Riscos de não existência de petróleo nos poços da OGX estão claramente explicados no prospecto de abertura de capital da empresa
Por Cláudio GRADILONE
O mundo começou a acabar para o ex-bilionário Eike Batista no
início de julho, quando um fato relevante da OGX Petróleo, sua
principal empresa, informou que os três poços petrolíferos do campo
Tubarão Azul não eram economicamente viáveis. Em bom português, depois
de adiar sucessivamente a entrega do petróleo prometido, a empresa de
Batista declarou oficialmente que não tinha óleo com qualidade
suficiente para merecer ser explorado. “Não existe, no momento,
tecnologia capaz de viabilizar economicamente o desenvolvimento dos
campos de Tubarão Tigre, Tubarão Gato e Tubarão Areia”, informou a
empresa.
"Quem mergulhou de cabeça no mar de
petróleo prometido pela OGX não prestou atenção em que a própria empresa
advertia dos riscos de sua operação."
A reação do mercado foi a pior possível. As ações caíram 29%, de R$
0,79 para R$ 0,56, e nunca voltaram ao patamar anterior. Batista começou
a ser ofendido em prosa e verso nas redes sociais e fóruns de discussão
sobre o mercado de capitais. Como, depois de cinco anos da abertura de
capital que movimentou R$ 6,7 bilhões, a maior promessa de um empresário
que parecia ter o toque de Midas se revelara tão falha? Como um
processo que envolveu todos os bancos de investimento relevantes do
Brasil – UBS Pactual, Credit Suisse, Itaú BBA, Citibank, só para listar
alguns – se mostrara tão falho? Como foi possível enganar tanta gente?
No entanto, Batista não enganou ninguém. Quem mergulhou de cabeça
no mar de petróleo prometido pela OGX não prestou atenção em que a
própria empresa advertia dos riscos de sua operação. O prospecto de
lançamento das ações, um pesado documento de 588 páginas, era claro
quando dizia que a OGX poderia ser, literalmente, um furo n’água. Está
lá, na página 80:
“Nossas estimativas de potenciais recursos de petróleo e gás
natural envolvem um grau considerável de incerteza, que poderia afetar
de modo adverso nossa capacidade de gerar receita.”
“Um risco inerente aos recursos potenciais estimados é a
possibilidade de que nenhum poço seja considerado como recurso potencial
economicamente viável.”
“Revisões, em nossas previsões, que indiquem uma redução em nossas
estimativas de potenciais recursos poderão ocasionar, no futuro, uma
redução nos níveis das projeções previstas, o que poderia acarretar um
efeito adverso relevante em nossos resultados de operações e em nossa
situação financeira.”
Ninguém discute que a transparência das comunicações da OGX com o
mercado deva ser questionada. Nos seus tempos áureos, Eike foi apelidado
de “Senhor Fato Relevante”, dado o excesso de comunicados informando
metas de produção. Há razões para desconfiar que a OGX demorou mais do
que seria correto para informar que o petróleo não era viável. No dia
três de julho, dois dias após a divulgação do fato relevante, a Comissão
de Valores Mobiliários passou a investigar a OGX e outras empresas do
grupo.
Não é possível condenar Batista antecipadamente, assim como não é
possível absolve-lo a priori. No entanto, que não se diga que os
investidores não sabiam dos riscos que estavam correndo. Se preferiram
não acreditar, paciência. “Caveat emptor” – literalmente “cuide-se,
comprador” é o ditado mais velho do mercado financeiro, mas nem por isso
deixa de ser válido.
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