O design mora ao lado
Com projetos arrojados e parcerias internacionais, edifícios da incorporadora Idea!Zarvos mudam a paisagem de São Paulo
Por Fabiano MAZZEI
Em meados de agosto, durante a assembleia de moradores do
Edifício 360° – prédio de luxo na zona oeste de São Paulo –, uma
acirrada votação decidiu proibir o uso de janelas de vidro para fechar
as varandas dos apartamentos. Vencedores por 21 a 17 votos, os
condôminos contrários à reforma detinham um argumento sólido. O que eles
defendiam? O design. O projeto assinado pelo festejado arquiteto Isay
Weinfeld ganhou importantes prêmios internacionais exatamente pelo
desenho diferenciado de sua estrutura, com 22 andares de “caixas”
sobrepostas e varandas que conferem profundidade e circulação de ar ao
prédio. Fechá-las, portanto, seria uma atitude não só antiestética, como
antifuncional.
Escritório cool: empreendimento na João Moura 1.144, na zona oeste de São Paulo,
tem salas comerciais com terraços para reuniões de negócios ao ar livre
O caso do 360° reflete a importância que o design tem adquirido no
perfil de consumo de imóveis de alta renda em São Paulo. Mais do que o
número de suítes ou da metragem, clientes de alto poder aquisitivo
buscam projetos assinados por arquitetos de renome, como Weinfeld, na
hora da compra. Esses novos empreendimentos têm mudado o skyline da
cidade, sobretudo na Vila Madalena, bairro de artistas e da boemia
paulistana. Detalhe: por trás desses projetos tão transformadores, surge
invariavelmente um mesmo responsável: o da incorporadora
Idea!Zarvos. Criada em 2004, a empresa tem sido uma das principais
responsáveis por sofisticar o bairro, onde seis prédios já foram
entregues e outros nove estão em fase final de construção.
Em comum, eles foram concebidos por estrelas do design e causam uma
sensível alteração no visual urbanístico, atraindo um novo perfil de
morador. “São pessoas que estão no topo da pirâmide cultural”, diz
Otávio Zarvos, 46 anos, fundador da Idea!Zarvos. “Não se trata apenas de
ter dinheiro.” Segundo ele, seu cliente é alguém com referências de
arquitetura que naufragou no mar de edifícios neoclássicos que inundou a
cidade de São Paulo. “Fazia mais de 60 anos que não surgia nada de
qualidade”, lamenta o empresário, que cita Artacho Jurado, icônico
arquiteto dos anos 1950, como o último suspiro do design residencial na
metrópole. Neste cenário, a Idea!Zarvos nada de braçada. Em 2012, o
valor geral de vendas (VGV) foi de R$ 635 milhões.
Otávio Zarvos, fundador da incorporadora Idea!Zarvos, responsável
por dar um toque de design ao skyline da cidade
Neste ano, devido a atrasos nas tramitações burocráticas junto à
prefeitura paulistana, o faturamento ficará na casa dos R$ 330 milhões,
com oito prédios inaugurados até dezembro. A queda, garante Zarvos, não o
preocupa. “Nosso negócio é fazer empreendimentos bons para quem compra e
para a cidade”, afirma. “E se precisarmos diminuir de tamanho para
isso, o faremos.” Caça às trufas O segredo do sucesso da companhia é uma
combinação de análise técnica, olhar urbanístico e um certo feeling.
Mas a tarefa não é fácil. Detectar bairros com potencial de negócio não
depende apenas da oferta de terrenos. Zarvos afirma que São Paulo é
grande em extensão, mas reduzida a “ilhas” com fronteiras sociológicas.
“Quem mora no Tatuapé, por exemplo, não se mudaria para viver em
Pinheiros, e vice-versa”, diz.
Para ele, as tribos paulistanas demarcaram seus territórios e não
estão dispostas a repensar os limites criados. Com isso, pesquisas de
mercado servem como bússola para sair a campo. O próprio CEO e seu staff
participam da avaliação do lugar pretendido. “Ando a pé mesmo, em
diferentes horários e dias da semana”, diz. O empresário compara o
exercício à caça às trufas italianas. “É preciso bom faro para
encontrá-las, e uma técnica apurada para tirá-las debaixo da terra.” Só
depois de efetuado o cruzamento das informações com essas sensações
obtidas in loco é que se dá início a uma espécie de blitz, a partir da
qual a incorporadora adquire vários terrenos de uma vez. É o que está
acontecendo neste momento com a Vila Ipojuca, nas cercanias da Vila
Madalena.
