Para especialistas, será impossível entregar um serviço igual ao oferecido nos Estados Unidos. Veja os cinco principais motivos para isso
São Paulo – A Amazon, maior empresa de varejo online do mundo, começa hoje a vender o Kindle no Brasil.
É o primeiro passo da empresa para o varejo físico no país e pode ser
um ensaio para a venda e entrega de produtos variados, como já acontece
nos Estados Unidos.
Completar esse caminho até a operação completa, porém, não será fácil.
“O maior desafio será preparar o consumidor brasileiro para o choque de
realidade: a experiência de compra no Brasil será completamente
diferente da dos Estados Unidos”, afirma Eugênio Foganholo, diretor
geral da Mixxer consultoria de varejo.
Para o analista, uma parcela grande da população brasileira já tem
contato com a empresa e faz compras por ela em viagens ao exterior. Está
acostumada, portanto, com eficiência, rapidez e baixos preços, o que
dificilmente será possível aqui por conta de:
Financiamento
No Brasil os consumidores estão acostumados a fazer compras a prazos
longos e sem juros, algo que dificilmente ocorre nos Estados Unidos. Ao
mesmo tempo, o pagamento dos fornecedores ocorre num prazo bem menor do
que o que ocorre por lá.
“O contas a receber no Brasil tem um prazo muito mais longo do que o
contas a pagar, o que causa certo desequilíbrio no fluxo de caixa”,
explica Foganholo. Isso não será necessariamente um problema para uma
empresa com faturamento do tamanho do da Amazon, que beira os 28 bilhões
de reais, mas exigirá adaptações nas operações.
Logística
Nos Estados Unidos, um dos maiores trunfos da Amazon é a garantia de
uma entrega eficiente, pontual e segura, algo muito difícil de se
garantir no Brasil. “Sem contar os problemas de infraestrutura
propriamente dita que o país enfrenta, ainda há o fato de que os
fornecedores e as empresas de logística têm margens de atrasos, entregas
erradas e avarias muito maior do que as de lá”, diz Foganholo.
Consumidor brasileiro
Além do fato de que no Brasil se lê muito pouco, a Amazon enfrentará
outro problema. No Brasil, os produtos de leitura digital ainda têm
pouquíssima abrangência. “Temos uma imensa população com dinheiro
suficiente para consumir esses produtos, mas que não teve a educação
informática que permitiria que eles se adaptassem rapidamente a eles”,
explica Nelson Barrizzelli, professor da USP e consultor em marketing de
varejo.
Segundo o especialista, a operação será mais vantajosa num médio prazo,
quando a nova geração de brasileiros que foram educados nessa
tecnologia se tornar consumidora.
Conteúdo
Em relação a conteúdo, a Amazon também poderá ter dificuldades, já que
há poucas editoras que produzem livros em português, e nem todos os
livros em inglês serão traduzidos. “O número de pessoas que leem em
inglês é muito pequeno. Para o Kindle realmente massificar, será preciso
uma grande oferta de livros em português”, diz Barrizzelli.
Tributação
Para iniciar sua distribuição, a Amazon teve de acionar uma equipe de
advogados para não sofrer bitributação, isto é, ser cobrada duas vezes
pelo mesmo tributo. Até então, a companhia teria de pagar tributos de
distribuição tanto para o estado de São Paulo quanto para o estado que
receberia a mercadoria. De acordo com a liminar conseguida pela Amazon, a
partir de agora o comércio eletrônico não terá mais de passar sobre
isso.
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