O
Brasil era importador de alimentos até os anos 70. Hoje é um dos
celeiros do mundo. O gatilho das transformações das últimas duas décadas
ajuda a explicar não só o que ocorreu na agricultura, mas também o que
não ocorreu na indústria.
“Até
1990, o Brasil era um país comercialmente isolado do mundo e com
políticas paternalistas para a agricultura”, recorda Roberto Rodrigues.
“O Plano Collor deu o primeiro golpe”, diz ele, com o descasamento entre
índices, que pôs fim aos juros negativos para o crédito agrícola; a
abertura comercial e o fim dos órgãos que controlavam a produção e o
comércio, como os institutos do Açúcar e do Álcool (IAC) e Brasileiro do
Café (IBC).
“Toda a
produção e exportação dos produtos da cana de açúcar eram reguladas pelo
IAC”, recorda Pedro Camargo. “Havia cotas para cada produtor, que
precisava de autorização para ampliar sua usina – um sistema cubano.” Só
era permitida a exportação do açúcar do Nordeste. Collor extinguiu o
IAC e São Paulo tornou-se o maior exportador de açúcar do mundo.
Na pecuária,
por causa de doenças, o Brasil não exportava carne bovina, e vendia
pequena quantidade de aves, lembra o empresário. “Quando um setor atende
apenas o mercado interno, seu crescimento está condicionado ao aumento
da população ou do poder aquisitivo.”
“O Plano
Real deu o golpe final”, continua Rodrigues. “Os preços agrícolas caíram
20% e as dívidas, corrigidas pela TR, duplicaram de um ano para o
outro. Quem tinha crédito rural quebrou. Além disso, mais da metade da
renda rural vinha do overnight (os juros pagos pelos bancos, na esteira
da superinflação).” Hoje, os produtores estão capitalizados: 40% da
safra tem financiamento próprio.
“A
liberalização comercial diminuiu os impostos sobre fertilizantes
importados”, diz Camargo. “E os choques de liberalização provocam
investimento em tecnologia.” Os planos Collor e Real fizeram uma
“tríplice colisão”, resume Rodrigues: comércio, inflação e políticas
públicas.
Mais
adiante, em 1996, a Lei Kandir retirou o ICMS sobre produtos agrícolas
exportados, os únicos que pagavam esse imposto. “O setor não precisou de
ajuda”, constata Camargo. “Foi só o Brasil deixar de ser antiagrícola.”
Fonte: Portal do Agronegócio
Nenhum comentário:
Postar um comentário