sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Argentinos compram dólar dos bancos para guardar no colchão


Eles estão contribuindo para uma queda nas reservas internacionais do país por se recusarem a depositar os dólares que compraram em bancos locais

Camila Russo e Charlie Devereux, da
Juan Barreto/AFP
Cédulas de dólar
Cédulas de dólar: as reservas caíram 35%, para US$ 27,8 bilhões, nos 12 meses até o dia 3 de fevereiro

Buenos Aires - Jorge Lischetti se inscreveu para comprar dólares do governo no dia em que a Argentina flexibilizou os controles. Ele guardou os US$ 300 que lhe permitiram comprar em janeiro em sua casa, em Buenos Aires, e fez o mesmo no primeiro dia de fevereiro.

Argentinos como Lischetti, um assessor legal de 24 anos de idade, estão contribuindo para uma queda nas reservas internacionais do país por se recusarem a depositar os dólares que compraram em bancos locais.

Mais de doze anos depois que a Argentina restringiu os saques em dólares e converteu as poupanças nessa moeda para pesos em meio a uma crise econômica que levou a um calote de US$ 95 bilhões, 91 por cento daqueles que satisfazem os requisitos para comprar moeda estrangeira do governo estão pagando uma sobretaxa de 20 por cento para retirar o dinheiro.

“A história na Argentina é assustadora o suficiente para fazer você querer manter seu dinheiro fora do banco”, disse Lischetti, em entrevista, na capital argentina.

Os argentinos se inscreveram para comprar e levar para casa US$ 215 milhões desde que a presidente Cristina Kirchner abriu as compras de dólares, no dia 27 de janeiro, piorando uma queda nas reservas, que já atingiram a maior baixa em sete anos. 

Os 19 por cento de desvalorização da moeda da Argentina, no mês passado, e a flexibilização dos controles cambiais refletem os esforços de Cristina para esfriar as negociações no mercado negro, onde o peso é 36 por cento mais barato que pela taxa oficial.

Os rendimentos dos bônus do país e o custo para assegurar sua dívida contra moratórias estão próximos da maior alta em quatro meses em meio a uma especulação de que a presidente não será capaz de estancar a hemorragia de dólares. As reservas caíram 35 por cento, para US$ 27,8 bilhões, nos 12 meses até o dia 3 de fevereiro, segundo o Banco Central. 


Ricos, 20%
A Receita Federal argentina recebeu 463.327 pedidos para compra de moeda estrangeira desde que o governo permitiu, pela primeira vez em 18 anos, que os argentinos mais ricos comprem dólares para economizar pela taxa de câmbio oficial.

Deste total, 423.645 escolheram pagar uma taxa de 20 por cento sobre o valor da troca para receber em dinheiro vivo, segundo dados da AFIP, sigla pela qual o órgão é conhecido.

“Em um contexto de incerteza como esse, os argentinos que viveram tempos de hiperinflação e numerosas megadesvalorizações querem manter seus dólares”, disse Belén Olaiz, analista da abeceb.com, uma empresa de pesquisas de Buenos Aires.

Na crise financeira de 2001, a Argentina congelou as poupanças para interromper uma corrida aos bancos, uma medida chamada de “corralito”. No início do ano seguinte, o governo forçou os bancos a converter as poupanças denominadas em dólar para pesos, o que reduziu as economias das pessoas a um quarto de seu valor.

Os argentinos têm estimados US$ 160 bilhões em fundos não declarados mantidos no exterior ou guardados em casa, segundo o governo. 

O Federal Reserve, o Banco Central americano, estimou em um relatório de 2006 que a Argentina, que a CIA diz que é o 33º país mais populoso do mundo, tinha pelo menos US$ 50 bilhões em dinheiro americano, em torno de um em cada nove dólares que circulavam no exterior à época.

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