quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Justiça do ES nega pedido de recuperação judicial da Telexfree


Angelo Pavini | Arena do Pavini
telexfree

A Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Espírito Santo negou ontem à tarde o pedido de recuperação judicial, espécie de concordata, feito pela Ympactus Comercial, conhecida como Telexfree. O pedido já havia sido rejeitado em primeira instância pelo juiz da Vara de Recuperação Judicial e Falência de Vitória.

Segundo o comunicado do TJES, o julgamento foi acompanhado por vários investidores da Telexfree, que lotaram a sala de sessões. Em seu voto, o relator do processo, desembargador substituto Lyrio Regis de Souza Lyrio destacou que a Lei de Recuperação Judicial estabelece que a empresa só pode pedir o benefício se estiver exercendo suas atividades há mais de dois anos. O juiz de primeiro grau e o Ministério Público Estadual defenderam que o prazo de dois anos deveria ser contado a partir do exercício regular da atividade empresarial. Já a Telexfree alegou que o prazo deveria contar a partir do registro na Junta Comercial.

O relator lembrou que a empresa foi constituída há dois anos como uma sociedade limitada, cujo objetivo era o ramo de comércio varejista de cosméticos, produtos de perfumaria e higiene pessoal, bem diferente, portanto, do negócio de venda de créditos para ligações telefônicas. Em março de 2012, observou o relator, a Ympactus firmou contrato de cessão de uso da marca com a Telexfree LLC, empresa americana  “cujo objetivo era a prestação de serviços de divulgação da contratada pela contratante e a cessão de uso da marca Telexfree com duração de dois anos”.

A Telexfree só se tornou sociedade anônima a partir de julho de 2013, passando de Ympactos Comercial Ltda para Ympactos Comercial S/A. Os objetivos sociais também foram alterados, passando a ser portais, provedores de conteúdo e outros serviços de informação na internet e processamento de dados; agências de publicidade com prestação de serviços de anúncios, promoção de vendas diretas e portais de divulgação comercial, consultoria em publicidade; pesquisa de mercado e de opinião pública e intermediação e agenciamento de serviços e negócios em geral.

Para o relator, como o pedido de recuperação judicial se refere às novas atividades, o prazo de existência da empresa deveria ser julho de 2013, e não o registro da empresa anterior.

Assim, o pedido de recuperação judicial, que permitiria à Telexfree evitar a falência, foi rejeitado pelo relator, e pelos outros dois desembargadores que analisaram o caso.

Em 18 de julho de 2013, a 2ª Vara Cível da Comarca de Rio Branco, no Acre, julgou favorável pedido do Ministério Público daquele Estado para suspender as atividades da Telexfree, acusada de montar uma pirâmide financeira. Com a decisão, foram suspensos os pagamentos e as adesões de novos contratos até o julgamento final da ação.


Comissão na Câmara para marketing multinível


Ontem, a Câmara dos Deputados criou uma Comissão Especial da Regulamentação do Marketing Multinível para analisar o projeto de lei 6667/13. A iniciativa dos deputados visa regulamentar o marketing multinível, sistema no qual empresas montam redes de revendedores independentes que ganham comissões sobre as vendas feitas pelos associados que conseguiram trazer para o grupo. O sistema é usado por empresas como Avon, Natura, AmWay e Tupware, mas acabou sendo desvirtuado para empresas que criam pirâmides financeiras.

No caso da Telexfree, a acusação é de que a empresa, que oficialmente vende assinaturas de telefonia via internet (Voip), estaria oferecendo ganhos na montagem de redes de vendedores que, em lugar de oferecer o serviço, receberiam por publicar anúncios na internet. Como, para anunciar, cada interessado tem de pagar um valor inicial, ou comprar um “kit”, que pode ir de US$ 50 a US$ 1.425,00, recebendo uma remuneração proporcional ao investimento, o ganho viria mais da conquista de novos integrantes do que do negócio em si.

Estimativas são de que mais de um milhão de pessoas entraram no esquema da Telexfree.


BBom e rastreadores


Outra empresa, a BBom, de Goiás, também teve seus bens bloqueados pela Justiça, acusada de montar uma pirâmide financeira a partir da venda de rastreadores para carros. Para o Ministério Público de Goiás, o negócio da BBom é uma pirâmide porque se sustentaria mais do pagamento de taxas de adesão pelos clientes/vendedores do que da venda efetiva dos equipamentos.

