Autor: Guilherme Fiuza
Discursando no Senado, em comemoração aos 25 anos de
promulgação da Constituição, Lula disse que a imprensa “avacalha a
política”. E explicou que quem agride a política propõe a ditadura.
Parem as máquinas: para o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, a imprensa
brasileira atenta contra a democracia. É uma acusação grave.
O Brasil não tinha se dado conta de que os jornais, as rádios, a
internet e as televisões punham em risco sua vida democrática.
Felizmente o país tem um líder atento como Lula, capaz de perceber que
os jornalistas brasileiros estão tramando uma ditadura. Espera-se que a
denúncia do filho do Brasil e pai do PT tenha acontecido a tempo de
evitar o pior.
No mesmo discurso, Lula cobriu José Sarney de elogios. Disse que o
senador maranhense, então presidente da República, foi tão importante na
Constituinte quanto Ulysses Guimarães. Para Lula, Sarney sim é, ao
contrário da imprensa, um herói da democracia.
É compreensível essa afinidade entre os dois ex-presidentes. Sarney e
seu filho Fernando armaram a mordaça contra O Estado de S. Paulo.
Proibiram o jornal de publicar notícias sobre a investigação da família
Sarney por tráfico de influência no Senado, durante o governo do PT.
Isso é que é democracia.
A imprensa é mesmo um perigo para a política nacional. Ela acaba de
espalhar mais uma coisa horrenda sobre o governo popular – divulgou um
relatório do FMI que denuncia a “contabilidade criativa” na tesouraria
de Dilma. Contabilidade criativa é uma expressão macia para roubo, já
que se trata de fraudar números para esconder dívidas e gastar mais o
dinheiro do contribuinte. Assim, a imprensa avacalha a política petista,
cassando-lhe o direito democrático de avacalhar as contas públicas.
Lula faz essa declaração no momento em que manifestantes em São Paulo
e no Rio de Janeiro, numa epidemia fascista, depredam e incendeiam
carros da imprensa, além de agredir jornalistas. Luiz Inácio sabe o que
faz. Sabe que suas palavras são gasolina nesse fogo. E não há nada mais
democrático do que insuflar vândalos contra a imprensa – já que o método
Sarney de mordaça é muito trabalhoso, além de caro.
Do fundo do mar, onde desapareceu há 21 anos, Ulysses Guimarães deve
estar quase vindo à tona para tentar entender como Lula conseguiu
exaltar a Constituição cidadã e condenar a imprensa num mesmo discurso.
Ulysses morreu vendo a imprensa expor os podres de um presidente que
seria posto na rua.
Ulysses viu a imprensa ressurgir depois do massacre
militar contra a liberdade de expressão. Ele mesmo doou parte de sua
vida nessa batalha contra o silêncio de chumbo. Ao promulgar a
Constituição cidadã, jamais imaginaria que, um quarto de século depois,
um ex-oprimido descobriria que o mal da democracia é a imprensa. E
estimularia jovens boçais a fazer o que os tanques faziam contra essa
praga do jornalismo.
Lula saiu de seu discurso no Senado e foi almoçar com Collor – cujo
governo democraticamente conduzido pelo esquema PC também foi avacalhado
pelos jornalistas.
A união entre Lula e Collor é uma das garantias do Brasil contra a
ditadura da imprensa, essa entidade truculenta e abelhuda. E o país se
tranquiliza ainda mais ao saber que Lula e Collor estão unidos a Sarney.
Com esse trio, a democracia brasileira está a salvo.
Chegará o dia em que a televisão e o rádio servirão apenas aos
pronunciamentos de Dilma Rousseff em nome de seus padrinhos, poupando os
brasileiros de assuntos ditatoriais como mensalão, contabilidade
criativa, tráfico de influência, Rosemary Noronha e outras avacalhações.
Infelizmente Collor se atrasou e não pôde comparecer ao almoço. Lula
pôde celebrar seu discurso com outros democratas, como o seu anfitrião, o
senador Gim Argello (PTB-DF) – a quem a imprensa golpista também vive
avacalhando, só porque ele responde a vários processos e a inquérito no
STF por apropriação indébita, peculato, lavagem de dinheiro e corrupção
passiva. Com a mídia avacalhando a política desse jeito, não dá nem para
almoçar em paz com um amigo do peito.
A Argentina e a Venezuela, que Lula e o PT exaltam como exemplos de
democracia, já conseguiram domesticar boa parte da imprensa. Com a
reeleição de Dilma, o Brasil chega lá.
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