sábado, 7 de dezembro de 2013

Brasil e França querem duplicar comércio até 2022


Por Daniel Rittner | De Brasília
Charles Platiau, Pool/AP / Charles Platiau, Pool/AP 
 
 
François Hollande, presidente da França: país não vai ser um empecilho à conclusão do acordo entre Mercosul e UE.
 
O presidente da França, François Hollande, chega na próxima semana ao Brasil com a expectativa de reforçar o compromisso de duplicar, até 2022, o comércio bilateral. A troca de mercadorias entre os dois países alcançou US$ 10 bilhões, no ano passado, com saldo favorável e crescente aos franceses. Entre janeiro e outubro de 2013, desequilíbrio ficou em cerca de US$ 2,5 bilhões.

Hollande ouvirá da presidente Dilma Rousseff, com quem se reúne quinta-feira, um pedido de empenho nas negociações de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Os dois blocos devem trocar, até o Natal, ofertas para a eliminação gradual de suas tarifas de importação. A França, maior produtora agrícola da UE, e tida como resistente à abertura no setor, se esforçará em transmitir o recado de que não vai ser um empecilho à conclusão do acordo.

"Os europeus talvez ainda não tenham percebido todo o potencial do Mercosul. Do outro lado, existe um certo desconhecimento sobre como exatamente tem evoluído a UE", diz o embaixador da França no Brasil, Denis Pietton. "O que muitas vezes não se percebe por aqui é que a Política Agrícola Comum [da UE] já sofreu reformas e vários esforços de adaptação foram feitos. A França apoia uma perspectiva de abertura e é errado dizer que o mercado europeu está fechado a bens agrícolas brasileiros.".

"A UE está pronta para fazer uma oferta generosa, mas o Mercosul também precisará fazer concessões", insiste o embaixador, reclamando das barreiras brasileiras a manufaturados europeus. "Sem falar nos serviços e nas compras governamentais."

A França aposta no setor de energia como um dos propulsores do comércio com o Brasil nos próximos dez anos. A petroleira Total tem 20% do consórcio vencedor do leilão de Libra, no pré-sal, cujo contrato foi assinado na segunda-feira. "Será o maior investimento da Total em todo o mundo", afirma Pietton.

A empresa também negocia a compra da distribuidora de combustíveis Ale. Com o desenvolvimento de sondas e plataformas para atender à exploração de Libra, os franceses esperam abrir oportunidades para outras companhias do país.

Ainda na área de energia, a Areva assinou contrato de € 1,25 bilhão com a Eletronuclear, em novembro, para a conclusão do reator de Angra 3. A construção de novas usinas nucleares no Brasil chama a atenção da Areva, que constituiu uma joint-venture com a japonesa Mitsui para novos projetos, batizada de Atmea.

A ideia dos franceses é que suas empresas de pequeno e médio porte peguem carona na presença de grandes multinacionais no Brasil. Das 40 maiores companhias francesas listadas na bolsa de Paris, todas - com exceção das construtoras - têm investimentos diretos por aqui. Para reforçar os laços econômicos entre os dois países, foi criado um fórum empresarial, que terá sua primeira reunião na Confederação Nacional da Indústria (CNI), na quinta-feira. São esperados 80 altos executivos de empresas francesas.

A agenda da visita de Hollande está recheada de outros pontos importantes, como um acordo entre Thales e Visiona (uma sociedade entre Embraer e Telebras), para a transferência de tecnologia no desenvolvimento de satélites. A Thales venceu um processo de seleção para o primeiro satélite geoestacionário, que terá fins de comunicação estratégica na área de defesa e poderá prover serviço de internet rápida em comunidades rurais, onde o Plano Nacional de Banda Larga tem dificuldade de chegar.

O presidente francês também renovará a proposta de venda de 36 caças da Dassault para o projeto FX-2. "A França vai reafirmar que se trata de uma boa oferta, mas não cabe nenhuma pressão."

No campo político, Hollande deverá reiterar o apoio da França ao Brasil para um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, caso haja uma reforma no organismo. Também pretende justificar a recente intervenção militar no Mali, criticada por Dilma, e defender a necessidade de uma ação imediata também na República Centro-Africana.

Na sexta-feira, Hollande se encontrará com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), mas não pretende entrar em conversas sobre o suposto cartel do qual a Alstom fazia parte para licitações no metrô de São Paulo.

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