O mercado brasileiro teria seu desempenho prejudicado pelo elevado déficit externo e pela expectativa de queda no ritmo de crescimento dos lucros das empresas
Bovespa: relatório do Merrill Lynch reforça visão do banco divulgada em dezembro, que mercados de ações de países emergentes vão passar por maus bocados este ano
O Bank of America Merrill Lynch considera o Brasil um dos países em piores condições em termos de potencial do mercado de ações.
Ao lado do Chile e da Tailândia, o mercado brasileiro teria seu
desempenho prejudicado pelo elevado déficit externo e pela expectativa
de queda no ritmo de crescimento dos lucros das empresas.
Conforme relatório enviado a clientes, o braço de investimentos do
banco americano considera os países mais atrativos, por esses critérios,
Filipinas, Taiwan*, Rússia e China.
Assinado pelo estrategista de ações para Ásia, Pacífico e Mercados
Emergentes, Ajay Singh Kapur, o relatório reforça a visão do banco
divulgada em dezembro, que os mercados de ações de países emergentes vão
passar por maus bocados este ano, fechando 2014 no máximo com
estabilidade, mas com fortes riscos de perdas.
Para o analista, a vulnerabilidade financeira dos mercados emergentes
segue elevada, com o impacto da implosão dos “booms” locais de crédito e
déficits externos difíceis de financiar. Ele cita como referencial
desse aperto financeiro para os emergentes os números das contas
externas americanas.
O déficit de contas correntes dos Estados Unidos, que mede os
resultados de gastos e receitas de comércio e serviços com o exterior,
caiu para 2,4% do PIB no terceiro trimestre do ano passado, para 5,9% do
PIB em 2006.
Isso significa que os EUA estão gastando menos no exterior e, portanto,
os mercados emergentes terão menos dólares para se financiar. “Melhoras
nas contas externas americanas vão aumentar os riscos dos emergentes”,
diz o analista.
Essa análise explica a turbulência recente dos mercados emergentes,
acentuada pelo receio de desaquecimento da China, grande parceiro
comercial dos países exportadores de matérias-primas, como o Brasil.
O banco preferiria esperar o “nível de pânico” para tornar os emergentes atrativos. Mas ressalta que o grau atual da turbulência está longe do da crise de 1997, que sacudiu os países asiáticos e o mundo emergente.
Para a Merrill Lynch, os mercados emergentes ainda não caíram tanto
assim, pois a diferença de seu nível atual e a média móvel de 200 dias
está em apenas -5,6%. O banco estima que uma queda de 10% a 20%
caracterizaria um movimento de pânico que justificaria analisar a
entrada nesses mercados.
Há também a questão das projeções para o desempenho das empresas e suas
ações. O risco de piora da China está subindo, como sugerem indicadores
de atividade e liquidez locais, como renegociações de crédito, preços
do setor imobiliário e até preços de vinhos finos, diz a Merrill Lynch.
O risco de crédito na China prossegue elevado, como mostrou o socorro
do governo a um fundo de crédito quebrado esta semana, e pode se juntar a
outros fatores para influenciar negativamente a economia.
Com as perspectivas para a China piorando, a Merrill Lynch considera
que as estimativas de crescimento do lucro por ação das empresas de
países emergentes, especialmente na América Latina e na Coreia do Sul,
seriam incompatíveis com a realidade atual.
A mudança na política do Federal Reserve (Fed, o banco central
americano), de reduzir os incentivos ao mercado financeiro local e à
economia, também terá impactos nos mercados emergentes e em suas
empresas, que ainda poderão sofrer ajustes.
Para o analista da Merrill Lynch, a expansão monetária promovida pelo
Fed está em sua última fase, e sua reversão deve afetar não só países
com altos déficits externos como seus mercados de títulos e as empresas
que dependem de financiamento de curto prazo.
A alta dos juros com o aperto monetário americano poderia afetar
diretamente ações de emergentes ligadas à atividade econômica, populares
e caras em relação a seu potencial de ganhos, e que tem alta
concentração de risco, pois todos os investidores têm esses papéis em
suas carteiras.
Já as empresas estatais baratas têm poucos compradores, pelo ceticismo significante em torno de reformas que possam liberar todo seu potencial de lucro.
O banco de investimentos sugere ao investidor buscar preservar seu capital nos mercados emergentes, e que o momento é bom para deixar o dinheiro em caixa, ou seja, renda fixa de curto prazo.
Empresas com bons balanços e elevada geração de caixa, em países com bons indicadores de crescimento de lucros e déficits externos sustentáveis devem estar no foco. O inverso, empresas com balanços fracos em países com altos déficits representam elevado risco.
Entre as 15 ações do primeiro grupo, mais resistentes aos ajustes, não há nenhuma brasileira. Já entre as 8 de maior risco, está a Eletrobras.
Segundo a Merrill Lynch, o mercado em geral estima um crescimento de 17,2% no lucro por ação das empresas brasileiras nos próximos 12 meses, o quarto maior entre 15 emergentes, atrás apenas do Chile, com projeção de 27,5%, do México, com 21%, e da Coreia, com 19,6%.
* Corrige versão anterior que citava Tailândia no lugar de Taiwan
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