- Medida vale para propriedades alugadas há mais de 20 anos
- Donos têm 60 dias para fazer a oferta; multa inicial é de US$ 40 mil
O Globo
Com agências internacionais
CARACAS — O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, decidiu obrigar
os proprietários de imóveis alugados há 20 anos ou mais a vendê-los a
seus inquilinos. A medida, já publicada no Diário Oficial, determina que
os donos terão 60 dias para fazer a oferta dos apartamentos, cujo preço
será determinado por um órgão estatal. A medida provocou polêmica no
país: apesar de o deficit de imóveis na Venezuela ser alto e afetar mais
de 3,7 milhões de famílias, críticos tacharam a ação de
inconstitucional.
A
novidade prevê que os inquilinos tenham prioridade sobre a compra, mas,
se não o fizerem, o imóvel deve ser vendido mesmo assim. Os
proprietários que descumprirem o prazo para anunciar a venda serão
multados em 2.000 unidades tributárias, o equivalente a 254 mil
bolívares, ou US$ 40 mil. O valor deve ser pago em cinco dias; caso
contrário, a multa será dobrada. Depois disso, o apartamento pode ser
embargado.
A medida faz parte de uma série de intervenções
econômicas chefiadas por Nicolás Maduro. O presidente venezuelano alega
ser vítima de uma “guerra econômica” de especuladores que pretendem
derrubar seu governo. Ele já pediu — e conseguiu — do Parlamento
superpoderes para legislar sem obstáculos no campo econômico durante um
ano. Desde então fixou valores máximos para aluguéis comerciais,
estabeleceu limites de lucros para lojas e ordenou a diminuição de
preços.
Metro quadrado defasado desde 2013
Para
Roberto Orta, presidente da Associação de Proprietários de Imóveis
Urbanos (Apiur), a nova medida “destitui” a propriedade de seu dono, e
desrespeita a Constituição, que só prevê a expropriação e o confisco de
um imóvel com o pagamento de uma indenização. Outro problema, alegou, é
que o governo ainda não fixou o valor do metro quadrado, defasado desde
novembro de 2013 e que, devido à inflação acumulada — a uma taxa
alarmante de 57,3% — não se ajustaria à realidade.
— Muitos desses edifícios são ocupados por pessoas da terceira idade, e o banco não concede crédito a idosos — acrescentou Orta.
A
medida foi publicada na sexta-feira, mas só anunciada nesta segunda. No
mesmo dia, Caracas amanheceu mergulhada em novos protestos, e ruas
foram fechadas. A onda de manifestações já dura quase dois meses no
país.
— Claro que nos incomoda a atitude do governo. Os
estudantes presos, mortos, detidos, a falta de justiça — disse o
estudante Andrés Núñez, de 28 anos.
A tensão também voltou a San
Cristóbal, capital do estado de Táchira, e berço dos protestos
antichavistas. Houve confrontos depois que militares e policiais tomaram
as ruas para remover as barricadas levantadas por manifestantes.
—
As forças de segurança usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha,
atacaram a população, entraram em casas e prenderam pessoas — denunciou o
prefeito Sergio Vergara.
Ele assumiu o posto de Daniel Ceballos,
condenado a um ano de prisão por “não evitar as barricadas”. Segundo
Vergara, tropas do Exército e da Guarda Nacional permaneceram nas ruas
para evitar a instalação de novos bloqueios.
Do estado de Lara, no Norte, o governador opositor Henri Falcón fez um apelo por diálogo à Mesa de Unidade Democrática (MUD):
—
Já basta de tantos erros e violência. É preciso sentar-se numa mesa de
diálogo e, como dirigentes da MUD, apresentar propostas e exigências ao
governo nacional diante da incerteza no país.
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