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Thomas Piketty: o economista francês diz que América Latina deveria pensar sobre moeda única
São Paulo - Para o economista Thomas Piketty, professor da Paris School
of Economics que se tornou uma sensação mundial com a obra "O Capital no
Século XXI", chegou a hora de debater a criação de uma moeda única na América Latina.
O tema foi debatido em entrevista com a BBC Mundo durante o Festival Hay de Cartagena, na Colômbia, do qual ele foi participante.
Primeiro, Piketty disse que os países precisam tomar cuidado quando
recebem investimento estrangeiro demais, já que isso coloca em risco a
soberania e a habilidade de formar consensos sobre a distribuição dos
custos.
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E nesse caso, uma maior união política e monetária dos latino-americanos
poderia ser útil, já que "é mais fácil controlar os fluxos de capital
numa grande escala do que no nível relativamente pequeno de um
estado-nação".
Questionado pelo jornalista se isso não seria muito mais difícil por aqui do que na Europa, o economista nota que o tema não é algo "para o ano que vem", e sim para ser debatido com tempo.
De qualquer forma, caberia agora à Europa mostrar para o mundo que uma
moeda comum é possível - e para isso precisa caminhar na unificação de
coisas como dívidas, impostos e tudo que ficou inacabado.
"A América Latina deveria esperar e ver o que se passa com este
experimento e em seguida fazer da sua maneira. Mas isto deveria se
suceder no longo prazo", diz Piketty.
Apesar do euro não ter tido nenhuma debandada de membros em seus 14 anos
de existência (nem mesmo da cambaleante Grécia), o debate sobre até que
ponto ele foi bem-sucedido permanece em aberto.
Veja o que Piketty disse sobre alguns outros assuntos:
Impostos e desigualdade
"Em um país como o Brasil - mas é algo que se vê em vários países
latino-americanos, incluindo a Colômbia - há uma estrutura fiscal que
depende muito de impostos indiretos, taxas sobre o consumo e impostos
muito altos sobre eletricidade. E quando se herda uma fortuna, se paga
0% ou 2% em impostos. Isso tem que ser mais equilibrado. Não dá para
pagar 20% ou 30% de impostos na conta de luz e e 0% ao receber uma
grande fortuna de família".
Commodities e ganhos sociais
"Está claro que os preços das commodities tiveram um papel grande nos
altos e baixos de muitos países da América Latina nos últimos 15 anos. O
que é realmente importante é usar os períodos de preço alto para
investir em outros setores, e isso é algo que não se fez tanto quanto
deveria.
Mas em alguns países os preços das commodities não são a única razão
para o desempenho em nível social. Penso em algumas reformas educativas,
como a introdução do Bolsa Família e o salário mínimo no Brasil".
Venezuela
"A Venezuela é um caso muito triste. Há um acordo de que o dinheiro
proveniente do petróleo provavelmente foi usado de forma mais equitativa
para financiar investimento social no governo Chavez do que nos
anteriores. E de certo modo isso é positivo.
Mas ao mesmo tempo, olhando pro futuro, não investiram apropriadamente
em setores alternativos ao petróleo. E mais importante, tiveram muita
pouca democracia, muito pouca transparência e ataques à neutralidade do
instituto de estatísticas e aos meios de comunicação".
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