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Executivas: nos Estados Unidos, empresas chefiadas por mulheres deram
retorno médio de 339%, enquanto empresas do S&P retornaram 122%.
Camila Russo, da Bloomberg
Katharina Miller participa das reuniões de acionistas de quase todas as grandes empresas espanholas e, depois que outros perguntam sobre dividendos e lucros, ela faz uma pergunta a um grupo invariavelmente dominado por homens: Por que há tão poucas mulheres no conselho?
Na reunião anual da Abertis Infraestructuras, no dia 12 de abril em
Barcelona, Katharina se dirigiu aos 11 homens e às cinco mulheres que
compõem o conselho da empresa e, como sempre, enfatizou que não
perguntava como feminista, mas como investidora interessada em proteger
seus retornos.
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“O número de mulheres em seu conselho é alarmante”, disse Katharina, com
um vestido de tweed cor de ameixa que sobressaía na multidão de ternos
escuros.
“As empresas onde há uma maior presença feminina obtêm resultados econômicos melhores e se expõem menos ao risco”.
Ela tem razão, especialmente em relação ao sul da Europa. Em todo o
mundo, as empresas com mulheres na diretoria têm um desempenho superior
àquelas dirigidas só por homens.
Na Europa, a diferença é maior em países como Itália, Portugal e Espanha, onde as mulheres sempre tiveram menos representação.
Nos lugares onde a dominação masculina nas empresas supera a média
europeia, as vantagens de incluir mulheres são ainda maiores, porque as
poucas que conseguem entrar no mundo corporativo sem dúvida são
excepcionais, disse Julia Dawson, analista do Credit Suisse.
Quando “é mais difícil para as mulheres obter cargos de liderança, essas
mulheres tendem a ser extraordinárias”, disse Julia, uma das autoras do
relatório CS Gender 3000 do banco.
“Basta uma única mulher para começar a romper a dinâmica de pensamento
de grupo masculino e isso pode ajudar a melhorar o desempenho”.
No sul da Europa, as empresas com mais diretoras que a média nacional
tiveram um desempenho quase 55 pontos percentuais superior ao daquelas
com diretoria composta exclusivamente por homens nos últimos três anos,
de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Durante o mesmo período, o desempenho das empresas do índice
Pan-European Stoxx Europe 600, cujo conselho tinha uma representação
feminina superior à média do indicador foi cerca de 5 pontos percentuais
melhor que o das empresas que não tinham nenhuma mulher no conselho.
Diversidade = desempenho
Embora não existam fundos de investimento especializados em empresas do
sul da Europa com uma presença forte de mulheres na liderança, o número
de investimentos baseados no gênero com o objetivo de aproveitar os
benefícios resultantes de um melhor desempenho geral aumentou.
Por exemplo, o Pax Ellevate Global Women’s Index Fund, de US$ 93
milhões, subiu 3,2 por cento neste ano até o dia 29 de abril, em
contraste com um avanço de 1 por cento das ações globais.
O fundo, que inclui Microsoft, Yahoo e Procter & Gamble, investe em
empresas seguindo critérios como o número de mulheres em cargos
executivos e nos conselhos.
“A comunidade financeira está acordando para a enorme quantidade de
pesquisas e provas que mostram que investir em empresas mais
responsáveis ou sustentáveis não pressupõe um custo e, muitas vezes, o
desempenho é superior”, disse Julie Fox Gorte, que administra o fundo
Pax.
No sul da Europa, “onde a diversidade nos conselhos é menor, as empresas com diretoras tendem a ter o melhor desempenho”.
Ironicamente, à medida que as empresas se tornarem mais igualitárias em
relação ao gênero, o investimento na diversidade provavelmente
enfraquecerá, disse Karen Rubin, gerente de produto da plataforma de
negociação Quantopian, com sede em Boston.
Entre as 1.000 maiores empresas dos EUA, as que são dirigidas por
mulheres deram um retorno médio de 339 por cento entre 2002 e 2014, em
contraste com um retorno de 122 por cento do índice S&P 500, de
acordo com a pesquisa de Karen.
“Se metade de CEOs fossem mulheres, essa estratégia provavelmente não
seria interessante”, disse Karen. “Todos nós esperamos chegar a esse
ponto, mas em geral tendemos a pensar que, em uma situação de igualdade
absoluta, algumas mulheres seriam boas dirigentes e outras não, e as
condições seriam mais iguais”.
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