Como os vendedores recebem pelo número de novas adesões que conseguem – a custos que variam de R$ 600 a R$ 3 mil – os associados novos pagariam a remuneração dos antigos, o que tornaria a arregimentação de vendedores o verdadeiro negócio da empresa, e não os rastreadores.
A estimativa é que 300 mil pessoas teriam aderido ao sistema da BBom.


Priples e anúncios na internet


Outra empresa na mira da Justiça é a Priples, empresa de anúncios virtuais, mas que faturava com a cobrança de taxas de adesão. Criada em 1º de abril (não é mentira…) do ano passado, a Priples começou a atrasar os pagamentos aos associados já no fim de maio.

O esquema teria movimentado R$ 107 milhões, quase tudo originado das adesões, segundo o delegado Carlos Couto, responsável pelo inquérito, que resultou, em agosto do ano passado, na prisão dos sócios, o estudante de ciências da computação Henrique Maciel Carmo de Lima, de 26 anos, e a enfermeira Mirele Pacheco de Freitas, de 22 anos.

Cerca de 200 mil pessoas teriam sido prejudicadas pelo esquema.  No dia 31 de janeiro, a Justiça de Pernambuco decidiu obrigar a Priples a devolver R$ 11 mil a dois investidores. A Justiça bloqueou cerca de R$ 100 milhões que estavam no caixa da empresa. Segundo o jornal “Diário de Pernambuco”, laudo do Instituto de Criminalística que analisou os livros contábeis da Pribles atesta que 99,9% da movimentação financeira da empresa se relacionam com as novas adesões ao negócio, o que indica falta de sustentação econômica ao da empresa.


Blackdever ou pode chamar de Wishclub


O Ministério Público de Minas Gerais entrou com ação em outubro do ano passado contra a Blackdever, empresa que se apresentava como negócio de marketing multinível a partir de uma rede que ofereceria desde serviços a um clube de compras com descontos para associados (outlet). Criada em março de 2013, a empresa teria arrecadado R$ 72 milhões até agosto, quando a 10ª Vara Cível de Uberlândia determinou o bloqueio de R$ 36 milhões das contas da Blackdever. Para a Justiça mineira, o esquema da empresa se caracterizava como uma pirâmide financeira pois os participantes recebiam comissões por novas adesões, e não apenas pelas vendas dos produtos, que nem sequer eram citados no site.


Bônus de qualificação


O presidente da empresa, Rogério Alves, teria se mudado para a Espanha, onde abriu outro negócio semelhante, o Wishclub, que oferece também bônus de equipe, no qual o associado recebe pela adesão de novos integrantes da rede. O Bônus de Liderança, segundo o site, que tem o mesmo endereço da Blackdever, informa que os interessados podem receber de 2% a 50% do valor do bônus de qualificação da equipe formada por ele. “Exemplo: Isabela se qualifica a Black Diamond, recebendo € 50 mil: 50% do valor fica para Isabela e outros 50% vai para a Rede”, diz a nota no pé da tabela com as categorias.


Produtos selecionados


O texto, porém, não bate com a tabela, que estabelece que o Black Diamond recebe 25% dos bônus. Na tabela, as categorias vão de 2% na classificação Bronze, 3% na Silver, 5% na Gold, 8% na Sapphire, 10% na  Esmeralda, 15% na Diamante, 20% na White Diamont e 25% na Black Diamont. O site não explica que produtos são vendidos nem que serviços são oferecidos, limitando-se a dizer que são “produtos e serviços selecionados e de alta qualidade, sempre alinhados ao conceito de bem-estar e qualidade de vida”.

Em comunicado divulgado no Facebook, Rogério Alves, falando de Madri, disse que fechou uma parceria internacional com a WishClub, até que a situação da Blackdever seja definida no Ministério Público. Enquanto isso, os associados teriam a opção de migrar para a WishClub ou ficar na Blackdever. Os que ficarem receberão a devolução de seus “investimentos” (sic) quando o Ministério Público chegar a uma conclusão sobre a legalidade da Black e liberar o dinheiro bloqueado.


Cartão de banco espanhol


A migração para o Wishclub não terá custo e os consultores receberão um cartão de débito de um banco espanhol. “Como os assinantes do club wish terão um valor mensal de ativação, isso garantirá um ganho mensal aos consultores”, diz o texto.

Recentemente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgou uma cartilha explicando as diferenças entre marketing multinível e pirâmide financeira.

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