terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Queda do PIB era prevista, mas baixo investimento preocupa economistas


Recuo de 2,2% do investimento sinaliza preocupação sobre futuro, dizem.
Terceiro trimestre é a 'entressafra' da economia, avalia economista.

Anay Cury e Gabriela Gasparin Do G1, em São Paulo
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variação pib terceiro trimestre 2013 (Foto: Editoria de Arte/G1)

O recuo da economia brasileira no terceiro trimestre em relação ao anterior já era esperado por economistas e consultorias, mas a queda de 0,5% veio um pouco acima de algumas previsões. A forte baixa do investimento também é vista com bastante preocupação por especialistas ouvidos pelo G1, já que aponta para um futuro pouco promissor.
 
A formação bruta de capital fixo (o investimento) registrou recuo de 2,2% no terceiro trimestre na comparação com o segundo. 
 
"Esse número é o mais triste, mostra que a capacidade futura de expansão de oferta está comprometida, só sinaliza que o país está em baixo crescimento, que o Banco Central continuará elevando os juros. O investimento é uma variável importantíssima inclusive para a trajetória de expansão futura", analisa o professor Márcio Salvato, coordenador do curso de economia do Ibmec em Minas Gerais.

Esse número [recuo do investimento] é o mais triste, mostra que a capacidade futura de expansão de oferta está comprometida, só sinaliza que o país está em baixo crescimento".
 
Márcio Salvato, do Ibmec
"A queda de formação bruta de capital fixo [investimento] é um dos destaques negativos. Embora venha depois de fortes altas, sinaliza uma preocupação quanto ao futuro", avalia a economista-chefe da Rosenberg e Associados, Thais Marzola Zara. Essas "fortes altas" são as de 3,6% e 4,2% do segundo e primeiro trimestres deste ano, respectivamente.

Nos últimos anos, a economia vem mostrando dificuldade de manter um ritmo mais forte de avanço de um trimestre para outro, segundo a economista.

“O crescimento tem sido forte em um trimestre e fraco no seguinte. Nós estamos perto do pleno emprego – o espaço para crescer é pequeno –, precisamos de mais produtividade, o custo brasil ainda é alto, assim como a carga tributária. Tem ainda a questão da logística. São entraves que dificultam a manutenção da recuperação.”


'Entressafra da economia'

 
Para especialistas, contudo, os meses de julho a setembro tendem a mostrar resultados mais baixos em relação aos outros trimestres do ano, o que também ajudaria a explicar o desempenho mais fraco deste período, em 2013.

“Normalmente, o terceiro trimestre é ruim em relação aos demais, pois acaba o efeito da safra agrícola e ainda está começando o crescimento da indústria para atender o final do ano. É a entressafra da economia”, disse o professor da Trevisan Escola de Negócios Alcides Leite.

Entre os fatores que vêm gerando estagnação também estão o crescimento da renda num ritmo menor, a inflação alta, que corrói o poder de compra, e o endividamento das famílias, que vem chegando ao seu limite, para o especialista.

No cenário de desaceleração da economia, principalmente neste terceiro trimestre, está o desaquecimento do setor de serviços, apontado pelo professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) Davi Simão Silber como um dos entraves para que o país mostrasse desempenho mais significativo.

Em nota, Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), avalia que o resultado ruim terceitro trimestre para os serviços e para economia como um todo já era esperado. “Decepção maior foi a estabilidade do comércio - apesar do ritmo mais forte das vendas em relação à primeira metade do ano, o nível de atividade comercial ficou estagnado entre julho e setembro”, afirma, na nota.


Crescimento no ano
 

Mesmo com o recuo no terceiro trimeste, Thais Zara afirma que mantém a previsão de alta de 2,5% para o ano, mesmo porque o PIB do segundo trimestre teve o crescimento revisado para 1,8% sobre o primeiro, ante crescimento inicialmente reportado de 0,6%.

"As coisas meio que se compensam e com isso se espera um PIB de 2,5% no ano", disse.
A economista disse que o resultado negativo no terceiro trimestre veio um pouco acima da queda de 0,2% prevista pela consultoria inicialmente. Contudo, analistas ouvidos anteriormente pelo G1 esperavam recuo entre 0,11% e 0,5%.

Salvato, do Ibmec, disse ter ficado surpreendido, negativamente, pelo resultado.  "Estou surpreendido, esperava que o desempenho da indústria estivesse melhor, números do segundo trimestre mostravam também recuperação do investimento... Os dados reforçam que este ano deve ter crescimento pífio."

Para Salvato, o crescimento de 2,2% neste terceiro trimestre sobre o mesmo período do ano passado aponta como deve ser o crescimento acumulado do ano. "O terceiro trimestre é o melhor indicador de como vai ficar o ano e não mostra grandes expectativas para crescimento no Natal, já que a indústria não cresceu tanto assim, o setor de serviços não está tão aquecido", disse.

Para 2013, a previsão do mercado e do Ministério da Fazenda é que o PIB registre um aumento perto de 2,5%. Para 2014, a estimativa dos analistas para o crescimento da economia avançou de 2,10% para 2,11% na última semana.

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