Aécio Neves
Consideradas em seus resultados práticos, as diretrizes federais para a
área de segurança podem ser resumidas pela expressão popular "salve-se
quem puder". Essa é a desalentadora leitura da 7ª edição do Anuário
Brasileiro de Segurança Pública, divulgado semana passada.
Em 2012, o número de assassinatos no país ultrapassou a espantosa casa
dos 50 mil. Isso representa nada menos do que 10% dos assassinatos
estimados em todo o planeta, número superior às baixas verificadas em
conflitos armados na Tchetchênia, Angola ou Iraque.
O Anuário traz outra constatação alarmante. A taxa de estupros
ultrapassou a de homicídios e chegou a 26,1 ocorrências por 100 mil
habitantes. Os 50,6 mil casos registrados podem estar subestimados, já
que muitas mulheres agredidas acabam não indo à polícia.
Quem está prestes a completar o 11º ano à frente do governo não pode
atribuir o patamar atual da criminalidade a qualquer suposta "herança
maldita" ou continuar terceirizando responsabilidades. Não há uma
política nacional para o setor, em particular para enfrentar o crime
organizado, com seu brutal poder de fogo: o contrabando, tráfico de
armas e de drogas.
Chama a atenção a flagrante paralisia do governo nessa área. Segundo
dados da ONG Contas Abertas, dos R$ 3,1 bilhões previstos para
investimentos no ano passado, R$ 1,5 bilhão sequer foram empenhados. E
apenas 23,8% do total previsto se transformaram efetivamente em ações
contra a convulsão registrada na área. É inacreditável, mas é verdade:
do total das despesas em segurança no país, só 13% vêm dos cofres da
União. Isso sem falar das promessas que não saíram da propaganda
eleitoral.
Considerando que os Estados atuam hoje no limite de sua capacidade, o
momento exige cada vez mais ações convergentes e de envergadura
nacional, já que as organizações criminosas agem em mais de uma unidade
da Federação. Em respeito aos brasileiros e ao nosso futuro, é
fundamental que o governo federal assuma maior responsabilidade diante
desse quadro e coordene um amplo esforço na busca de soluções. Existem
experiências localizadas bem sucedidas que poderiam ser úteis aos
brasileiros de outras localidades.
A falência do nosso sistema prisional precisa ser enfrentada. É hora de
discutir o papel das polícias, assim como a adoção de medidas que
diminuam o escandaloso grau de impunidade existente. É inaceitável a
atual tolerância ou disfarçada complacência com o avanço da
criminalidade e o recrudescimento da violência no país.
Nesse quadro perverso, uma antiga desigualdade social se acentua, onde
os que detêm poder aquisitivo compram segurança privada e a população
mais pobre fica relegada à própria sorte.
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