O Brasil prometerá à China segurança jurídica para atrair
empresas chinesas a participar de licitações nos projetos bilionários de
infraestrutura no país, mas rejeitará qualquer demanda para abrir o
mercado brasileiro a trabalhadores chineses nesses projetos. Hoje, o
vice-presidente Michel Temer vai liderar, ao lado do
vice-primeiro-ministro chinês Wang Yang, a Comissão Sino-Brasileira de
Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), que tratará dos
principais temas das relações econômicas entre os dois países. Esse é o
principal foro de negociação bilateral e procura solucionar impasses e
estreitar a cooperação em diversas áreas.
Na quinta-feira, Temer será recebido pelo presidente da China, Xi
Jinping, e pelo vice-presidente, Li Yuanchao, em Pequim. A mensagem que o
vice-presidente brasileiro levará é clara. "Vamos oferecer a abertura
que estamos fazendo para as grandes empresas internacionais. A China
acabou de participar com duas estatais dos leilões do campo de Libra.
Mas temos 7.500 km de rodovias, 10 mil km de ferrovias, portos,
aeroportos. Vamos incentivá-los a participar dessas licitações", afirma
Temer.
Indagado sobre quais garantias daria aos chineses, diante de dúvidas
na cena internacional, com percepção de mudanças de regras no Brasil, o
vice-presidente disse que, primeiro, quer tentar demonstrar que o país
vive, "diferentemente do passado, um clima de muita estabilidade
institucional". "Pretendemos dar segurança jurídica, sei que quanto mais
muda a legislação, mais instabilidade cria", disse Temer. "O que
pretendo pregar aqui e lá (em Pequim) é a segurança jurídica desses
relações. O Brasil não rompe contratos."
O vice-presidente - que teve um encontro preliminar com o
vice-primeiro-ministro chinês, em Macau, o que, segundo ele, serviu como
"aquecimento" - disse que os chineses se queixam um pouco da burocracia
brasileira, mas não percebeu, durante a conversa, preocupação sobre
insegurança jurídica. Em relação aos financiamentos chineses, deixou
claro que o Brasil está aberto. "Se eles puderem financiar muita coisa
lá, será ótimo para nós", afirmou Temer.
No encontro com o presidente Xi, Temer vai tratar também da visita do
líder chinês ao Brasil no ano que vem. Xi queria ir em julho, durante a
Copa do Mundo, para uma visita oficial e para a reunião de cúpula dos
Brics.
"A tendência para aumentar nossa parceria é muito evidente. É
impressionante o crescimento da China", afirmou Temer. Ele parecia
surpreso com a disciplina extraordinária dos chineses no jantar em
Macau, na segunda-feira. Começou as 19h e iria terminar as 20h. No
horário previsto anunciou-se o fim do jantar.
Mas os chineses dão de novo sinais de querem tentar levar seus
trabalhadores para projetos de que participarem no Brasil, como fazem na
África, possibilidade que o governo brasileiro rejeita. Em 2009, numa
visita do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim, o
Ministério do Comércio chinês confirmou ao Valor que
seu governo achava que as empresas seriam mais estimuladas a fazer
investimentos no Brasil se Brasília aceitasse que Pequim exportasse mão
de obra. Na África, já há 700 mil chineses, que acompanharam os bilhões
de dólares investidos em captação de matérias-primas no continente.
Na reunião de hoje da Cosban, a China dificilmente anunciará a
concessão da autorização para o Banco do Brasil abrir uma agência em
Xangai. A estrutura está toda montada, mas falta o sinal verde do
governo chinês. Por outro lado, está confirmado para 10 de dezembro o
lançamento do quarto satélite desenvolvido em parceria, o CBERS-3, que
já está na base de lançamento de Taiyuan.
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