Alexandre Cabral
31 março 2016 | 06:40
Nos últimos 12 meses (mar15 – fev16), 1.706.695 pessoas
perderam seus empregos com carteira assinada no Brasil. Na realidade,
foram 18.556.602 os que perderam o emprego. Mas, como outros 16.849.907
ingressaram no mercado formal no mesmo período, o saldo final é de 1,707
milhão de trabalhadores que deixaram de ter carteira assinada.
Se considerarmos que, nesse período, tivemos 252 dias úteis
(excluo aqui os sábados e domingos), vemos que 6.776 trabalhadores foram
demitidos por dia útil. Ou, 282 por hora (6.776 / 24 horas).
Para termos ideia:
– A Hering possui 7.548 trabalhadores, equivale a fechar uma Hering a cada 1 dia e 3 horas.
– O Bradesco possui 93.902 trabalhadores, equivale a fechar um Bradesco a cada 14 dias.
– A Hering possui 7.548 trabalhadores, equivale a fechar uma Hering a cada 1 dia e 3 horas.
– O Bradesco possui 93.902 trabalhadores, equivale a fechar um Bradesco a cada 14 dias.
Se separarmos por setor, vemos que a construção civil fechou 1.609
empregos por dia útil; o comércio, 882 postos de trabalho; e o setor de
serviços, 1.446 vagas. Apenas o setor agropecuário contratou, mas foram
míseros 41 trabalhadores por dia.
O que pretendo debater aqui: esses dados, o histórico desses números,
como chegamos até aqui e se temos alguma esperança de mudança. Uma
pergunta que sempre me faço: será que já chegamos ao fundo do poço? Ou o pior ainda está por vir? Eu acho, infelizmente, que ainda pode piorar…
Muitos desses trabalhadores que perderam a carteira assinada estão
partindo para um negócio próprio. Mas esse é o momento? Com a economia
tão ruim, como ter um negócio diferenciado e bem-sucedido? Não é o meu
foco de discussão aqui, mas tenho medo de que empreendedorismo demais
não leve a lugar algum.Construção civil fechou 1.609 empregos por dia útil; o comércio, 882 postos de trabalho; e o setor de serviços, 1.446 vagas
Introdução sobre as fontes dos dados utilizados neste texto
Dados: disponibilizados no site do IBGE, que é o responsável pela divulgação desses números.
Desemprego: vou considerar o efeito sazonal, para ter um padrão único no texto.
Padrão sazonal: geralmente o desemprego cai em
dezembro, porque as pessoas conseguem trabalhos temporários, ou não
procuram emprego nessa época festiva. O IBGE trata os meses de dezembro e
fevereiro de maneira diferente dos demais meses do ano. E vou
considerar esse modo diferente de cálculo.
Carteira assinada: dados calculados pelo IBGE, com abrangência nacional.
Pesquisa Mensal de Emprego (PME): calculada pelo IBGE apenas para seis cidades – Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar): divulga dados dos planos de saúde.
Alguns números sobre a variação de pessoas com carteira assinada:
Entre março de 2015 e fevereiro de 2016, tivemos um saldo negativo de 1.706.695 de postos de trabalho.
Entre março de 2015 e fevereiro de 2016, tivemos um saldo negativo de 1.706.695 de postos de trabalho.
Especificamente em 2015 (jan-dez), tivemos perda de 1.552.953 vagas no setor formal.
Causa de todos esses números ruins
Condução equivocada da política econômica nos últimos 4 anos:
a. Usar os preços administrados como política de combate à inflação, aumentando ou diminuindo os preços ao bel-prazer e não de acordo com as necessidades das empresas (lembrar do setor elétrico, cujas tarifas o governo derrubou na canetada!);
a. Usar os preços administrados como política de combate à inflação, aumentando ou diminuindo os preços ao bel-prazer e não de acordo com as necessidades das empresas (lembrar do setor elétrico, cujas tarifas o governo derrubou na canetada!);
b. Gastar muito mais do que arrecada;
c. Não fazer reforma da Previdência, que gera um enorme prejuízo para os cofres públicos;
d. Colocar um ministro da Fazenda (Joaquim Levy) que não tinha apoio nem da Presidência da República;
e. Briga eterna com o Congresso, não conseguindo aprovar medidas importantes para economia;
f. Tentativa de aumentar a arrecadação via aumento de impostos e não via aumento da produção. Essa decisão é inflacionária.
Lava Jato impactando demais o setor de extração mineral.
E, no ambiente externo, podemos destacar: queda nos preços das commodities no mundo e um menor ritmo de crescimento chinês.
Uma coisa devemos ter em mente: o Poder Executivo pode ser o maior
culpado pela situação atual, mas não é o único. O boicote do Congresso
ao governo também está atrapalhando demais a evolução da economia.
