empresa.
Esse método usado por João Doria é
extremamente. O inimigo faz um ataque sutil, como uma provocação, e em
vez de se mostrar irritado ele se mostra moralmente superior, cobrando
do oponente uma postura positiva. Para o público, os responsáveis pela
campanha de marketing da empresa ficaram parecendo uns tolos, enquanto o
prefeito manteve uma imagem positiva ao mostrar para o público sua
preocupação com as condições precárias das escolas públicas.
Isso, por si só, já seria uma grande
jogada, mas a coisa não parou por aí. Além de João Doria, entrou também
em cena o MBL, que compartilhou o conteúdo do Jornalivre em sua página
logo pela manhã. Como podem notar abaixo, a notícia sobre a reação do
prefeito teve alcance elevadíssimo:
Muitos direitistas se contentariam com
isso. No entanto, o MBL foi um pouco além e iniciou imediatamente uma
campanha para cobrar da Amazon que doasse para as escolas de São Paulo,
impulsionando ainda mais a estratégia de João Doria. Este post foi
publicado no MBL próximo ao meio dia e obteve aproximadamente 2,3 mil
compartilhamentos:
Logo em seguida, devido a pressão feita
pelo MBL, empresas começaram a se manifestar e aderir à campanha. Foi o
caso da KaBum e da Multilaser, por exemplo:
Perceba, no momento, que até aí ele já
havia virado a mesa. O tiro da Amazon, que certamente pensou ter feito
uma campanha genial de publicidade, já havia saído pela culatra há muito
tempo. O fato de estas empresas aderirem à campanha proposta pelo MBL
serve para mostrar, ainda de forma mais clara, que a atitude da Amazon
até aí foi mal vista pelo público. Publicitários mais espertos
entenderam a jogada e agiram em prol da imagem de suas empresas. Deu
certo!
A pressão, neste momento, já havia
ficado insuportável. Certamente diretores e publicitários da Amazon
passaram a tarde toda e até adentraram a noite discutindo o assunto para
tentar solucionar esta pequena crise de imagem para a empresa. Pode não
parecer tanto, mas esse tipo de coisa preocupa e muito os acionistas.
Uma empresa grande com um problema deste naipe tem bastante a perder.
No final da tarde, o MBL compartilhou
outra postagem do Jornalivre na qual o site mostrava a fachada do prédio
onde fica o escritório da Amazon no Brasil. Adivinhe só: tudo cinza,
sem pichações. Aí entrava em cena uma das regras de Saul Alinsky: “Faça
seu inimigo sucumbir pelo seu próprio livro de regras”. Como pode a
Amazon querer pichações nos muros da cidade se em seu próprio escritório
não há pichações? Se a Amazon valoriza tanto assim a “arte urbana”,
como a empresa hospedou seu escritório em um prédio que não tem nada
disso – e que ainda por cima é mais cinza do que qualquer muro pintado
pela prefeitura?
Neste momento, a empresa já havia sido
derrotada na guerra política – e publicitária. A decisão dos
marqueteiros que elaboraram o comercial com a provocação custou caro
para a imagem da marca. Isso fica ainda mais evidente quando o MBL
compartilha um texto do site O Reacionário, do colega Eric Balbinus, e
ele atinge altos níveis de curtidas (cerca de 10 mil):
Outro post do blog Ceticismo
Político, falando da postura de João Doria no jogo, alcançou 17 mil
curtidas, um número surpreendente para um conteúdo técnico:
As redes sociais só falaram disso o dia
inteiro. Não é para menos, já que uma grande empresa conhecida por boa
publicidade tomou uma surra publicitária do prefeito paulistano e de um
movimento político que muitos declararam, não poucas vezes, como morto.
No final do dia, a Amazon teve que ceder como única alternativa para
contenção de danos…
Se este caso serve para alguma coisa,
certamente é para mostrar que quando a Guerra Política é levada a sério
ela pode ser vencida pela direita. Normalmente a direita não faz isso.
Seria comum, aliás, que em vez de reagir como Doria, com um desafio, um
direitista reagisse na defensiva, se queixando pelo ataque recebido em
vez de revidá-lo de modo inteligente. Da mesma forma, normalmente um
movimento não sacaria tão rapidamente como agir diante disso. Muitos se
limitariam a divulgar os fatos e emitir opiniões. O MBL soube
capitalizar sobre a situação.
É um bom exemplo a ser seguido.
No cômputo final, temos os resultados das ações feitas na página do MBL durante o dia:
Em resumo, os posts sobre o assunto alcançaram 5.268.762 pessoas, tiveram 110.036 curtidas e foram compartilhados 23.415 vezes.
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