Dado Galdieri/Bloomberg
Operário caminha em área do Porto de Açu, no Rio de Janeiro
Juan Pablo Spinetto, da Bloomberg
Quando o império do ex-bilionário Eike Batista colapsou, a EIG Global Energy Partners LLC assumiu o controle de seu projeto mais valioso: uma startup portuária brasileira tão ambiciosa e sofisticada quanto arriscada e sedenta por capital.
Dois anos depois, o investimento de R$ 1,8 bilhão (US$ 520 milhões)
agora tem o sabor de um negócio único na vida, semelhante à compra da
Louisiana pelos EUA, no início do século 19, disse Kevin Lowder,
vice-presidente da EIG, uma empresa de investimento com sede em
Washington.
O Porto de Açu, que fica em um lote de terra maior do que Manhattan,
assinou contratos com empresas como BG Group Plc e Votorantim Metais SA
neste ano. A Anglo American Plc começou a operar seu terminal lá em
outubro.
Embora o valor das exportações ainda seja bem menor se comparado com o
de portos vizinhos, a história de sucesso de Açu se destaca em um país
atingido pelo queda dos preços das commodities e por uma recessão que
deverá ser a maior em 25 anos.
A queda nos preços está, na verdade, pesando a favor de Açu, disse Lowder.
“Durante um ambiente de preços mais baixos das commodities, cada dólar
por barril conta”, disse ele em entrevista no Rio de Janeiro, na sede da
Prumo Logística SA, a empresa controlada pela EIG que administra Açu.
“Existe uma pressão para reduzir custos e é isso que esse projeto faz”.
A experiência de Açu contrasta com a do maior complexo marítimo do
Brasil, o Porto de Santos, a 800 quilômetros ao sul, onde o valor dos
embarques despencou.
Macaé, uma cidade do estado do Rio de Janeiro chamada pelos
especialistas do setor de capital petrolífera do Brasil, também está
enfrentando problemas.
90 quilômetros quadrados
O Porto de Açu tem uma vantagem geográfica sobre outros portos porque
está mais perto dos campos petrolíferos mais produtivos do Brasil e tem
muito espaço livre, disse Victor Mizusaki, analista de transporte do
Bradesco BBI SA.
Açu tem 90 quilômetros quadrados de espaço, contra 7,7 quilômetros quadrados de Santos, segundo as empresas.
“Os outros portos têm dificuldades para se expandir”, disse Mizusaki,
por telefone, de São Paulo. E vai demorar algum tempo para que outras
startups portuárias possam competir, disse ele.
“Eles estão pelo menos cinco anos à frente de qualquer outro projeto similar no Brasil”.
A receita operacional da Prumo mais do que quadruplicou em relação a um
ano antes, para R$ 75,4 milhões (US$ 21,9 milhões) no primeiro
trimestre.
Contudo, o montante representa menos de um terço do registrado pela
Santos Brasil Participações SA, cujo terminal em Santos é o mais
movimentado da América Latina, segundo registros regulatórios.
O fato de a Prumo -- anteriormente chamada de LLX -- ter emergido dos
escombros do colapso do império de mais de US$ 30 bilhões de Eike
Batista para se tornar a próxima esperança brasileira de impulsionar as
exportações também a coloca em destaque.
A startup petrolífera OGX -- agora chamada OGpar -- está envolvida em
uma batalha judicial com credores relacionada a um navio-sonda.
Após iniciar o projeto portuário, em 2007, Eike agora possui menos de 0,3 por cento das ações da Prumo.
Escândalo de corrupção
Isso se soma à onda de negociações dos últimos meses, incluindo um
acordo-chave com a produtora de petróleo BG, para usar Açu para o
transbordo de até 200.000 barris de petróleo bruto por dia, com início
das operações em outubro.
O porto assinou um contrato de três anos com a Votorantim Metais SA no
mês passado para exportar bauxita e importar coque de petróleo.
O CEO da Prumo, Eduardo Parente, disse que a empresa espera assinar mais
um ou dois contratos com produtoras de petróleo antes do fim do ano.
Mesmo com preços mais baixos e um escândalo de corrupção na gigante
petrolífera estatal, a Petrobras, “as pessoas ainda precisam de muita
infraestrutura para o petróleo”, disse Parente.
“Essa crise nos ajuda em muitos sentidos”.
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