Simplesmente a Câmara e o Senado estão parados há 1 ano, em uma luta
interminável com o Poder Executivo. Não podemos paralisar o País por
causa de ideais políticos, isso é inadmissível! Já que o governo não
tinha ideias boas, por que o Congresso não propôs novas medidas para
implementar mudanças na economia? Será um boicote proposital, na linha
do “quanto pior, melhor”? Para se pensar.
Continuo dizendo que o maior erro foi por parte do Executivo.
Mas não podemos passar a mão na cabeça do Legislativo, que também tem
sua responsabilidade pela crise.
População doente não produz!
Aqui vou utilizar o ano de 2015 como base, porque o último dado divulgado pela ANS sobre planos de saúde é de dezembro de 2015.
Todos nós sabemos que a rede pública de saúde tem muitas falhas e
deficiências, como falta de material e de profissionais qualificados e
uma fila de espera eterna. Eu conheço uma pessoa que, depois de fazer um
exame de sangue, demorou seis meses para conseguir marcar uma consulta.
O exame já perdeu todo o sentido. Resumindo, o nosso serviço público de
saúde é ruim demais. Por isso, parte considerável da população tem
planos de saúde privados. O que chama a atenção é que dados divulgados
pela ANS mostram que, no ano passado, 766.031 pessoas cancelaram ou perderam os seus planos de saúde.
Esse número é divulgado desde 2005 e é a primeira vez que temos queda
na quantidade de usuários de planos de saúde, considerando como base de
comparação os dados do ano anterior. Em dezembro de 2015, tínhamos
49.730.405 pessoas com plano de saúde.
No mesmo mês do ano anterior,
eram 50.496.436. Essa notícia é péssima! Péssima, porque temos
mais de 700 mil pessoas que perderam os planos de saúde. E população
doente produz menos. Onde essas pessoas vão parar? Em clínicas
de baixo custo, com tratamentos de qualidade duvidosa?
Vão gastar o
dinheiro da poupança para algum tratamento médico? Ou vão parar no
Sistema Único de Saúde (SUS)? Se a maior parte for para o SUS, o setor
vai ficar ainda mais sobrecarregado.
Vamos olhar esses dados com carinho (vou dividir por faixa etária):
– Pelos cálculos da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, em 2015,
tínhamos 1.733.000 pessoas desocupadas nas seis capitais pesquisadas e
um total de 9.087.000 de pessoas desempregadas em todo o País – essa
discrepância ocorre devido a critérios diferentes de contagem de
desempregados e abrangência territorial diferente. Vou juntar esses
números com a evolução da quantidade de usuários de planos de saúde, com
alguns destaques. Devido aos critérios de pesquisa usados pelo IBGE,
vou considerar os dados somente das 6 cidades – tenho consciência de que
não é a forma ideal de estudo, mas é o que tenho em mãos.
a. Entre 18 e 24 anos: em 2015, tivemos um aumento
de 171.000 pessoas desocupadas, passando de 345.000 para 516.000
trabalhadores. Nessa mesma faixa etária, no mesmo período, 200.027
perderam seus planos de saúde. Comparando os dois números, vemos que a
quantidade de pessoas que perderam os planos de saúde é maior que o
grupo de trabalhadores que perderam seus empregos. São 29.027 a mais. O
que podemos concluir? Que a família passou a sentir as
dificuldades econômicas, muitos pais que pagavam plano de saúde para os
filhos perderam o emprego e, com isso, tiveram que cortar várias
despesas.
b. Entre 25 e 49 anos: no ano passado, 370.000
pessoas perderam o emprego. O número de desocupados passou de 565.000,
em dezembro de 2014, para 935.000, em dezembro de 2015. Nesse grupo,
nesse mesmo período, 426.796 pessoas perderam os seus planos de saúde. Aqui
nesta faixa etária, está a grande massa trabalhadora e isso é muito
preocupante, pois temos o desemprego aumentando, ao mesmo tempo em que
diminui o número de usuários de planos de saúde particular e, como disse
anteriormente, população sem saúde produz menos. Esse dado, apesar de ainda ser um número baixo, deveria alarmar os governantes.
c. Mais de 50 anos: em 2015, o número de desocupados nesta faixa
etária passou de 98.000 para 189.000, um aumento de 91.000 pessoas. Aqui
tivemos um crescimento de 41.606 de usuários de planos de saúde. O
principal motivo é que essa população está mais estabilizada
financeiramente e sente menos o desemprego. Para analisar os dados de
planos de saúde neste grupo, considerei pessoas com idade entre 50 e 65
anos.
Portanto, olhando para todos esses números, vemos que a
população está perdendo o emprego e boa parte está perdendo também o seu
plano de saúde. Se ficar doente, bem-vindo ao SUS!