Defesa da identidade: Isay Weinfeld, o arquiteto que assina o Edifício 360º, protestou
contra a polêmica proposta de fechamento das varandas do prédio
O CEP possui características ideais para que seja considerado um
bom negócio: fica perto dos serviços do vizinho famoso e conta com boa
oferta de terrenos ainda não hiperinflacionados pela especulação
imobiliária. Por lá, a empresa está construindo, neste ano, a primeira
de quatro torres do empreendimento Sage. Quem assina a estreia no
bairro, já em outubro, é o escritório de arquitetura b720, do espanhol
Fermín Vásquez (leia quadro na página 78). Celebrado no mundo todo, ele
assina obras como a Torre Agbar, em Barcelona. Bem menos pretensioso, o
Sage terá como novidade sua relação com a vizinhança, dominada por casas
antigas. “Serão prédios mais baixos e com vãos, para o ar circular
melhor pelo quarteirão”, diz Zarvos.
Além disso, uma espécie de centro comunitário da Idea! será erguido
no bairro para que os moradores, sejam dos prédios ou não, se
relacionem durante as aulas de culinária na cozinha experimental ou em
palestras. As unidades do Sage, com 150 m² de área, custarão R$ 1,5
milhão. Outro empreendimento da companhia que pensou no impacto ao seu
entorno é o Edifício Azul, de Weinfeld. Ele será erguido bem no meio de
um terreno entre duas ruas da Vila Madalena. Nos fundos, uma área para
três lojas. Na entrada, ao invés de uma portaria comum, uma passarela na
cor azul, pavimentada por entre as residências existentes, dará uma
identidade especial ao endereço. “Os visitantes encontrarão uma
passarela e saberão que ali mora uma pessoa diferente.”
Satisfação e urbanismo: Arruda Botelho gosta de receber elogios pelo apartamento no 4x4.
Abaixo, a passarela do Edifício Azul vai interagir com o bairro e seus pedestres
O escrevente José Carlos de Arruda Botelho Filho, 47 anos, conhece
bem essa sensação. Ele mora no Edifício 4x4, um dos primeiros feitos
pela Idea!Zarvos, e diz que gosta de ser reconhecido pelo lugar que
escolheu para viver. “Além de ter sido um bom negócio, há uma satisfação
pessoal grande”, diz Arruda Botelho, que comprou o imóvel de 124 m², há
quatro anos, por R$ 480 mil. Hoje vale R$ 1,5 milhão. “Essa é outra
vantagem”, diz Zarvos. Como são prédios únicos, a valorização é maior. O
360° é um exemplo. Lançado em 2009 com o metro quadrado a R$ 5 mil,
agora, já com o prédio entregue, a mesma medida vale R$ 11 mil. Ou seja,
cerca de 120% a mais do que o que foi pago por unidades que variavam
entre 130 m² e 250 m².
Foi por preservar esta identidade que a disputa entre os moradores
do 360° foi simbólica. Mais do que uma rusga entre ricos em uma Torre de
Babel estilosa, ela confirmou a visão de que o design entrega valor
agregado a uma obra arquitetônica. E vilipendiar isso é perder dinheiro.
“Eu mesmo mandei uma carta pessoal ao condomínio pedindo pela proibição
do fechamento das varandas”, diz Zarvos. Não que ele seja contra o uso
mais social do espaço. Um dos projetos da incorporadora para 2014, em
Perdizes, contemplará aqueles que gostam de fazer churrasco no terraço
de seu apartamento. “Se tiver a ver com a arquitetura do prédio, por que
não, já que esse é um hábito bem paulistano?”, indaga ele. “Ficaria
muito feliz em ver um prédio meu onde os moradores estivessem curtindo o
dia na piscina no meio da varanda”, afirma.
“O centro de são Paulo é uma lástima”
Autor da Torre de Agbar, em Barcelona, e com dez projetos
no País – entre eles a revitalização do porto do rio Guaíba, em Porto
Alegre –, o arquiteto espanhol Fermín Vásquez, 52 anos, lamenta a má
conservação do centro de São Paulo
Conhece a arquitetura nacional?
Quando eu era estudante, passava horas admirando as obras dos
arquitetos modernos brasileiros, em especial as de Oscar Niemeyer. A
arquitetura brasileira moderna me encanta e influencia não só a mim, mas
a muitos arquitetos pelo mundo.
Por que a preocupação com o bairro no entorno do projeto Sage?
Quisemos falar a mesma língua do bairro, a Vila Ipojuca. Ele foi
loteado em terrenos estreitos, mas compridos, e usamos essa mesma trama.
Nos inspiramos nas pessoas que vivem ali, não se trata de um projeto
feito por computador onde só a praticidade é o que conta.
O sr. gosta da arquitetura dos prédios paulistanos?
São Paulo, na minha opinião, é a capital da América Latina. A
arquitetura paulistana tem semelhanças com a das metrópoles americanas,
na verticalização e extensão. O centro da cidade de São Paulo tem uma
beleza muito particular e é uma lástima que se encontre da maneira que
está. Deveria ocorrer uma recuperação do centro histórico da cidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário