O crowdfunding de investimento foi regulamentado pela CVM neste mês. Entenda como funciona e veja plataformas que permitem esse tipo de captação:
Essa forma de captação foi alvo de uma série de instruções dadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no dia 13 de julho. Ainda que esse tipo de investimento já existisse na prática, não havia uma regulamentação que pudesse dar segurança aos empreendedores e investidores.
Para os especialistas consultados por EXAME.com, esse é o primeiro benefício da instrução da CVM, tomada após conversas com diversas plataformas de crowdfunding de investimento e outros agentes do ecossistema.
“Algumas plataformas já trabalham há tempo para implantar o modelo de crowdfunding no Brasil, e agora eles passam a poder operar de forma mais segura. É um marco importante, que vai auxiliar muito a expansão de negócios”, analisa José Romeu Amaral, sócio do JR Amaral Advogados.
Quando a instrução foi publicada, listamos os principais fatores da regulamentação (veja aqui).
Alguns destaques são a responsabilidade dada às plataformas, que deverão verificar a legitimidade das suas captações; a ampliação dos tipos de empresas que podem fazer crowdfunding de investimento (agora, podem ser sociedade abertas ou anônimas que tenham receita anual de até 10 milhões de reais e queiram captar até 5 milhões de reais); e a definição do valor aportado por investidor, que pode ser de até 10 mil reais para quem tem até 100 mil reais em investimentos.
Para quem tem acima de 100 mil reais e até um milhão de reais, há um limite de investimento de 10% de renda bruta anual. Para quem acima de um milhão de reais em investimentos, não há limite de valor aportado.
Tais regras levam a um segundo benefício apontado pelos especialistas: a flexibilização. Mais empresas poderão fazer crowdfunding de investimento e as plataformas é que são responsáveis pela fiscalização das ofertas.
“O crowdfunding de investimento até então seguia a regulamentação do mercado de capitais, que é restritiva para as pequenas e médias empresas, com uma série de exigências difíceis de cumprir”, afirma Marcelo Godke Veiga, sócio do escritório de advocacia Godke Silva & Rocha.
“Essa regulamentação flexibilizou alguns requisitos. Agora, é torcer para que as plataformas façam um bom trabalho, e aquelas com as quais eu tenho contato parecem ter um interesse genuíno em desenvolver o mercado.”
Mas como começar a aproveitar o crowdfunding de investimento, na prática? Conheça, a seguir, três plataformas para captar dinheiro para seu negócio pela nova modalidade:
1 – Broota
O site de crowdfunding de investimento Broota começou em maio de 2014, fazendo uma captação para se autofinanciar. Em outubro do mesmo ano, a plataforma conseguiu seu primeiro cliente.
De lá para cá, a plataforma realizou 48 rodadas e captou um total de 15 milhões de reais. A plataforma não precisa um ticket médio de captação, mas ressalta que ela deve ser no mínimo de 100 mil reais, para valer a pena se adequar à toda a estrutura exigida para um crowdfunding de investimento.
Para Frederico Rizzo, sócio-fundador do Broota, o diferencial da plataforma é o modelo de “sindicatos”: uma reunião de até centenas de investidores de perfil parecido, que investem juntos e diluem o risco da aplicação. O ticket médio de investimento é de 9,8 mil reais.
Como o Broota opera por meio de sindicatos e não investidores autônomos, a monetização da plataforma também é particular: há um custo fixo de 1% ao ano sobre o valor total da captação, que é rateado entre os participantes do sindicato. Esse valor cobre o acompanhamento da governança do sindicato por parte do Broota.
Após um máximo de dez anos de administração, cada investidor deve pagar 20% sobre o o que ganhou durante o período em que manteve o investimento, descontando a inflação.
Com a nova regulamentação, o Broota estuda adotar mais modelos de monetização e expandir as empresas que podem anunciar na plataforma.
