Clima e realocação de verba para obras da Copa são apontados como causas do problema que atrapalha a colheita e o escoamento da safra
Por Rodrigo Vargas, de Cuiabá (MT)
As fortes chuvas que atingem quase todas as regiões de Mato Grosso
desde o início do ano vêm causando grandes dificuldades na colheita e no
escoamento da supersafra de soja 2013/2014.
Seis municípios decretaram situação de emergência na região do
Araguaia, nova fronteira agrícola do Estado. Na região médio-norte, pólo
da produção nacional, estradas de acesso às propriedades estão em
péssimo estado.
"Nossas preocupações são dentro da porteira e, principalmente, fora
dela, pois se continuar nesta situação o custo de produção desta safra irá aumentar", disse o presidente da Famato (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso), Rui Prado.
Campeão mundial em produção de soja, o município de Sorriso (400 km de
Cuiabá) é um dos que mais sofre que a situação. Segundo levantamento da
prefeitura, os mais de 2,6 mil quilômetros de estradas não-pavimentadas
da cidade estão quase intrafegáveis.
"Cerca de 80 pontes e pontilhões também precisam de reparos diversos,
sendo que destas, seis não resistiram às constantes chuvas e ao alto
nível dos rios", apontou a federação, em nota.
O prejuízo, de acordo com estimativa do Imea (Instituto Mato-grossense
de Economia Agrícola), já equivale a quase 2% da produção total do Estado sendo que, em algumas propriedades mais atingidas, o percentual de perdas chegou a 30%.
"Estimamos que já perdemos aproximadamente R$ 500 milhões em função das
chuvas e das dificuldades para escoar a produção pelas estradas", disse
Rui Prado.
Nesta semana, em reunião com o governador Silval Barbosa,
representantes do setor produtivo cobraram medidas emergenciais para
amenizar os problemas vivenciados no campo. Ouviram que o governo do
Estado irá repassar aos municípios atingidos cerca de cinco milhões de
litros de óleo diesel para serem empregados nos trabalhos de recuperação
das vias de escoamento.
"Com o apoio do governo em disponibilizar óleo diesel e o apoio dos
produtores, que estão identificando os locais mais críticos e
emergenciais, acredito que vamos conseguir colher a safra", avaliou o
presidente.
Copa
A má condição das estradas no Estado não pode ser atribuída
exclusivamente ao clima. Desde 2009, por um decisão do governo estadual,
30% de um fundo destinado a financiar obras na malha viária estadual
(Fethab) são reservados para obras da Copa do Mundo em Cuiabá.
Até 2013, a fatia reservada à competição somou quase R$ 900 milhões. No
ano passado, a Famato criticou o desvio de finalidade das verbas do
fundo, que são arrecadadas sobre operações internas envolvendo soja,
gado em pé, algodão, madeira e óleo diesel.
Nesta semana, pressionado pela proximidade do evento, o governo
publicou um decreto orçamentário destinando R$ 56 milhões em verbas suplementares para a secretaria responsável pela gestão das obras para o evento em Cuiabá (Secopa).
Mais da metade dos recursos saiu do orçamento da pasta de Transportes e
Pavimentação Urbana: R$ 33,4 milhões, que originalmente seriam usados
para recuperar pontes e pavimentar rodovias.
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