Grau de escolaridade (considero aqui até fevereiro de 2016)
O IBGE divide a população de desocupados em 3 grupos: quem estudou
por até 8 anos, quem estudou de 8 a 10 anos; e aqueles que tiveram mais
de 11 anos de estudo.
Se pegarmos a variação de pessoas desocupadas de dezembro de 2014 a fevereiro de 2016, teremos os seguintes cenários:
– Até 8 anos de escolaridade: número de desocupados passou de 145.000 para 275.000, uma variação de 90%.
– Entre 8 e 10 anos de escolaridade: número de desocupados passou de 239.000 para 441.000, uma variação de 85%.
– Mais de 11 anos de escolaridade: número de desocupados passou de 690.000 para 1.299.000, uma variação de 88%.
Portanto, temos uma variação muito parecida entre os diferentes níveis de escolaridade.
Porém, se ampliarmos essa base de dados até o começo do governo Dilma, em 2011, percebemos que essa estatística muda bastante, com as seguintes variações:
– Até 8 anos de escolaridade: o número de desocupados passou de 238.000 para 275.000, uma variação de 16%.
– Entre 8 e 10 anos de escolaridade: o número de desocupados passou de 315.000 para 441.000, uma variação de 40%.
– Mais de 11 anos de escolaridade: o número de desocupados passou de 725.000 para 1.299.000, uma variação de 79%.
Considerando essa base de dados mais ampla, vemos que quem mais sofreu foram os que mais estudaram.
Por que será? Você, leitor, deve saber tanto quanto eu que a economia
vai de mal a pior e que pessoas com maiores salários (geralmente com
maior grau de instrução) são as que mais estão sentindo as consequências
dessa crise, já que ganham mais, são mais caras para as empresas, e, se
demitidas, geram uma redução de custo maior. Além disso, nos últimos
anos, as pessoas passaram a estudar mais e, com isso, mudaram de grupo
na estatística.
Rendimento Médio Real do Trabalhador
Em fevereiro de 2016, foi de R$ 2.227,50. No mês de janeiro, tinha sido de R$ 2.262,51. Se analisarmos historicamente, vamos perceber que temos hoje valor parecido com o de novembro de 2011, quando o rendimento médio real do trabalhador brasileiro era de R$ 2.223,11. Portanto, o poder de compra da população também está diminuindo.
Olha que círculo vicioso:
Perco o emprego => Consumo menos => Empresário vende menos => Demite para manter a empresa.
Continuo empregado => Perco poder de compra => Compro menos
=> Empresário vende menos => Demite para manter a empresa.
Estamos em uma espiral negativa bem preocupante. E, para
piorar, o consumo das famílias representa 60% do PIB. Ou seja, se esse
consumo vai mal…
FIES e o futuro.
Só um detalhe sobre emprego e estudo. Eu sou completamente a favor do
FIES, o Fundo de Financiamento Estudantil. Acho que é uma forma de
colocar a população para estudar. Só que, na minha opinião, a maneira
como esse financiamento é feito hoje não ajuda em nada ou melhora muito
pouco. Como eu pensaria o FIES? Primeiro, imaginaria o Brasil
daqui a 10 ou 20 anos. De que profissionais precisamos para o País
crescer? De pessoal para a área médica? De educadores?
Veterinários? Acho que ninguém falaria em veterinários. Portanto, não
faz nenhum sentido termos FIES para estudantes de Veterinária. Desculpe,
mas esse tipo de incentivo não muda o futuro do Brasil. Temos que ter
um FIES para financiar a formação das pessoas que vão ajudar a construir
o Brasil do futuro. Precisamos de educação e saúde, é claro, mas não
somente desses dois. Por que não pensar no Brasil como líder do setor
automobilístico? Nesse caso, precisaríamos de muitos técnicos e
engenheiros. Vamos colocar FIES para essas pessoas (aqui uma abrangência
para o FIES em ensino técnico).
Sei que é uma proposta polêmica, mas é, na minha opinião, a mais honesta para o futuro dos meus filhos.
Conclusão
No decorrer deste texto, acabei escrevendo sobre alguns temas
diferentes. Na verdade, quis mostrar que, com o aumento do desemprego,
estamos tendo uma diminuição de pessoas com planos de saúde privados.
Além disso, pessoas com maior grau de instrução estão sentido mais esse
desemprego, pelo fato de a economia estar demitindo pessoas mais caras e
também por essas pessoas terem mudado de patamar de escolaridade na
estatística no decorrer dos últimos anos, já que cada vez mais gente
está tendo acesso à universidade.
E o consumo familiar ainda é a base da economia brasileira. Se esse consumo retrai, a economia perde a força.
Nas próximas semanas, vou escrever um artigo detalhando um pouco mais esses números do FIES e o futuro.
http://economia.estadao.com.br/blogs/economia-a-vista/6-776-vagas-de-trabalho-sao-fechadas-por-dia-util-no-brasil/
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