Na conversa interceptada, o ministro chama o fiscal apontado como líder de esquema de “grande chefe” e questiona sobre problemas em um frigorífico no PR
São Paulo – O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, aparece em grampo telefônico capturado pela Polícia Federal durante as investigações da Operação Carne Fraca,
que desde o início da manhã desta sexta-feira (17) mira um esquema de
pagamento de propina de grandes frigoríficos a fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Na conversa interceptada, Serraglio, que assumiu o
ministério da Justiça neste mês, conversa com Daniel Gonçalves Filho,
superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016
e apontado pelos investigadores da Operação Carne Fraca como o “líder
da organização criminosa”.
De acordo com a decisão que embasa a operação de hoje, no
diálogo, o hoje ministro chama Gonçalves de “o grande chefe” e o informa
sobre problemas que um frigorífico de Iporã, cidade no noroeste do
Paraná, estaria tendo com a fiscalização do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento. Ele se refere ao frigorífico Larissa. Veja o
trecho da conversa revelado pela PF:
“OSMAR: Grande chefe, tudo bom?
DANIEL: Tudo bom.
OSMAR: Viu, tá tendo um problema lá em Iporã, cê tá sabendo?
DANIEL: Não.
OSMAR: O cara lá, que … o cara que tá fiscalizando lá …
apavorou o Paulo lá, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico ..
botô a boca … deixou o Paulo apavorado! Mas para fechar tem o rito, num
tem? Como que funciona um negócio desse?
DANIEL: Deixa eu ver o que tá acontecendo .. tomar pé da situação lá, tá? … falo com o senhor.”
Gonçalves, então, liga para Maria do Rocio Nascimento, chefe
do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da
Agricultura no Paraná, e conta “que o fiscal de Iporã quer fechar o
frigorífico Larissa e pede que ela averigue o que está acontecendo”.
Maria afirma que não há nada de errado com o frigorífico. A informação é, então, repassada ao ministro.
De acordo com o delegado Mauricio Moscardi Grillo,
as ligações do ministro da Justiça foram tratadas na operação com
contexto separado e foram encaminhadas para o procurador-geral da
República, Rodrigo Janot.
“Naquele momento, não houve ato errado que pudesse ser
concluído no contato de Serraglio com uma pessoa investigada”, disse o
delegado. “Não conseguimos concluir se houve interferência de Serraglio
no esquema.”
Com a palavra, o ministro
Em nota, o ministro da Justiça afirmou
que a operação é um exemplo “cabal” de que respeita a autonomia da PF e
que soube da citação de seu nome na investigação “como um cidadão comum”.
“Se havia alguma dúvida de que o ministro Osmar Serraglio,
ao assumir o cargo, interferiria de alguma forma na autonomia do
trabalho da Polícia Federal, esse é um exemplo cabal que fala por si
só”, diz a nota.
“A conclusão tanto pelo Ministério Público Federal quanto
pelo juiz federal é a de que não há qualquer indício de ilegalidade
nessa conversa degravada”, acrescenta a nota.
Operação Carne Fraca
A operação Carne Fraca investiga fraudes em fiscalizações do
Ministério da Agricultura com um esquema de pagamento de propina,
envolvendo duas das maiores companhias globais da indústria de carnes, a
JBS e a BRF.
Segundo os investigadores, os frigoríficos supostamente pagavam propinas a fiscais para que fábricas contaminadas
continuarem funcionando, entre diversas outras irregularidades nas
fiscalizações. Esta é a maior operação da história da Polícia Federal.
No total, mais de 1,1 mil policiais participam das investigações.
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