O preço das ações da Petrobras caiu cerca de 10% ontem, um massacre.
Caiu assim porque, na prática, o governo reafirmou que a empresa mais
relevante do Brasil serve de instrumento de política econômica, política
de resto ruim.
Na sexta-feira, o governo decretou o reajuste de 4% do preço da
gasolina. Isto é, a Petrobras ainda vai continuar a vender combustível a
um preço abaixo do custo.
Tal sangria vai prosseguir porque o governo quer na prática maquiar a
taxa de inflação: quer impedir que o IPCA deste ano seja maior que o de
2012, 5,84%, e não, sei lá, 5,98% ou 6,03%.
Não faz diferença, no que diz respeito à política econômica; o povo vai ignorar o "sucesso" de conter centésimos de inflação.
Qualquer cidadão que acompanha o noticiário econômico elementar sabe que
a inflação apenas não superou o teto da meta (6,5% ao ano) porque os
preços controlados pelo governo estão reprimidos.
Em suma, o governo não vai enganar ninguém. Pior, cria ainda mais problemas. A história toda não faz sentido algum.
Além de decretar um reajuste insuficiente, o governo na melhor das
hipóteses não deu pista alguma de como vai ser a política de preços e de
como vai evitar que, faturando menos, a Petrobras se endivide ainda
mais ao fazer os investimentos necessários (aliás, a empresa já está
perto de seus limites).
Ou seja, o governo desacredita ainda mais sua política econômica (contém
preços com tabelamentos mal disfarçados), arrebenta uma empresa gigante
e crucial para o país e na esteira disso causa distorções em outros
setores da economia, como a indústria sucroalcooleira, para citar um
apenas.
O governo além do mais estoca problemas para o ano que vem. Há risco
razoável de disparadas do dólar em 2014, devido a mudanças na economia
americana (e à eleição no Brasil). Dólar caro e combustível barato
arrebentam ainda mais a Petrobras. Dilma Rousseff está dando chance para
o azar.
Ontem foi dia de alta do dólar e de juros no Brasil, pois os juros na
praça do mercado americano subiram. Desde junho temos vistos esses
ensaios do que pode acontecer em 2014. O tumulto não está maior devido
às intervenções do Banco Central, as quais acalmaram um pouco as coisas
entre o final de agosto e o final de outubro.
Mas desde então os tremeliques no mercado voltaram, mesmo com a oferta de dólares do BC.
Há quem diga que juros bem mais altos no Brasil tendem a compensar parte
da propensão à fuga de dólares quando os juros subirem mais nos EUA.
Quem sabe. Mas não é razoável pagar para ver.
O Brasil está angariando má fama (risco de fazer investidor perder
dinheiro) por causa da inflação persistente, da piora nas contas do
governo e do deficit externo em alta ruim (fermentos de desvalorização
do real).
É muito difícil atribuir a notícias pontuais sobre esses indicadores os
pulos do dólar, muito associados na verdade aos pulinhos dos juros nos
EUA. Porém, se e quando a temperatura americana aumentar, o caldo vai
entornar aos montes por aqui devido também ao mau estado geral da
economia.
Vinicius Torres Freire está na Folha desde 1991. Foi
secretário de Redação, editor de 'Dinheiro', 'Opinião', 'Ciência',
'Educação' e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas
políticos e econômicos. Escreve de terça a sexta e aos domingos
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