O PERIGO DA INFLAÇÃO ALTA, MESMO ESTABILIZADA
A safra de números nada
edificantes sobre a economia brasileira continua, com o índice de inflação de
outubro, medida pelo IPCA, de 0,57%, em aceleração diante do 0,35% do mês
anterior. Já em base anualizada, nos últimos 12 meses, houve uma estabilização
próxima aos 6% — 5,84%, pouco menos que os 5,86% de setembro.
Por
trás das inevitáveis declarações de otimismo de autoridades econômicas, há um
cenário no mínimo incômodo, pois crescem os temores diante da política fiscal.
Não só devido ao déficit primário recorde de setembro — R$ 9,08 bilhões —, mas
também pela descrença em que os gastos de custeio deixem de se expandir numa
velocidade superior à da receita, influenciada por um ritmo lento de
crescimento da produção. Sem considerar as desonerações, corretas em si, mas
que, isoladamente, e por serem tópicas, não têm conseguido tirar a economia de
uma faixa medíocre de expansão — ao redor dos 2,5%, estima-se. Crescimento baixo, desconfiança no front fiscal
e inflação “engessada” na proximidade dos 6% — a meio ponto do teto da meta,
cujo centro, 4,5%, é que deve ser perseguido, algo que o governo Dilma deixou
de lado — não estimulam otimismo.
Compreende-se
que surjam análises negativas na imprensa internacional, como a expectativa,
publicada pelo inglês “Financial Times", de analistas do Barclays em São Paulo, de que o
Brasil poderá ser o primeiro país dos quatro grandes do grupo Brics a perder o
“grau de investimento” das agências de avaliação de risco. Na S&P, o viés do
país já é de baixa. Atentas ao mau humor com as perspectivas da economia,
autoridades se movimentam para dissipar o clima.
O
ministro da Fazenda, Guido Mantega, já admite que o superávit primário não
chegará aos prometidos 2,3% do PIB, mas diz que os números melhorarão até o
final do ano. Porém, muito em função de receitas extraordinárias — os R$ 15
bilhões do bônus de assinatura do contrato de exploração de Libra, eventuais
dividendos de empresas públicas, etc.
Para
complicar o quadro, a maior pressão no crescimento dos gastos em custeio vem da
área social — Previdência e seguro-desemprego, este numa alta em contradição
com um mercado de trabalho ainda aquecido. É difícil conter estas despesas —
por serem compulsórias e também por motivos político-eleitorais.
Cai,
então, mais uma vez sobre o Banco Central a responsabilidade de, por meio de
novo aperto na política monetária (juros), tentar quebrar o engessamento da
inflação na faixa dos 6%, para impedir que os mecanismos de indexação piorem
ainda mais as coisas. E, como se aproxima o ano eleitoral, também chega a hora
de saber o tamanho da real autonomia do BC.
(Fonte:
O Globo)
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