“Mudou o limite de faturamento dos negócios, que agora podem ter uma receita anual de até 10 milhões de reais [antes o limite era de 3,6 milhões de reais, o mesmo do Simples Nacional]. Com isso, nosso potencial de mercado aumentou muito”, explica Rizzo.
“Saí satisfeito da conversa que as plataformas tiveram com a CVM. É um ambiente muito mais regulado e responsável do que antes. Para o mercado, significa mais transparência, segurança e proteção.”
2 – Eqseed
A Eqseed é uma plataforma de crowdfunding de investimento fundada em 2015, mas que começou a operar no ano seguinte. Sete rodadas já foram lançadas – duas estão em andamento.
Do lado das empresas, 1,5 milhão de reais foram captados por meio da Eqseed, com um ticket médio de captação entre 400 e 500 mil reais. Já do lado dos investidores, o ticket médio de aplicação é de 10 mil reais, indo dos pequenos aportadores aos investidores-líderes.
Segundo Brian Begnoche, sócio-fundador da Eqseed, um dos diferenciais da plataforma é sua rígida seleção: mais de 500 empresas já mostraram interesse em fazer uma rodada, enquanto 7 mil pessoas se cadastraram no site da Eqseed.
“Nosso objetivo é selecionar as melhores empresas e apresentá-las a investidores que procuram esse tipo de ativo”, afirma o sócio-fundador. Alguns critérios de seleção são uma equipe bem feita, a atuação em mercados com bom alcance e potencial de crescimento e com produto e tração verificáveis.
Falando de monetização, a Eqseed trabalha com uma taxa atrelada ao sucesso da rodada de investimento. A empresa anunciante paga uma média de 10% sobre o total captado.
Com a nova regulamentação, Begnoche destaca que a plataforma poderá fazer captações de até 5 milhões de reais – antes, o limite na Eqssed era de 2,4 milhões de reais.
“Todo mundo que presta atenção nas startups sabe que elas têm dificuldade em conseguir capital: elas não costumam ter acesso a crédito com termos razoáveis. Por isso, essa regulamentação é um passo positivo: elas conseguirão captar investimentos com termos justos e continuar crescendo”, analisa o sócio-fundador.
Para este ano, a Eqseed pretende fazer mais 5 rodadas de investimento, chegando a um total de 12 captações.
3 – Start Me Up
A plataforma de crowdfunding de investimento Start Me Up existe como projeto desde 2012, mas só começou a operar no final de 2015. A primeira captação, inclusive, foi para financiar a própria criação do site.Ao todo, cinco captações no valor total de 2,5 milhões de reais foram feitas por meio da plataforma, com ticket médio de captação de 600 mil reais. Outras três rodadas estão em andamento. O ticket médio de investimento é de 12 mil reais, em uma rede de 8 mil cadastrados.
A Start Me Up cobra da empresa uma taxa de sucesso sobre o valor total captado, que varia de 5 a 10%.
Diego Perez, sócio-fundador da Start Me Up e presidente de Associação Brasileira de Crowdfunding, explica que a regulamentação mudou as metas da plataforma.
“Com o aumento do limite de captação para 5 milhões de reais, nosso ticket médio de captação deverá subir, por exemplo. Esperamos que ele salte de 600 mil para 1 milhão de reais até o ano que vem”, diz Perez.
“Além disso, queremos sofisticar nossos investimentos, abrindo para empresas em regime de sociedade anônima de capital fechado. Poderemos fazer uma espécie de mini IPO [oferta pública de ações em bolsas de valores], distribuindo ações. Antes, somente sociedades limitadas poderiam fazer equity crowdfunding, o que limitava a relação do investidor com a empresa investida.”
Para 2017, a Start Me Up quer concluir mais dez captações, terminando o ano com ao menos 15 investimentos fechados.
http://exame.abril.com.br/pme/3-sites-de-crowdfunding-para-sua-ideia-conquistar-investidores/
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