DENISE LUNA
DO RIO
DO RIO
Ex-diretores da Petrobras, representantes de entidades do setor de
petróleo e o diretor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa se reuniram hoje
no Centro do Rio, no Clube de Engenharia, para comemorar os 60 anos da
empresa e protestar contra o primeiro leilão do pré-sal, o campo de
Libra, previsto para 21 de outubro.
O ex-diretor de Exploração e Produção, Guilherme Estrella, disse em seu
discurso que Libra, na bacia de Santos, é a maior descoberta do país, e
por isso seria mais seguro preservar o petróleo para o Brasil.
"Do ponto de vista geopolítico seria interessante a Petrobras não ter
sócios, ainda que sejam países amigos. Minhas esperança é de que a
presidente da República, que é uma nacionalista, abra a discussão sobre
Libra com a sociedade", afirmou.
Ele traçou um paralelo com outra experiência vivida pela estatal, na
década de 1970, no Iraque, quando teve que devolver um campo (Majnoon)
por ter sido a maior descoberta feita até aquele momento no país. "Não
houve problema, fomos indenizados e saímos", explicou.
O campo de Libra foi descoberto pela Petrobras em 2010, por contrato com
a ANP (Agência Nacional do Petróleo), que contratou a estatal para
encontrar reservas que poderiam ser usadas em troca de ações da
companhia, a chamada cessão onerosa. Libra possui entre 8 e 12 bilhões
de barris em reservas recuperáveis, segundo a ANP. Estão inscritas 11
empresas para o leilão de outubro, a maioria asiáticas, sendo três
chinesas.
O bônus de assinatura foi estipulado em R$ 15 bilhões e vencerá o leilão
quem oferecer o maior percentual de lucro-óleo (produção menos os
custos) para a União.
De acordo com Ildo Sauer, ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras, a
venda de Libra fragiliza a situação do país do ponto de vista
estratégico e empresarial. Ele quer o cancelamento imediato do certame e
vai amanhã à Brasília se reunir com parlamentares que também querem
suspender o leilão, como Roberto Requião (PMDB-PR), Pedro Simon
(PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). Ações na Justiça também estão
sendo preparadas, segundo Sauer.
"Em qualquer lugar do mundo, quando se descobre uma nova província se
concluiu o processo exploratório antes, para saber quanto se tem de
reservas. Não saber ao certo quantos barris tem Libra é uma vergonha",
declarou, sobre a diferença de 400 bilhões de barris da estimativa da
ANP.
"Ninguém vende um conjunto de fazendas cheias de bois sem contar os
bois. De 8 a 12 bilhões (de barris) é 50% de erro. 400 bilhões de barris
valem US$ 300 bilhões. Como vai deixar no ar uma dúvida de US$ 300
bilhões num país miserável como o nosso?", perguntou.
Para o diretor da Coppe/UFRJ, o físico Luiz Pinguelli Rosa, Libra é um
ativo grande demais para ser vendido em leilão. Ele lembra que as
reservas brasileiras atualmente são de 15 bilhões de barris, e o campo
quase dobraria esse volume.
"Não há necessidade, a não ser por um critério de atração de dólares
externos, o que não tem nada a ver com a política de petróleo", disse,
referindo-se à necessidade do governo de fechar o ano dentro da meta do
superávit primário.
"É muito petróleo de uma vez só, ainda mais para dar para os chineses,
isso vai para o governo chinês. Os chineses são duros nas questões
comerciais, eles jogam no interesse deles, eles são uma espécie de
americanos soft", avaliou.
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