Em especial de 14 páginas, revista britânica aponta os erros cometidos pela administração da presidente que fizeram o Brasil desapontar o mercado e perder credibilidade
Presidente Dilma Rousseff: para The Economist, ainda há tempo de fazer reformas
(Fernando Bizerra Jr./EFE)
Revista ironiza chamando a presidente de 'Dilma Fernández', que é o sobrenome de Cristina Kirchner
De um foguete, representado pelo Cristo Redentor, que apontava para
o alto, imponente, para uma aeronave desgovernada nos céus, perto de
colidir com o Corcovado. Essa é a comparação feita pela revista
britânica The Economist ao tratar da evolução do Brasil nos
últimos quatro anos. A edição distribuída na América Latina questiona se
o Brasil, de fato, "estragou tudo", depois de ter sido, por um breve
período, a estrela dos emergentes. Segundo a reportagem, a
presidente Dilma Rousseff tem sido incapaz de enfrentar problemas
estruturais do país e interfere mais que o antecessor na economia, o que
tem assustado investidores estrangeiros para longe de projetos de
infraestrutura e minado a reputação conquistada a duras penas pela
retidão macroeconômica. A The Economist é categórica ao afirmar: "até agora, eleitores brasileiros têm poucas razões para dar a Dilma um segundo mandato".
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Em 2009, em meio à crise econômica mundial, a revista fez também um
especial de quatorze páginas para ressaltar os anos de bonança do país,
reproduzindo a imagem do Cristo decolando como se fosse um foguete. À
época, a economia brasileira patinava, ainda sofrendo o impacto da
turbulência nos Estados Unidos. Contudo, indicadores macroeconômicos
estáveis acabaram contando mais, para a Economist, do que a retração econômica de 2009, de 0,2%.
Para a revista, a falta de ação do governo Dilma é a principal razão
para o chamado "voo de galinha" do país, jargão usado para denominar
situações em que países ou empresas têm um crescimento disparado, mas
que não se sustenta. "A economia estagnada, um estado inchado e
protestos em massa significam que Dilma Rousseff deve mudar de rumo",
informa a publicação.
O texto reconhece que outros emergentes também desaceleraram após o
boom que teve o auge em 2010 para o Brasil. "Mas o Brasil fez muito
pouco para reformar seu governo durante os anos de boom", diz a
revista. Um dos problemas apontados pela reportagem é o setor público,
que "impõe um fardo particularmente pesado para o setor privado". Um dos
exemplos é a carga tributária que chega a adicionar 58% em tributos e
impostos sobre os salários. Esses impostos são destinados a prioridades
questionadas pela Economist. "Apesar de ser um país jovem, o
Brasil gasta tanto com pensões como países do sul da Europa, onde a
proporção de idosos é três vezes maior", diz o texto que também lembra
que o Brasil investe menos da metade da média mundial em infraestrutura.
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Problemas antigos - A publicação reconhece que muitos desses
problemas são antigos, mas Dilma Rousseff tem sido "relutante ou
incapaz" de resolvê-los e criou novos "interferindo muito mais que o
pragmático Lula"."Ela tem afastado investidores estrangeiros para longe
dos projetos de infraestrutura e minou a reputação conquistada a duras
penas pela retidão macroeconômica, induzindo publicamente o presidente
do Banco Central a cortar a taxa de juros. Como resultado, as taxas
estão subindo, atualmente, mais para conter a inflação persistente", diz
o texto. "A dívida bruta subiu para 60% ou 70% do PIB - dependendo da
definição - e os mercados não confiam na senhora Rousseff", completa o
texto. A Economist chega a ironizar, chamando a presidente de "Dilma Fernández", que é o sobrenome de Cristina Kirchner, presidente da Argentina.
Apesar das críticas, a revista demonstra otimismo com o futuro a
longo prazo do Brasil. "Felizmente, o Brasil tem grandes vantagens.
Graças aos seus agricultores e empresários eficientes, o país é o
terceiro maior exportador de alimentos do mundo", diz o texto, que
menciona também o petróleo da camada pré-sal. A publicação elogia
ainda a pesquisa em biotecnologia, ciência genética e tecnologia de óleo
e gás em águas profundas. Além disso, lembra que, apesar dos protestos
populares, o Brasil "não tem divisões sociais ou étnicas que mancham
outras economias emergentes, como a Índia e a Turquia".
A Economist afirma que a presidente Dilma ainda tem tempo
para começar reformas necessárias, fundindo ministérios e cortando
gastos públicos, caso esteja disposta a colocar a "mão na massa". Mas,
diante do atual cenário, a revista afirma que, ainda que a presidente
esteja com foco no possível segundo mandato, os "eleitores brasileiros
têm poucas razões para dar a ela a vitória".
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