A presidente teve que recorrer a uma campanha publicitária para vender os benefícios de ser o anfitrião da Copa ao país mais louco por futebol
Dilma chuta bola ao lado do governador da Bahia, Jaques Wagner: um
desempenho ruim como sede da Copa poucos meses antes da eleição pode ser
um golpe à candidatura
Você sabe que existe um problema quando Dilma Rousseff,
a presidente daquele que é talvez o país mais louco por futebol na
Terra, precisa recorrer a uma campanha de relações públicas para vender
ao Brasil os benefícios de ser o anfitrião da Copa do Mundo deste ano.
É uma resposta reveladora para uma sequência impressionante de eventos:
desde junho, quando milhares de brasileiros de classe média foram às
ruas para protestar contra a má qualidade dos serviços públicos e os
gastos excessivos em estádios de futebol, a Copa do Mundo passou de
motivo de orgulho para uma responsabilidade política.
O vídeo “Não, eu não vou à Copa do Mundo”, de Carla Dauden, tornou-se o
grito de guerra de muitos brasileiros irritados. Muitos brasileiros
ficaram descontentes em julho quando o presidente da Fifa, Sepp Blatter,
se perguntou “se tomamos a decisão errada dando o direito de ser a
sede” ao Brasil.
O real problema para Dilma é que ela vai procurar se reeleger em
outubro. Um desempenho ruim como sede da Copa do Mundo poucos meses
antes da eleição pode ser um golpe à sua candidatura. Não é à toa que
Dilma está tão ansiosa para convencer os brasileiros a sorrirem para as
câmeras.
O jornal O Estado do São Paulo publicou declarações de um funcionário
do governo Dilma, na semana passada, dizendo que a campanha para gerar
apoio à Copa do Mundo foi desenvolvida para evitar que as pessoas “se
deixem levar pela loucura”.
A loucura em questão é uma campanha intitulada “Não vai ter Copa”, que
vem se tornando popular nas redes sociais. No mês passado, o Partido dos
Trabalhadores, de Dilma, criou a hashtag #VaiTerCopa, no Twitter, como
resposta.
Que Dilma está em plena campanha é inegável. Ela participou pela
primeira vez do Fórum Econômico Mundial em Davos, no mês passado, em um
esforço para ganhar o apoio dos investidores em meio ao recente
desempenho econômico medíocre do Brasil.
O timing político da campanha de relações públicas é tão óbvio que
Rudolf Kunz, em sua coluna em O Estado do São Paulo, no sábado, disse
que a decisão de Dilma de nomear um novo ministro das Comunicações foi
uma tentativa de “enfrentar com maior vigor as notícias negativas e
cuidar de forma mais cuidadosa dos interesses do partido”.
Pelé também saiu em defesa da Copa do Mundo no mês passado ao pedir que as pessoas que protestam “não estraguem a festa”.
“Espero que a gente tenha essa consciência: deixar passar a Copa do
Mundo”, disse ele. “Aí vamos reivindicar o que os políticos estão
roubando ou desviando. Isso é outra coisa. O futebol só traz divisas e
só traz benefício para o Brasil”.
O Brasil tem problemas maiores que os manifestantes do lado de fora dos
estádios onde os jogos serão realizados. Até janeiro, seis dos 12
estádios da Copa do Mundo ainda não estavam prontos.
Os últimos protestos indicam que as medidas de segurança podem não ser
suficientes para o evento. E as companhias aéreas e aeroportos do Brasil
não têm capacidade para lidar com a demanda de torcedores que voarão de
um lado ao outro entre as cidades-sede.
A verdade é que o governo Dilma é muito menos popular que o mundial de
futebol. Uma consulta publicada pelo Datafolha em outubro mostrou que 63
por cento dos brasileiros apoiam a Copa do Mundo.
São números melhores que o índice de aprovação de Dilma, de cerca de 41
por cento em novembro, segundo uma outra consulta do Datafolha.
Na segunda-feira, José Américo Dias, porta-voz do Partido dos
Trabalhadores, desviou a insatisfação dos brasileiros de Dilma. Os
brasileiros estão fartos dos políticos em geral, disse ele.
“Se a Copa tem algum significado político neste ano, não será contra a
Dilma, mas a favor”, disse. “Isso porque temos a convicção de que a
competição será um sucesso absoluto”.
Se a raiva e a frustração dos brasileiros com o governo Dilma se
justificam é algo a ser decidido nas urnas. Mas, problemas da presidente
à parte, a marca do Brasil a longo prazo é um assunto muito mais
importante.
Os brasileiros preocupados com essa imagem, e com seu
próprio destino econômico, devem esperar que tudo corra bem na Copa do
Mundo.
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