Banco de fomento deve conceder menos crédito no ano que vem, mas especialistas acreditam que grandes empresas terão demanda atendida por instituições financeiras privadas e mercado de capitais
Por Ana Paula RIBEIRO
A intenção do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) de tirar o pé do freio em 2014 não deve causar problemas a
grandes empresas. A avaliação de especialistas é que os conglomerados
de maior porte terão facilidade em encontrar outras fontes de acesso ao
crédito, como as instituições privadas e o mercado de capitais. "As
grandes empresas devem encontrar espaço no sistema bancário privado.
Possuem bons ratings (avaliação de risco) e devem ser atendidas",
avalia o economista João Augusto Salles, da Lopes & Filho
Consultoria.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, espera que o BNDES reduza as concessões de crédito em 2014
O BNDES deve terminar o ano com concessões em torno de R$ 190
bilhões. Se o valor se confirmar, se um crescimento de quase 22% em
relação a 2012. No entanto, para o ano que vem, o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, já avisou que o ideal é que esses desembolsos fiquem
entre R$ 150 bilhões e R$ 155 bilhões, evitando, assim, necessidade
constante de aportes por parte do Tesouro Nacional. A ideia é concentrar
os esforços do banco de fomento no financiamento a obras de
infraestrutura, que por serem de longo prazo não atraem as instituições
financeiras privadas.
Salles lembra que é natural que os créditos de longo prazo para
obras de infraestrutura necessárias a um País fiquem concentradas em
bancos de fomento. O grau dessa concentração é maior ou menor de acordo
com o momento. O comportamento expansivo do BNDES nos últimos anos,
similar ao do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, fez com que
as instituições públicas se tornassem responsáveis por mais da metade do
crédito no país - em 2008, essa participação era pouco superior a 30%.
Mas a participação dos bancos privados deve limitar-se ao crédito
para grandes empresas. A avaliação é que esse grupo de instituições
financeiras ainda não possui condições em ter uma participação maior no
crédito de longo prazo, ou seja, financiar a infraestrutura. O professor
Ricardo Almeida, do Insper, lembra que esses bancos captam recursos de
curto prazo. "Se elevarem muito a participação na concessão de
empréstimos de longo prazo, haverá um descasamento entre ativos e
passivos", diz. A saída, nesse caso, seria desenvolver o mercado de
capitais no país.
Um dos instrumentos criados pelo governo para facilitar a captação
de longo prazo por parte dos bancos foi a letra financeira, que começou a
ser emitida em 2010. Atualmente, o estoque desses papéis é de R$ 287,2
bilhões, cerca de 15% do total de depósitos (à vista, de poupança, CDBs,
letras financeiras, entre outros) das instituições financeiras no
país.
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