Ano após ano, uma das maiores preocupações e incertezas que se tem em relação à safra brasileira de soja
diz respeito ao escoamento da produção do país. Muito se enfatiza a
capacidade, a infraestrutura dos portos e o ritmo (lento) dos embarques
como um problema latente e um dos principais causadores dos constantes
atrasos nas entregas aos compradores mundiais. É evidente que a
infraestrutura brasileira de portos deixa a desejar em muitos aspectos,
mas há problemas anteriores na cadeia logística que devem ser
considerados.
Em um estudo recente, mostramos que o maior gargalo logístico
está na maneira como o Brasil faz a sua soja chegar até o porto.
Problemas com a capacidade de armazenagem (especialmente nas fazendas) e
a “escolha” do modal rodoviário para percorrer grandes
distâncias determinam o grau de dificuldade no escoamento e corroboram
as preocupações dos compradores sobre o momento da entrega do produto.
Com isso, acaba sendo criada uma pressão nos portos, principalmente em
função dos entraves observados na trajetória da soja anteriormente ao
embarque.
Brasil x EUA
Analisando os ritmos de embarques das exportações de soja do Brasil e dos Estados Unidos, constata-se que estes se dão de forma muito semelhante, inclusive no que diz respeito aos volumes. O pico do volume de embarques nos EUA se concentra entre outubro a fevereiro, meses que se seguem à colheita no país. Nos últimos 3 anos, o maior volume mensal exportado pelo país foi pouco mais de 8 milhões de toneladas, em novembro de 2012. No Brasil, a dinâmica de exportações se desenrola de maneira muito semelhante, inclusive no que diz respeito aos volumes absolutos. O pico de embarques se concentra entre os meses de abril e agosto, logo após o início da colheita, que correspondem em média a 76% do total exportado pelo país. Historicamente, o maior nível mensal escoado pelos portos brasileiros ficou próximo aos 8 milhões de toneladas, tendo sido alcançado em maio de 2013. Vê-se, com isso, que os dois países possuem padrões de exportação de soja muito semelhantes, não só na sazonalidade, mas também nos volumes embarcados por mês. Por que, então, há tanta preocupação com o escoamento da safra brasileira?
Armazenagem
Um dos principais pontos a ser considerado na avaliação da eficiência logística dos dois países diz respeito à capacidade de armazenagem, especialmente àquela instalada nas próprias fazendas. Em Iowa, principal estado produtor de soja dos Estados Unidos, a maior parte dos agricultores possui estrutura de silos metálicos, o que ocorre raramente nas propriedades brasileiras. Com isso, os produtores brasileiros ficam dependentes de armazenagem de terceiros (que ainda é insuficiente no Brasil), causando um custo adicional, ou são forçados a escoar a maior parte da produção logo após a colheita, causando pressões sobre as rodovias, o frete e também nos portos. Parte desses caminhões servem, portanto, como silos no momento da safra. Além disso, os agricultores deixam de ter a possibilidade de escolha do melhor momento para vender soja.
Modal
Outro fator primordial para o funcionamento eficiente da logística é a existência de uma infraestrutura adequada de transporte para o escoamento da produção até o porto. No Brasil, “optou -se” pelo modal rodoviário no transporte da soja (herança histórica do transporte de cargas), o que não é o mais indicado, devido às grandes distâncias percorridas desde as regiões produtoras até os portos, acarretando em um custo muito alto. Com o aumento da produção da soja e a falta de infraestrutura de outros modais (ferroviário e hidroviário), foi preciso encontrar uma solução rápida para o problema do escoamento. Assim, investiu-se na construção de mais rodovias, que estão longe de ser o modo mais barato e eficiente para se transportar a soja no Brasil.
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