Executivos do setor comentam sobre blog que compara preços de apartamentos no Brasil e no Exterior. Facilidade de crédito e prazos de financiamento a perder de vista justificam alto valor, afirma Secovi
Por André JANKAVSKI
Um blog sobre o mercado imobiliário chamou atenção nas redes
sociais nessa segunda-feira 11. Comparando apartamentos e residências à
venda no Brasil com outros no Exterior, como nos Estados Unidos e
França, o site "Tem algo errado ou estamos ricos?" destaca os preços praticados no País para imóveis nem tão luxuosos como os vistos lá fora.
Dallas x São Paulo; St Potan (França) x Caçapava (SP) - site faz comparações dos mais diversos locais do País com o mundo
Utilizando anúncios de imobiliárias na internet, o criador compara,
por exemplo, uma casa de quatro quartos e 280 m² em Dallas, no estado
do Texas, nos EUA, com um imóvel de 260 m² localizado no bairro
paulistano de Cidade Dutra, em São Paulo. Nos dois casos, com a
conversão do dólar a R$ 2,30, o valor final é de R$ 540 mil.
De acordo com o vice-presidente de Marketing do Sindicato da
Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Élbio Fernández Mera, é impossível
comparar imóveis tão diferentes e de localidades distintas. "Achei
criativa a iniciativa, mas os valores estão relacionados com a demanda
de cada local", diz Mera. "Não faço ideia se esses lugares estão
aquecidos como aqui."
Professor da FGV e especialista no setor, Samy Dana concorda que
não se tem como tomar o preço final como critério para comparação, mas
crê que os valores praticados no Brasil estão fora da realidade do País.
“Nos Estados Unidos, por exemplo, as pessoas precisam trabalhar menos
horas para pagar essa quantia”, afirma Dana.
O que justifica essa alta, segundo o Sindicato da Habitação, são as
facilidades para se comprar um imóvel: financiamentos com prazos a
perder de vista e taxas de juros menores do que as praticadas no início
dos anos 2000. "Jovens estão deixando de comprar carros para adquirirem o
primeiro apartamento", diz Mera, da Secovi-SP.
Ainda de acordo com o Dana, existe a crença e a prática do "tolo
maior" no Brasil, aquele que pensa que o custo só pode aumentar. "A
pessoa sabe que está pagando caro, mas teme que o valor cresça ainda
mais lá na frente", diz o especialista da FGV.
Apesar dos preços dos imóveis usados terem caído 14,88% em 2012, de
acordo com o Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo,
para o especialista, uma “bolha imobiliária” é possível. “Ninguém sabe
da existência de uma até ela estourar”, afirma Dana, da FGV. Para a
Secovi-SP, a realidade é muito mais estruturada do que as especulações.
"Não existe nada de bolha, mas novos consumidores que antes não podiam
sonhar em compra uma casa", diz Mera.
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