Por Guilherme Dalla Costa, publicado pelo Instituto Liberal
O Brasil tem
as maiores jazidas de nióbio do planeta, incríveis 98% das reservas do
mundo. Esse metal valiosíssimo, sem o qual a indústria aeroespacial
jamais existiria, tem, porém, seu preço ditado pelos ingleses e é
contrabandeado massivamente para fora do país, representando o maior
roubo de nossa História desde que os portugueses aqui descobriram o
ouro. O Brasil, ao invés de monopolizar esse precioso metal, tem a
oferta dele controlada por empresas estrangeiras. Tudo culpa da abertura
do mercado às empresas estrangeiras e das concessões. Deveríamos,
portanto, ter uma nova Vale do Rio Doce para minerá-lo.
É uma pena, porém, que quase nada disso é
verdade. Comecemos pela mais falsa (e hilária) parte: o contrabando de
nióbio. O Brasil possui, de fato, 98% das reservas mundiais de nióbio, e
ele se encontra aqui em maior concentração do que em qualquer outro
país. Que concentração é essa? 2,4%.
É um requisito para que algo seja contrabandeado que esse produto possa
ser carregado facilmente, como o ouro, que se encontra na mesma
concentração, porém se organiza naturalmente em pepitas, ou os
diamantes. O nióbio, porém, está pulverizado no solo, ou seja, para que
se contrabandeie apenas 1 kg do metal, seria necessário contrabandear
outros 39 kg de pedra por refinar. É uma mentira ridícula não só pela
inviabilidade de transporte, mas por que subornar os fiscais competentes
sairia infinitamente mais caro do que pagar os quase inexistentes
impostos, que podem ser vistos aqui.
O nióbio no Brasil é minerado
predominantemente por duas empresas: a CBMM, nacional e responsável por
mais da metade da produção mundial do minério, e pela Anglo American,
empresa sul-africana que produz algo como 10% da extração da CBMM. Essa
extração não só não é ilegal como muito bem documentada pelo Estado,
como se pode ver aqui e aqui.
Quem dita o preço, em última análise é a CBMM, ou seja, somos nós
brasileiros que controlamos o preço internacional do commoditie. E pra
que ele serve?
Dizer que a extração do nióbio se dá
apenas por demanda da indústria aeroespacial é tão legítimo quanto dizer
que o petróleo é extraído apenas por demanda da indústria de brinquedos
chinesa. Esse setor representa uma parte ínfima das vendas. O que
realmente movimenta a mineração é a construção de pontes, gasodutos e
oleodutos, além de plataformas de petróleo e mesmo carros, que são
construídos com uma liga de aço chamada ARBL. O motivo de se usar esse
metal e não outro é por ele ser mais leve e resistente do que, por
exemplo, o vanádio e o titânio. Isso explica o baixo preço do metal: não
se constrói nada do que ele é usado o tempo todo, então a demanda
flutua muito.
Por que, então, tendo um metal raro e
tão útil nós não vendemos por um preço mais alto? Por que apesar de,
como dito, ele ser mais leve e resistente, ele também tem o melhor custo
benefício. Não existe nenhum motivo para se usar nióbio senão esse. Se o
Brasil tentasse subir artificialmente o preço desse metal as
siderúrgicas ao redor do mundo simplesmente comprariam titânio e
vanádio. O nióbio, quem diria?, não é a salvação da pátria.
Nota: artigo publicado originalmente com o título “Mitos sobre a privatização em que você provavelmente acredita (VI)” em 2014.
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