O presidente da França, François Hollande, chega na próxima
semana ao Brasil com a expectativa de reforçar o compromisso de
duplicar, até 2022, o comércio bilateral. A troca de mercadorias entre
os dois países alcançou US$ 10 bilhões, no ano passado, com saldo
favorável e crescente aos franceses. Entre janeiro e outubro de 2013,
desequilíbrio ficou em cerca de US$ 2,5 bilhões.
Hollande ouvirá da presidente Dilma Rousseff, com quem se reúne
quinta-feira, um pedido de empenho nas negociações de um acordo de livre
comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Os dois blocos devem
trocar, até o Natal, ofertas para a eliminação gradual de suas tarifas
de importação. A França, maior produtora agrícola da UE, e tida como
resistente à abertura no setor, se esforçará em transmitir o recado de
que não vai ser um empecilho à conclusão do acordo.
"Os europeus talvez ainda não tenham percebido todo o potencial do
Mercosul. Do outro lado, existe um certo desconhecimento sobre como
exatamente tem evoluído a UE", diz o embaixador da França no Brasil,
Denis Pietton. "O que muitas vezes não se percebe por aqui é que a
Política Agrícola Comum [da UE] já sofreu reformas e vários esforços de
adaptação foram feitos. A França apoia uma perspectiva de abertura e é
errado dizer que o mercado europeu está fechado a bens agrícolas
brasileiros.".
"A UE está pronta para fazer uma oferta generosa, mas o Mercosul
também precisará fazer concessões", insiste o embaixador, reclamando das
barreiras brasileiras a manufaturados europeus. "Sem falar nos serviços
e nas compras governamentais."
A França aposta no setor de energia como um dos propulsores do
comércio com o Brasil nos próximos dez anos. A petroleira Total tem 20%
do consórcio vencedor do leilão de Libra, no pré-sal, cujo contrato foi
assinado na segunda-feira. "Será o maior investimento da Total em todo o
mundo", afirma Pietton.
A empresa também negocia a compra da distribuidora de combustíveis
Ale. Com o desenvolvimento de sondas e plataformas para atender à
exploração de Libra, os franceses esperam abrir oportunidades para
outras companhias do país.
Ainda na área de energia, a Areva assinou contrato de € 1,25 bilhão
com a Eletronuclear, em novembro, para a conclusão do reator de Angra 3.
A construção de novas usinas nucleares no Brasil chama a atenção da
Areva, que constituiu uma joint-venture com a japonesa Mitsui para novos
projetos, batizada de Atmea.
A ideia dos franceses é que suas empresas de pequeno e médio porte
peguem carona na presença de grandes multinacionais no Brasil. Das 40
maiores companhias francesas listadas na bolsa de Paris, todas - com
exceção das construtoras - têm investimentos diretos por aqui. Para
reforçar os laços econômicos entre os dois países, foi criado um fórum
empresarial, que terá sua primeira reunião na Confederação Nacional da
Indústria (CNI), na quinta-feira. São esperados 80 altos executivos de
empresas francesas.
A agenda da visita de Hollande está recheada de outros pontos
importantes, como um acordo entre Thales e Visiona (uma sociedade entre
Embraer e Telebras), para a transferência de tecnologia no
desenvolvimento de satélites. A Thales venceu um processo de seleção
para o primeiro satélite geoestacionário, que terá fins de comunicação
estratégica na área de defesa e poderá prover serviço de internet rápida
em comunidades rurais, onde o Plano Nacional de Banda Larga tem
dificuldade de chegar.
O presidente francês também renovará a proposta de venda de 36 caças
da Dassault para o projeto FX-2. "A França vai reafirmar que se trata de
uma boa oferta, mas não cabe nenhuma pressão."
No campo político, Hollande deverá reiterar o apoio da França ao
Brasil para um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, caso
haja uma reforma no organismo. Também pretende justificar a recente
intervenção militar no Mali, criticada por Dilma, e defender a
necessidade de uma ação imediata também na República Centro-Africana.
Na sexta-feira, Hollande se encontrará com o governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin (PSDB), mas não pretende entrar em conversas sobre o
suposto cartel do qual a Alstom fazia parte para licitações no metrô de
São Paulo.
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